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As ambições pós-políticas de Sarkozy

Nicolas Sarkozy, ex-presidente francês , discursa a militantes em Elancourt, cidade próxiam a Paris, durante campanha para reeleição, no ano passado. Ele acabou derrotado pelo atual presidente François Hollande - Philippe Wojazer/Reuters
Nicolas Sarkozy, ex-presidente francês , discursa a militantes em Elancourt, cidade próxiam a Paris, durante campanha para reeleição, no ano passado. Ele acabou derrotado pelo atual presidente François Hollande Imagem: Philippe Wojazer/Reuters

Paul Krugman

14/04/2013 00h01

Algum tempo atrás, antes de se mudar para a "Slate", o comentarista Matthew Yglesias teve o que considerei um entendimento brilhante dos incentivos diante de líderes políticos de países pequenos.

"Normalmente você pensaria que a melhor opção de um primeiro-ministro nacional seria tentar fazer as coisas que provavelmente o reelegeriam", ele escreveu em um artigo para o blog "Think Progress" em 2011. "Mas na era da globalização e da "UEuropeização" [referência à União Europeia], eu acho que os líderes dos países pequenos estão na verdade em uma situação um tanto diferente. Se você deixar o cargo em alta estima junto ao pessoal de Davos, haverá muitos cargos na Comissão Europeia, no FMI ou outros semelhantes para os quais você seria elegível, mesmo que você seja absolutamente desprezado pelos seus conterrâneos. Na verdade, de certo modo ser absolutamente desprezado seria um ponto a favor."

Quão pequeno teria que ser o país em questão? Talvez não muito. Veja o artigo intitulado "A Estrada de Nicolas Sarkozy do Eliseu à Empresa Privada", publicado pelo "Financial Times" em 28 de março. Na verdade, os planos de Sarkozy para ganhar dinheiro podem estar suspensos devido a uma estranha combinação de problemas legais e a possibilidade de um retorno político, graças à timidez do presidente François Hollande.

Mas permanece verdadeiro que a máxima de John Maynard Keynes – "A sabedoria mundana ensina que é melhor para a reputação falhar convencionalmente do que ter sucesso anticonvencionalmente"– é provavelmente ainda mais verdadeira para os políticos do que para os banqueiros. E isso provavelmente ajuda a explicar a persistência do culto à austeridade apesar de anos de fracasso.

Pessoas muito "ernstig"

O "Financial Times" noticiou recentemente sobre a vida solitária de um cético da austeridade: segundo um artigo publicado em 31 de março: "(O Birô de Planejamento Central de) Coen Teulings soltou um relatório em março acusando os políticos holandeses de ignorar um consenso entre os macroeconomistas de que a redução do déficit causa muito mais dano econômico do que o habitual durante as chamadas 'recessões no balancete', como a atual. Essas contrações são movidas por consumidores e empresas tentando pagar endividamentos pesados, deixando o governo como o único agente na economia ainda capaz de gastar".

Ele prosseguiu: "Teulings não é o único economista na Holanda cético em relação à austeridade, mas é o único com alguma influência nas políticas. Proeminentes céticos da austeridade nas universidades e nos grandes bancos dizem que foram excluídos não apenas dos órgãos autores de políticas do governo, mas também dos conselhos dos partidos políticos tanto da direita quanto da esquerda".

Apesar de escrever sobre todas essas coisas há anos, eu ainda fico pasmo não apenas pela forma como os autores de políticas descartam a macroeconomia básica, mas com a absoluta unanimidade de sua opção pela austeridade. Afinal, os críticos não são exatamente invisíveis ou inaudíveis; como qualquer pessoa séria pode estar tão certa que proeminentes macroeconomistas estão todos errados e burocratas sem nenhum retrospecto de previsão estão certos?