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Economistas do MIT exercem papel imenso na discussão das políticas ocidentais

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Paul Krugman

25/07/2015 00h04

Adeus, Chicago Boys. Olá, turma do MIT.

Se você não sabe do que estou falando, o termo "Chicago Boys" (garotos de Chicago) foi originalmente cunhado em referência aos economistas latino-americanos, treinados na Universidade de Chicago, que levaram uma ideologia radical de livre mercado aos seus países de origem. A influência desses economistas fez parte de um fenômeno mais amplo: os anos 70 e 80 foram uma era de ascendência de ideias econômicas de laissez-faire e da escola de Chicago, que promovia essas ideias.

Mas isso foi há muito tempo. Agora uma escola diferente está em ascensão, merecidamente.

Na verdade, é surpreendente quão pouca atenção a mídia tem dado ao domínio dos economistas formados pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nas posições e discursos das políticas. Mas é notável. Ben Bernanke (o ex-presidente do Federal Reserve, ou Fed, o banco central americano) tem um PhD pelo MIT; assim como Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, e Olivier Blanchard, o economista-chefe altamente influente do FMI (Fundo Monetário Internacional). Blanchard está se aposentando, mas seu substituto, Maurice Obstfeld, é outro sujeito do MIT –e outro aluno de Stanley Fischer, que lecionou no MIT por muitos anos e agora é vice-presidente do Fed.

Esses são apenas os exemplos mais proeminentes. Os economistas formados pelo MIT, especialmente os PhD dos anos 70, exercem um papel imenso nas instituições de políticas e na discussão das políticas por todo o mundo ocidental. E, sim, eu faço parte da mesma turma.

E o que distingue a economia do MIT e por que importa? Para responder a essa pergunta, é preciso voltar aos anos 70, quando todas as pessoas que citei foram a escola de doutorado.

Na época, a grande questão era a combinação de desemprego elevado com inflação elevada. O surgimento da estagflação foi uma grande vitória para Milton Friedman, que previu exatamente o resultado caso o governo tentasse manter o desemprego baixo demais por tempo demais. Isso foi amplamente visto, de modo acertado ou (em grande parte) errado, como prova de que os mercados agem acertadamente e o governo deve permanecer fora do caminho.

Ou colocando de outra forma, muitos economistas responderam à estagflação dando as costas à economia keynesiana e seu pedido para uma ação do governo no combate à recessão.

No MIT, entretanto, Keynes nunca foi deixado de lado. Com certeza a estagflação mostrou que havia limites para o que uma política pode fazer. Mas os estudantes continuaram aprendendo a respeito das imperfeições dos mercados e sobre o papel da política monetária e da política fiscal no estímulo a uma economia deprimida.

E os alunos do MIT dos anos 70 expandiram esses entendimentos em seus trabalhos posteriores. Blanchard, por exemplo, mostrou como pequenos desvios da racionalidade perfeita podem ter grandes consequências econômicas; Obstfeld mostrou que os mercados de moeda podem às vezes experimentar pânico autorrealizável.

Essa abordagem pragmática, de mente aberta, foi justificada em peso depois da crise de 2008. Os tipos da escola de Chicago alertaram incessantemente que responder à crise imprimindo dinheiro e incorrendo em deficit levaria a uma estagflação como nos anos 70, com alta da inflação e das taxas de juros. Mas os tipos do MIT previram, corretamente, que a inflação e as taxas de juros permaneceriam baixas em uma economia deprimida, e que as tentativas de reduzir os deficits cedo demais aprofundariam a recessão.

A verdade, apesar de ninguém acreditar nela, é que a análise econômica que alguns de nós aprendemos no MIT lá atrás tem funcionado muito, muito bem nos últimos sete anos.

Mas o sucesso intelectual da economia do MIT levou a um sucesso comparável nas políticas? Infelizmente, a resposta é não.

É verdade que ocorreram alguns sucessos monetários importantes. O Fed, liderado por Bernanke, ignorou a pressão e ameaças da direita –Rick Perry, como governador do Texas, chegou até mesmo a acusá-lo de traição– e buscou uma política expansionista agressiva que ajudou a limitar os estragos causados pela crise financeira. Na Europa, o ativismo de Draghi tem sido crucial para acalmar os mercados financeiros, provavelmente salvando o euro do colapso.

Em outras frentes, entretanto, os bons conselhos da turma do MIT são ignorados. O departamento de pesquisa do FMI, sob a liderança de Blanchard, realizou um trabalho com autoridade sobre os efeitos da política fiscal, demonstrando além de qualquer dúvida que a redução dos gastos em uma economia deprimida é um erro terrível, e que as tentativas de reduzir os níveis elevados de dívida por meio de austeridade é uma medida autodestrutiva. Mas mesmo assim os políticos europeus cortaram gastos e exigiram uma austeridade debilitante dos devedores.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, os republicanos responderam ao fracasso completo da ortodoxia de livre mercado e às previsões notavelmente acertadas dos odiados keynesianos cavando ainda mais fundo, determinados a não aprender nada com a experiência.

Em outras palavras, estar correto não necessariamente basta para mudar o mundo. Mas mesmo assim é melhor estar certo do que errado, e a economia ao estilo do MIT, com sua abertura pragmática às evidências, vem demonstrado estar bastante certa.