Topo

Grandes doadores, ricos são a prioridade dos republicanos na redução de impostos

Nancy Wiechec/Reuters
Imagem: Nancy Wiechec/Reuters

02/10/2015 12h07

Então, Donald Trump revelou ao público seu plano fiscal. Ao que parece, envolve cortes enormes e pródigos para os ricos e faz o déficit explodir. 

É um contraste com o plano de Jeb Bush, que daria enormes cortes para os ricos, enquanto faz o déficit explodir, e o plano de Marco Rubio, que ofereceria cortes enormes e pródigos para os ricos, enquanto explodiria o déficit.

Para ser justo, parece que o plano de Trump faria um buraco ainda maior no orçamento do que o de Jeb. Jeb justifica o seu plano alegando que sua adoção dobraria a taxa de crescimento dos EUA; Donald trunfa isso afirmando que triplicaria a taxa de crescimento. Mas, realmente, por que perder tempo com os detalhes? É tudo vodu. A pergunta interessante é: por que todo candidato republicano se sente compelido a descer por este caminho. 

Talvez você ache defensável a obsessão com a redução dos impostos sobre os ricos. Quer dizer, talvez você pudesse pensar isso se tivesse passado os últimos 20 anos em uma caverna (ou em um centro de estudos conservador). Caso contrário, você estaria ciente de que os entusiastas dos cortes de impostos têm um histórico notável: eles erraram tudo, ano após ano. 

Alguns leitores talvez se lembrem das previsões de desgraça econômica nos idos de 1993, quando Bill Clinton elevou a taxa de impostos para o topo. O que aconteceu, em vez disso, foi um boom sustentado, superando os anos de Reagan em todas as medidas. 

As mesmas pessoas previram grandes coisas como resultado dos cortes de impostos de George W. Bush. O que aconteceu, em vez disso, foi uma recuperação lenta, seguida de uma crise econômica catastrófica. 

Mais recentemente, os mesmos de sempre mais uma vez previram a desgraça em 2013, quando os impostos sobre o 1% mais rico da população subiram acentuadamente, devido à expiração de alguns dos cortes de impostos de Bush e da adoção de novos impostos que ajudam a pagar a reforma de saúde. O que aconteceu, em vez disso, foi o crescimento do emprego a um ritmo que não era visto desde os anos 90. 

Depois, há as evidências recentes vindas dos Estados. O Kansas reduziu os impostos, uma medida que seu governador de direita descreveu como um “experimento real” na política econômica; o crescimento do Estado ficou para trás desde então. A Califórnia foi na direção oposta, aumentando os impostos, e foi o Estado de maior crescimento do emprego no país. 

É verdade que é possível encontrar supostos especialistas em economia que afirmam ter evidências que baixas taxas de impostos estimulam o crescimento econômico, mas esses peritos, invariavelmente, constam da folha de pagamento dos grupos de pressão de direita (e têm um hábito interessante de entender os números de forma errada). Estudos independentes sobre a correlação entre as taxas de impostos e o crescimento econômico, como o do Serviço de Pesquisa do Congresso, não encontram relação alguma. Não há nenhuma defesa séria para a obsessão com o corte de impostos. 

Mesmo assim, os cortes de impostos são politicamente populares, certo? Na verdade, não, pelo menos quando se trata de cortes de impostos para os ricos. De acordo com o instituto Gallup, apenas 13% dos americanos acreditam que os indivíduos de alta renda pagam impostos demais, enquanto 61% acreditam que eles pagam muito pouco. Mesmo entre os que se dizem republicanos, para cada dois que acham que os ricos devem pagar mais, apenas um acha que deveriam pagar menos. 

Ou seja, todos os candidatos republicanos à Presidência estão comprometidos com uma política que é comprovadamente ruim para a economia e profundamente impopular. O que explica isso? 

Bem, considere a trajetória de Marco Rubio, que talvez seja, neste momento, o mais provável candidato republicano. No ano passado, ele apoiou um plano de corte de impostos concebido pelo senador Mike Lee pretensamente dirigido aos pobres e à classe média. Na realidade, seus benefícios eram fortemente inclinados aos rendimentos elevados -mas ainda assim recebeu severas críticas da direita por dar demasiado para as famílias comuns, sem cortar o suficiente os impostos sobre os rendimentos superiores. 

Então, Rubio voltou com um plano que eliminou os impostos sobre dividendos, ganho de capital e herança, proporcionando uma onda de sorte inesperada para os muito ricos. E, de repente, ele se tornou a moeda da vez entre os doadores republicanos. O novo plano acrescentaria trilhões do déficit, algo com que os conservadores dizem se preocupar, mas pouco importa. 

Em outras palavras, a questão é simples e clara: os republicanos apoiam grandes cortes de impostos para os ricos porque é isso que os doadores ricos querem. Sem dúvida, a maioria desses doadores conseguiu convencer-se de que o que é bom para eles é bom para o país. Mas, no fundo, são pessoas ricas que apoiam políticos que as tornarão mais ricas. Todo o resto não passa de racionalização. 

Claro, uma vez que os republicanos se decidirem por um candidato, um exército de mercenários será mobilizado para obscurecer essa verdade evidente. Vamos ver alegações de que o projeto é realmente um corte de impostos para a classe média, que também vai fazer maravilhas para o crescimento econômico, e veja: emails! Como o jornalismo é regido por convenções, esta campanha de ofuscação pode até funcionar. 

Mas nunca se esqueça de que realmente é uma guerra de classes de cima para baixo. Isso pode soar simplista, mas é assim que o mundo funciona.