Não há solução fácil para crise de crédito dos EUA
Após o altamente decepcionante acordo do orçamento e o rebaixamento da dívida pela S&P’s, talvez precisemos pendurar uma nova placa nas salas de desembarque de imigrantes em todos os portos e aeroportos dos Estados Unidos: “Bem-vindo, você está entrando nos Estados Unidos da América. O desempenho no passado não é necessariamente indicativo de futuro retorno”.
Porque nosso país agora está se vendo no pior tipo de declínio - um declínio lento, vagaroso o suficiente para continuarmos nos iludindo de que nada realmente fundamental precisa ser alterado para que nosso futuro se equipare ao nosso passado.
Nosso declínio lento é resultado de dois problemas interligados. Primeiro, nós deixamos que nossos cinco pilares básicos ruíssem desde o final da Guerra Fria - educação, infraestrutura, imigração de empreendedores e inovadores com QI elevado, regras para incentivar a tomada de risco e abertura de novas empresas, e pesquisa financiada pelo governo para estimular a ciência e a tecnologia.
Nós tratamos equivocadamente o final da Guerra Fria como uma vitória que nos permitiu colocar nossos pés para cima - quando foi na verdade o início de um dos maiores desafios que já enfrentamos. Nós ajudamos a promover 2 bilhões de pessoas assim como nós - na China, Índia e no Leste Europeu. Para que competíssemos e colaborássemos com elas - e manter o sonho americano– era necessário estudar ainda mais arduamente, investir mais sabiamente, inovar mais rapidamente, atualizar nossa infraestrutura ainda mais agilmente e trabalhar mais inteligentemente.
Em vez de fazermos isso na escala que precisávamos - isto é, malhando para ganhar músculos– nós injetamos quantidades enormes de esteroides de crédito (assim como nossos jogadores de beisebol). Isso permitiu que milhões de pessoas comprassem casas pelas quais não podiam pagar e gerou empregos em construção e no varejo que não exigem muita educação. Nossos amigos europeus saíram em uma gastança semelhante.
Toda essa dívida explodiu em 2008 nos Estados Unidos e na Europa, levando a um segundo problema: proprietários de imóveis residenciais, empresas, bancos e governos agora estão todos “desalavancando” ou tentando - o que significa que estão poupando mais, comprando menos, pagando suas dívidas e tentando escapar de hipotecas acima do valor do imóvel.
Ninguém explica melhor as implicações disso do que Kenneth Rogoff, um professor de economia de Harvard, que argumentou em um ensaio na semana passada, para o “Project Syndicate”, que não estamos em uma Grande Recessão, mas sim em uma Grande Contração (de Crédito): “Por que todo mundo ainda está se referindo à recente crise financeira como a ‘Grande Recessão’?” perguntou Rogoff. “A frase ‘Grande Recessão’ cria a impressão de que a economia está seguindo os contornos de uma recessão típica, apenas mais severa - algo como uma gripe realmente ruim. (...) Mas o verdadeiro problema é que a economia global está seriamente superalavancada, e não há saída rápida sem um esquema de transferência de riqueza dos credores para os devedores, seja por meio de calotes, repressão financeira ou inflação. (...)”
“Em uma recessão convencional”, notou Rogoff, “a retomada do crescimento implica em retorno razoavelmente rápido à normalidade. A economia não apenas recupera seu terreno perdido, mas, em um ano, geralmente alcança sua tendência de crescimento a longo prazo. A consequência de uma crise financeira profunda típica é algo completamente diferente. (...) A economia geralmente precisa de mais de quatro anos apenas para alcançar o mesmo nível de renda per capita atingido no pico pré-crise. (...) Muitos comentaristas argumentam que o estímulo fiscal fracassou em grande parte não por ter sido mal direcionado, mas porque não era grande o suficiente para combater uma ‘Grande Recessão’. Mas, em uma ‘Grande Contração’, o problema Nº1 é o excesso de dívida.” Até encontrarmos formas de reestruturar e perdoar algumas dessas dívidas de consumidores, empresas, bancos e governos, os gastos para promover o crescimento não retornarão na escala necessária.
Nosso desafio agora é, portanto, desalavancar a economia o mais rápido possível, voltando ao mesmo tempo a investir o máximo possível nos nossos verdadeiros pilares de crescimento, para que nossa recuperação seja construída com base em negócios sustentáveis e empregos reais, e não em apenas uma nova rodada de injeção de crédito.
Em relação à desalavancagem, sugere Rogoff, por exemplo, que o governo facilite a redução do valor das hipotecas em troca de uma participação em qualquer futura valorização no preço dos imóveis.
Em relação ao crescimento, nós certamente precisamos de um plano fiscal de longo prazo muito mais inteligente do que o apresentado por Washington. Nós precisamos cortar gastos em áreas e em um prazo que causem menos mal; e precisamos elevar impostos de um modo que cause menos mal (agora é o momento perfeito para um imposto sobre a gasolina em vez de aumentar o imposto de renda deduzido na folha de pagamento); e precisamos parte dessa receita para investir nos pilares de nosso crescimento, com ênfase especial na infraestrutura, pesquisa e incentivos para tomada de risco e abertura de novas empresas. Nós precisamos oferecer todo incentivo possível para que os americanos abram novas empresas, para crescermos e sairmos deste buraco.
Se lidar com todas essas necessidades ao mesmo tempo soa difícil e complicado, é porque é. Não há solução fácil. Nós precisamos de ajuda da população para desalavancar, cortar gastos, aumentar nossa receita e reinvestir em nossos motores de crescimento –com uma estratégia integrada para renovação nacional. Algo tão grande e complexo não pode ser realizado por um único partido. Isso exigirá o tipo de ação coletiva geralmente reservada para emergências nacionais. Quanto mais cedo fizermos isso, melhor.
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