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Está na hora de um plano de paz para o Oriente Médio

Muçulmanos palestinos rezam durante o mês sagrado do Ramadã - AFP Photo
Muçulmanos palestinos rezam durante o mês sagrado do Ramadã Imagem: AFP Photo

Thomas L. Friedman

09/09/2010 00h02

Já se passou uma semana, e as conversas de paz recém-produzidas entre israelenses e palestinos ainda resistem! Certamente isso é um bom sinal. É uma medida de quão baixas são as expectativas para essas conversas, a ponto de serem comemoradas por semana.

Mas agora que as sessões começaram, cada lado tentará evitar ser aquele que foge delas - e não só para evitar a ira dos Estados Unidos. É porque sentem que depois de todos esses anos de conversas de paz que se iniciam e se interrompem – onde alguém declara “este é o ano da decisão, e se essas conversas fracassarem, o processo de paz está morto e enterrado” – desta vez pode até ser verdade. Se essas conversas falharem, com 300 mil colonos israelenses já vivendo na Cisjordânia, e com o Hamas já se estabelecendo com seu próprio governo em Gaza, uma conversa de “solução de dois Estados” entrará no domínio da fantasia.

Mas ainda que as conversas estejam vivas, elas não têm nenhum drama, entusiasmo ou possibilidades maiores. Isso se deve em parte à terrível violência que se seguiu ao rompimento do processo de paz de Oslo, que praticamente tirou todo o romance desse relacionamento. E em parte se deve ao fato de que tanto o premiê Benjamin Netanyahu como o presidente palestino Mahmoud Abbas sabem que, para fazerem as pazes hoje, será preciso ter uma pequena guerra civil dentro de cada uma de suas comunidades.

Mesmo se ambos os lados trocarem terras e 80% dos colonos israelenses na Cisjordânia conseguirem ficar no lugar, 60 mil terão de ser removidos. Muitos sairão pacificamente – se Netanyahu conseguir o acordo de terras-por-segurança que ele quer – mas milhares não. Eles terão de ser removidos à força de locais bíblicos pelo exército israelense, e o processo não será bonito. Mesmo se Abbas conseguir 100% da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, ou seu equivalente, Hamas criticará qualquer acordo de paz que seja mais do que um cessar-fogo temporário com o Estado judaico. E, com a ajuda do Irã, o Hamas empregará toda a violência que puder para invalidar qualquer acordo. Não será bonito.

É por isso que a sensação de temor e a sensação de oportunidade estão entrelaçadas em um impasse emocional nesse exato momento entre os negociadores. Essas conversas realmente precisariam ter um estímulo emocional, que lembrasse especialmente os israelenses de que a paz não só tem enormes riscos de segurança, como também enormes benefícios – que no fim desta estrada há algo mais do que uma guerra civil entre judeus. Eu conheço uma forma de fazer isso.

Cerca de oito anos atrás, em fevereiro de 2002, entrevistei o então príncipe e hoje rei Abdullah, da Arábia Saudita, em sua fazenda de cavalos perto de Riad. Mostrei a ele uma coluna que havia escrito – sugerindo que a Liga Árabe apresentasse um plano de paz oferecendo paz total a Israel, em troca de retirada total da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental árabe para um Estado palestino – quando ele fingiu surpresa e disse: “Você andou abrindo as gavetas da minha mesa?” O líder saudita disse que estava preparando um plano exatamente como esse, e o ofereceu – “retirada total de todos os territórios ocupados, em acordo com as resoluções da ONU, inclusive em Jerusalém, em troca da normalização total das relações”. Ele acrescentou: “Eu queria encontrar um meio de deixar claro para o povo de Israel que os árabes não os rejeitam ou os desprezam”.

Era um gesto importante e visionário de Abdullah, e seu plano logo foi adotado pela Liga Árabe, com algumas emendas. Ficou flutuando ali no éter das possibilidades diplomáticas desde então. Mas flutuar foi tudo que fez. É hora de tirá-lo do ar. Abdullah deveria convidar Netanyahu para Riad, e apresentá-lo pessoalmente.

Abdullah não precisa ir a Jerusalém, como Anwar Sadat fez, ou reconhecer Israel. Mas ele ainda pode ter um impacto enorme no processo, só de entregar seu plano ao líder para cujo país era intencionado. Não consigo pensar em nada que daria um início melhor a essas conversas de paz. Parece-me que Netanyahu está levando este momento a sério, mas ainda está muito cauteloso. Ao lhe entregar o plano de Abdullah, o monarca saudita daria início a um enorme debate de paz em Israel. Isso tornaria mais difícil para Netanyahu continuar com os assentamentos – e estimular uma população israelense que também está cautelosa em pedir a Netanyahu que corra riscos pela paz, e o apoie por fazê-lo. Netanyahu é o único líder israelense hoje que consegue fechar um acordo.

Os sauditas não podem ficar só enviando por fax sua iniciativa de paz para os israelenses. Não tem impacto emocional. Na verdade ela diz aos israelenses: se os sauditas estão com medo de nos apresentar seu plano, por que deveríamos acreditar que eles terão a coragem de implementá-lo se fizermos tudo que eles sugerirem? Os israelenses estão isolados. Ver seu premiê sendo recebido pelo mais importante líder muçulmano do mundo em Riad teria um impacto real.

Tanto israelenses quanto palestinos terão de fazer algo realmente difícil para produzir uma solução para os dois Estados. Oficiais sauditas desenvolveram uma reputação em Washington de serem especialistas em aconselhar os outros sobre as coisas difíceis que eles devem fazer, enquanto eles mesmos relutam em se retirar. Este é o momento deles – fazer algo difícil e fazer algo importante.