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Os velhotes estão bem

Paul Krugman

04/06/2013 15h10

No mês passado, o Departamento de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos divulgou suas tão esperadas projeções para a dívida e os déficits – e ouviram-se gritos de lamentação dos críticos do déficit que, até o momento, tiveram tanta influência em nossos discursos relacionados à política econômica.

Bem, o problema, veja você, é que os números do Departamento de Orçamento estão OK: os déficits estão caindo rapidamente e o coeficiente da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) deverá se manter mais ou menos estável ao longo da próxima década. Obviamente seria bom se, no futuro, nós conseguíssemos realmente reduzir a dívida. Mas se você construiu sua carreira proclamando a desgraça fiscal iminente, esse definitivamente não é o relatório que você gostaria de ler.

Mesmo assim, sempre podemos contar com os baby boomers para fomentar o desastre, não podemos? Não é verdade que a crescente maré de aposentados significará o fim da Previdência Social norte-americana e do Medicare (sistema federal de seguro saúde dos EUA para pessoas com mais de 65 anos) se nós não alterarmos radicalmente esses sistemas de assistência neste exato minuto?

Talvez não.

Para ser justo, os relatórios divulgados na sexta-feira passada pelo administradores da Previdência Social e do Medicare sugerem que o sistema de benefícios para os aposentados dos Estados Unidos precisa de um ajuste significativo. A relação entre os norte-americanos com mais de 65 anos e os cidadãos em idade produtiva vai crescer inexoravelmente durante as próximas décadas – e isso se traduzirá no aumento das despesas com a Previdência Social e o Medicare como parcela da renda nacional.

Mas os números não são tão assustadores quanto você deve ter imaginado, considerando-se a retórica habitual. E, se você prestar bastante atenção, os dados sugerem que, se assim desejarmos, seremos capazes de manter a previdência social da maneira como a conhecemos fazendo apenas alguns pequenos ajustes.

Comecemos pela Previdência Social. Os administradores do sistema de aposentadorias dos EUA preveem um aumento dos gastos à medida que a população envelhecer, sendo que o total de pagamentos saltará dos atuais 5,1% do PIB para 6,2% em 2035, patamar no qual eles se estabilizarão. Isso significa que toda aquela conversa de que a Previdência Social irá à “falência” é um absurdo. Mesmo que nada seja feito, o sistema será capaz de arcar com a maior parte dos benefícios programados para o futuro distante.

Ainda assim, parece que, no futuro, haverá um déficit, e os suspeitos de costume insistem que precisamos avançar agora para reduzir os benefícios programados. Mas eu nunca compreendi a lógica dessa demanda. O risco é que nós talvez tenhamos, em algum momento no futuro, que cortar benefícios. Para evitar o risco de cortes nos benefícios futuros nós precisamos agir preventivamente e... cortar os benefícios futuros. Que problema, exatamente, estamos tentando solucionar aqui?

E o Medicare? Durante anos, muitas pessoas – eu incluído – têm alertado que o Medicare é um problema muito maior do que a Previdência Social, e o mais recente relatório dos administradores do sistema ainda mostra as despesas aumentando e saltando dos atuais 3,6% do PIB para 5,6% em 2035. Mas esse é um aumento menor do que o das projeções anteriores. Por quê?

A resposta é que a tendência de alta nos custos com a assistência médica no longo prazo – uma tendência que tem afetado igualmente os planos de saúde privados e o Medicare – parece ter se estabilizado significativamente ao longo dos últimos anos. Ninguém sabe ao certo o porquê, mas há indícios de que algumas das medidas de redução de gastos contidas na Affordable Care Act (Lei da Assistência Médica Acessível, também conhecida como Obamacare) estão realmente começando produzir os resultados positivos esperados. E como há uma série de medidas de redução de custos na lei que ainda não começaram a fazer efeito, há vários motivos para acreditarmos que essa tendência favorável vai se manter.

Além disso, há espaço de sobra para realizarmos economias adicionais – mesmo porque uma pesquisa recente confirmou que os norte-americanos pagam muito mais por procedimentos médicos do que os cidadãos de outros países desenvolvidos, e que esse sobrepreço pode e deve ser reduzido – e quando ele recuar, as perspectivas financeiras do Medicare vão melhorar ainda mais.

Então o que estamos vendo aqui? As mais recentes projeções mostram que o custo combinado da Previdência Social e do Medicare aumentará um pouco mais de 3% do PIB entre agora e 2035, e esse número pode facilmente diminuir se houver mais esforços na área da saúde. No entanto, 3% do PIB é um percentual bastante alto – mas não é um percentual que arrasaria a economia. Os Estados Unidos poderiam, por exemplo, compensar totalmente esse desequilíbrio por meio de aumentos de impostos, sem nenhum tipo de redução de benefícios, e ainda ter uma das mais baixas alíquotas de impostos gerais entre os países desenvolvidos.

Mas não é verdade que todos os figurões continuam nos dizendo que a Previdência Social e o Medicare como nós os conhecemos são insustentáveis e que eles devem ser totalmente renovados – e transformados em sistemas muito menos generosos? Sim, é verdade. Mas eles também tem nos dito que precisamos reduzir os gastos imediatamente ou vamos enfrentar uma crise fiscal ao estilo da Grécia. Eles estavam errados sobre isso – e eles também estão errados sobre o longo prazo.

A verdade é que as perspectivas de longo prazo para a Previdência Social e o Medicare, embora não sejam as melhores, realmente não são tão ruins assim. É hora de parar de ficar obcecado pensando em como vamos conseguir pagar os benefícios aos aposentados em 2035 e nos concentrar em como vamos garantir a criação de postos de trabalho para os norte-americanos desempregados do aqui e agora.

Tradução: Cláudia Gonçalves