Medicina e saúde pública são atividades em extinção?
A reportagem de capa da revista Economist deste fim de semana (01/02) trata da nova empresa que três pesos pesados da economia americana - Amazon, Berkshire Hathaway e JP Morgan - vão criar para assegurar o tratamento médico de seus empregados. A reportagem aborda os diferentes diagnósticos e doenças que poderão ser monitoradas e tratadas via internet e aplicativos de smartphone. Exame de câncer de pele, lesão na retina, comoção cerebral e doença de Parkinson, análise de arritmias de risco cardíaco e do suor para substituir os invasivos testes sanguíneos, são algumas das inovações ao alcance das novas ferramentas informáticas.
O tratamento da diabete e de outras doenças de monitoramento complexo poderão ser melhorados com aplicativos adequados. Sobretudo, a concentração de diagnósticos e de tratamentos médicos em grandes bancos de dados poderá estender e aprofundar os conhecimentos em benefício dos pacientes. Aqui, tudo depende da possibilidade de acesso ao histórico da ficha médica dos pacientes e das salvaguardas técnicas e legais para preservar a privacidade de cada um. De todo modo, a Suécia avançou muito neste terreno, prevendo que todos os seus cidadãos terão acesso online à sua ficha médica a partir de 2020. Concluindo, a Economist, escreve: você será seu próprio médico.
Porém, os aplicativos são essencialmente ferramentas preventivas e curativas que podem aliviar, mas não substituir a rede médico-hospitalar. A prova da adesão popular a um serviço eficaz de saúde pública foi dada nas ruas de Londres, na mesma semana da reportagem da Economist.
Inquietos com a falta de verbas governamentais e com a piora dos serviços do National Health Service (NHS), manifestantes desfilaram em Londres e outras cidades inglesas em defesa da saúde pública. Numa demonstração patente de má fé, Donald Trump alegou que os ingleses protestavam contra o NHS e aproveitou para renovar seus ataques ao Obamacare e ao limitado setor de saúde pública americano.
A reação do governo e da mídia britânica foi imediata e inequívoca na defesa e dos elogios ao NHS. Jeremy Hunt, o ministro da Saúde do governo conservador foi o mais duro: "posso até discordar dos protestos dos manifestantes, mas nenhum deles gostaria de viver num sistema (como o americano) que deixa 28 milhões de pessoas sem cobertura (médica). O NHS enfrenta desafios, mas eu tenho orgulho de ser do país que inventou a cobertura geral em que todos podem ser tratados, independentemente do montante de sua conta bancária".
Criado em 1947 pelo governo trabalhista de Clement Attlee, e por um de seus mais destacados membros socialistas, o ministro da Saúde Aneurin Bevan, o NHS, apesar de suas dificuldades, é um dos orgulhos da maioria britânicos, como salientou o ministro conservador Jeremy Hunt. Embalada pelo seu programa de privatização, Margaret Thatcher tentou, em 1982, desmontar o NHS em favor de serviços de saúde privados. Recuou, quando viu que provocaria uma "insurreição" em seu governo e em seu partido.
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