Declarações sobre economia da Grécia subestimam degradação do quadro político do país
![Diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde extrapolou ao generalizar recado aos gregos - Pablo Martinez Monsivais/AP](https://conteudo.imguol.com.br/2012/04/18/christine-lagarde-diretora-do-fmi-1334755199795_300x300.jpg)
As declarações de Christine Lagarde, conclamando os gregos “a começar a se ajudar coletivamente... pagando seus impostos” suscitaram reações iradas na Grécia e muitas críticas na França. Na circunstância, a diretora do FMI retomou um bordão repetido por muitos outros europeus, principalmente no país mais rico e mais influente da União Europeia.
Assim, no dia seguinte às declarações de Lagarde, o ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich, referindo-se também à Grécia, disse: “O país que quiser nossa ajuda e solidariedade tem de aceitar que nós esperamos [dele] uma certa seriedade e razoabilidade”. A revista semanal alemã “Spiegel”, a mais influente do país, publicou essa declaração num parágrafo intitulado “A Alemanha está perdendo a paciência”.
Christine Lagarde extrapolou ao generalizar seu recado. Decerto, há sonegadores na Grécia, onde os grandes armadores, donos de uma das maiores frotas mercantes do mundo, e a poderosa Igreja Ortodoxa, segundo maior proprietário fundiário do país, pagam pouco ou nenhum imposto. Também é verdade que nas últimas semanas os gregos, escaldados pela crise e pelos boatos de saída da zona euro, têm atrasado seus pagamentos à Receita grega.
No entanto, Jacques Sapir, um conhecido economista francês próximo da Front de Gauche de Jean-Luc Mélenchon (que reúne a extrema-esquerda e os ex-comunistas franceses), publicou um estudo na revista semanal “Marianne”, demonstrando as inexatidões dos lugares comuns sobre a crise grega. Para ele, apesar de existirem distorções no sistema tributário, a maioria dos gregos paga regularmente seus impostos, cujo valor global gira em torno de 40% do PIB do país. Nesta análise, o essencial do déficit orçamentário da Grécia é causado, sobretudo em 2011, pelo aumento acelerado dos juros da dívida externa.
As declarações de Christine Lagarde e dos dirigentes alemães subestimam outro grave problema, a degradação do quadro político grego. Tradicionalmente comandados por duas oligarquias, a dos Karamanli, que dirigem o partido conservador Nova Democracia, e a dos Papandreou, do Movimento Socialista Pan-Helênico, o Pasok, social-democrata, os dois principais partidos políticos se alternavam no governo. Mas os estragos econômicos causados por brutal recessão esgarçaram o tecido social, facilitando a emergência no Parlamento de partidos de extrema-esquerda e de extrema-direita.
Famílias se separam, com muita gente emigrando para outros países europeus e a América do Norte. Outras famílias tomam, literalmente, o caminho da roça, mudando-se para as zonas rurais das ilhas gregas onde passam a viver da agricultura de subsistência e da pesca. Todos os setores econômicos são atingidos pela recessão e, em 2011, 60% das pequenas e médias empresas registraram prejuízos.
Neste contexto, as críticas dos dirigentes estrangeiros sobre a falta de espírito cívico dos gregos suscitam reações nacionalistas que complicam mais ainda a política do país. Nos últimos dias, as sondagens indicam que o Pasok e a Nova Democracia, ambos favoráveis à permanência na zona euro e ao entendimento com a União Europeia, podem obter uma maioria parlamentar nas eleições legislativas do próximo dia 17 de junho. A notícia fez baixar a tensão da crise grega e as bolsas subiram na Europa. Porém, logo em seguida, começaram a surgir informações, difundidas pelo canal de TV americano “CNBC” e retomadas no Twitter do influente economista americano Nouriel Roubini, de que a Grécia deixaria a zona euro no dia 18 junho.
O fato é que as próximas semanas serão decisivas para a Grécia e para o euro. Retomada pelo jornal “Le Monde”, uma notícia da imprensa grega afirma que um estudo do ex-primeiro ministro Lucas Papademos mostra que, a partir de meados de junho, a receita pública grega não conseguirá mais cobrir as despesas do Estado e o funcionamento do sistema financeiro. Ou seja, o país deverá, mais uma vez, recorrer ao Banco Central Europeu.
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