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O acordo de refém de Obama

Paul Krugman

11/12/2010 07h24

Eu passei os últimos dois dias tentando aceitar o acordo Obama-McConnell para redução de impostos. Afinal, o presidente Barack Obama obteve mais concessões do que a maioria de nós esperava.

Mas eu continuo profundamente desconfortável –não por ser um dos “puristas” que Obama condenou na terça-feira, mas porque este não é o fim da história. Especificamente: Obama comprou a libertação de alguns reféns, apenas fornecendo novos reféns aos republicanos.

Sobre o acordo: os republicanos conseguiram o que queriam –uma prorrogação de todos os cortes de impostos de Bush, incluindo aqueles voltados para os ricos. Esta parte do acordo é totalmente ruim. Sim, parte desses cortes de impostos vão ser gastos, estimulando até certo ponto a economia. Mas grande parte dos cortes de impostos, especialmente os voltados para os ricos, não seria gasto, de modo que sua prorrogação aumenta o déficit orçamentário, mas faz pouco para reduzir o desemprego.

E mantê-los aumenta as chances dos cortes de impostos de Bush se tornarem permanentes, com efeitos devastadores sobre o orçamento e as perspectivas a longo prazo para o Seguro Social e o Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos).

Em troca de toda essa coisa ruim, Obama obteve uma quantia significativa de estímulo a curto prazo. Os benefícios para os desempregados foram prorrogados; os impostos na folha de pagamento foram temporariamente cortados; e há incentivos fiscais para investimentos. Mas realmente chegamos ao ponto em que os democratas precisam implorar aos republicanos para aceitarem impostos mais baixos para empresas?

Fora os benefícios aos desempregados, esta não é a melhor política: os consumidores provavelmente gastarão apenas parte dos impostos não recolhidos na fonte, e não está claro se os incentivos fiscais para as empresas estimularão o investimento, dado o excesso de capacidade na economia. Ainda assim, para a economia o resultado será positivo no próximo ano.

Mas as coisas ruins no acordo duram dois anos, as não tão ruins expiram no final de 2011. Isso significa que estamos falando de um estímulo ao crescimento no próximo ano –mas um crescimento em 2012 que será menor do que provavelmente seria na ausência do acordo.

Isso tem grandes implicações políticas. Os cientistas políticos nos dizem que a votação é afetada mais fortemente pela direção da economia no ano ou menos que precede uma eleição do que em quão bem o país está de um modo absoluto.

Quando Ronald Reagan disputou a reeleição em 1984, a taxa de desemprego era quase exatamente a mesma que antes da eleição de 1980 –mas como a tendência econômica em 1980 era de baixa enquanto a tendência em 1984 era de alta, a taxa de desemprego que significou a derrota de Jimmy Carter virou uma vitória esmagadora de Reagan.

Esta realidade política faz o acordo de impostos parecer um mau negócio para os democratas. Pense desta forma: o acordo basicamente prepara 2011-2012 para ser uma repetição de 2009-2010. De novo, haveria os benefícios iniciais do estímulo, um crescimento descente um ano antes da eleição. Mas assim que o estímulo acabar, o crescimento tenderá a estagnar –e essa estagnação ocorreria novamente meses antes da eleição, com consequências seriamente negativas para Obama e seu partido.

Você poderia dizer que a política econômica não deveria ser afetada por considerações partidárias. Mas mesmo se você acreditar nisso –como está o tempo em seu planeta?– é preciso considerar a situação que provavelmente predominará daqui um ano, à medida que as partes boas do acordo Obama-McConnell estiverem prestes a expirar. Não haveria pressão sobre os democratas para oferecerem algo aos republicanos, qualquer coisa, para melhorar as perspectivas econômicas para 2012? E isso não seria uma receita para outro acordo ruim?

Certamente, a resposta para ambas as perguntas é sim. E isso significa que Obama está, como eu disse, pagando pela libertação de alguns reféns –obtendo uma prorrogação dos benefícios aos desempregados e um pouco mais de estímulo– dando aos republicanos novos reféns, que poderiam ser usados para fazer novas exigências destrutivas daqui um ano.

Uma grande preocupação: os republicanos podem tentar usar a perspectiva de um aumento nos impostos na folha de pagamento para minar as finanças do Seguro Social.

O que me leva de volta à coletiva de imprensa de Obama, onde –demonstrando muito mais paixão do que parece capaz de exibir contra os republicanos– ele condenou os puristas na esquerda, que supostamente se recusam a aceitar concessões no interesse nacional.

Bem, as preocupações com o acordo de impostos refletem realismo, não purismo: Obama está armando outra situação de refém daqui um ano. E dado isso, a última coisa de que precisamos é o tipo de comportamento autoindulgente que ele demonstrou ao atacar os progressistas, que ele sente que não lhe estão dando crédito suficiente.

O ponto é que ao parecer mais bravo com simpatizantes preocupados do que contra os sequestradores, Obama já está sinalizando fraqueza, dando aos republicanos todo motivo para acreditar que podem extrair outro resgate.

E pode ter certeza que eles agirão de acordo.