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A espionagem americana na França

21/10/2013 16h41Atualizada em 21/10/2013 19h59

O escândalo da espionagem planetária organizada pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) bateu em cheio na França.

Na realidade, como foi notado nesta coluna, a França já havia sido apontada como um dos alvos prioritários da NSA. Reagindo à notícia no dia 30 de junho, o presidente Hollande declarou que seu país não podia “aceitar este tipo de comportamento entre parceiros e aliados”. Depois disso, o governo francês não voltou mais ao assunto e nada mais lhe foi perguntado.

Entretanto, o jornal "Le Monde" foi atrás das informações sigilosas coletadas por Edward Snowden. Trabalhando junto com o jornalista americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro, os jornalistas do "Le Monde" puderam analisar e publicar os dados que enchem as manchetes do jornal e repercutem no mundo inteiro neste começo de semana.

Num editorial, a diretora do jornal, Natalie Nougayrède, explica que uma dezena de jornalistas do "Le Monde" trabalharam desde o mês de agôsto com Greenwald e checaram em seguida os dados na França.

Logo nas primeiras linhas da reportagem principal sobre a matéria, o jornal questiona as razões que levaram o governo da França a permanecer “tão discreto” a respeito da espionagem americana denunciada em junho.

De todo modo, o tema tornou-se agora incontornável. As evidências da espionagem são robustas e convincentes. Desta vez o assunto escapou ao controle e à discrição dos diplomatas.

O noticiário dos jornais sobre a espionagem foi abundantemente comentado por internautas franceses indignados e ofendidos. Poucas horas depois de a edição online do "Le Monde" estampar a denúncia, Laurent Fabius, o chanceler da França, convocou o embaixador americano em Paris para pedir explicações e conta encontrar-se brevemente com o Secretário de Estado John Kerry para exprimir a mesma cobrança do governo francês.

O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault declarou-se “profundamente chocado” com a espionagem generalizada americana na França. O tema ganhou mais densidade no final do dia quando foi anunciado que o presidente Hollande pedirá iniciativas legais da União Européia sobre “a questão dos dados pessoais” submetidos à espionagem.

Mais incisiva, a Federação Internacional das ligas de direitos humanos, sediada na França, estigmatizou “ a pusilanimidade das autoridades francesas, que minimizaram as investigações e fazem crer que só descobriram agora as manobras das autoridades americanas”.