Americanos também espionam a Europa
De início limitado aos Estados Unidos e à China, à Rússia e ao Equador, países situados na rota de fuga de Edward Snowden, que revelou a existência do programa de espionagem PRISM, o escândalo do monitoramento clandestino de informações controlado por Washington atingiu a União Europeia (UE).
Reveladas em reportagem de capa pela revista alemã “Spiegel” e pelo jornal britânico “The Guardian”, as informações de que o programa PRISM também colhia informações das instâncias da UE e de seus países membros, aliados históricos dos Estados Unidos, suscitaram reações imediatas nas capitais europeias.
Segundo a imprensa, além dos órgãos e dos diplomatas da UE, a Alemanha é o país mais vasculhado pela rede de controle clandestino dos Estados Unidos. Em seguida vem a França. Para os americanos, estes dois países pareceriam menos confiáveis do que outros aliados dos Estados Unidos, como o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia.
Dirigindo-se diretamente ao governo americano, o presidente francês, François Hollande, declarou que a França “não pode aceitar este tipo de comportamento entre parceiros e aliados, (por isso) pedimos que tudo isso tenha fim imediatamente”. Por sua vez, a ministra da Justiça da Alemanha, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, disse que “não dá para acreditar que nossos amigos americanos considerem os europeus como inimigos”.
Reunido com Catherine Ashton, a chefe da diplomacia europeia, no meio de uma conferência internacional em Brunei (um pequeno sultanato situado na Malásia Oriental), o secretário de Estado americano, John Kerry, tergiversou, alegando que muitos países também possuem sistemas de escuta similares ao programa americano PRISM. Em visita oficial à Tanzânia, o presidente Obama também contornou o assunto dizendo que os Europeus são alguns dos “aliados mais próximos” Estados Unidos.
Note-se , que o escândalo ocorre no momento em que se intensificam as negociações a respeito do grande tratado transatlântico que deve unir mais estreitamente os serviços e economia dos Estados Unidos e da UE. Por isso, talvez, a advertência mais pesada a Washington tenha vindo de Viviane Reding, a comissária da Justiça da UE: “Entre parceiros, não pode haver espionagem... Nós não podemos negociar o grande mercado transatlântico se houver a menor dúvida de que nossos parceiros (americanos) dirigem suas escutas (clandestinas) para os escritórios dos negociadores europeus”.
Tanto os Estados Unidos como a UE contam muito com a assinatura desse tratado que beneficiará amplamente os dois lados do Atlântico Norte, mas que contam com muitas oposições setoriais na América do Norte e na Europa. A denúncia sobre a espionagem americana, certamente aumentará a resistência dos partidos nacionalistas europeus a uma maior aproximação com os Estados Unidos.
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