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Dois para dois, ou dois para um?

Thomas L. Friedman

30/09/2011 00h01

O primeiro-ministro de Israel, Bibi Netanyahu, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falaram todos na ONU na semana passada e, honestamente, é difícil decidir qual discurso foi pior. Netanyahu parecia estar se dirigindo ao Comitê Central do Likud, Abbas parecia estar discursando para uma reunião da Liga Árabe e Obama parecia estar apelando aos eleitores judeus na Flórida. A intenção do presidente era boa, mas a política doméstica exigiu que ele sussurrasse, em vez de dizer verdades ousadas para ambos os lados.

Toda a novela foi apenas outro lembrete de quão quebrado o esforço pela paz se encontra atualmente e quanto ambos os lados ainda suspeitam que o outro realmente deseja dois Estados para um só povo, em vez de dois Estados para dois povos.

Eu explicarei isso em um momento, mas, primeiro, me permita notar que o jornal israelense “Haaretz” resumiu perfeitamente os desempenhos de Netanyahu e Abbas, dizendo: “Segundo essas duas narrativas de exigências e queixas, é como se o conflito entre israelenses e palestinos tivesse viajado em uma máquina do tempo, de volta ao final do século passado, com décadas de diálogo sendo eliminadas –para grande alegria dos extremistas de ambos os lados. Não a paz, mas sim o simples contato direto entre as parte é novamente visto como sendo a meta, e mesmo isso está cada vez mais desaparecendo ao longe”.

De fato é aí onde estamos –questionando se os dois lados voltarão a falar um com outro, quanto mais negociar um acordo viável. Mas os lados agem como se o tempo estivesse do lado deles. Eu discordo.

Este é um “Novo Oriente Médio” –mas não da forma como esperávamos. Quando se deixa o campo isento de diplomacia, com tantos personagens instáveis circulando ao seu redor– como os colonos extremistas israelenses pichando “Maomé é um porco” em prédios muçulmanos na Cisjordânia e palestinos extremistas de grupos como a Jihad Islâmica atirando contra civis israelenses ou disparando morteiros de Gaza contra cidades israelenses – você realmente está pedindo por encrenca, porque muitas das velhas proteções se foram.

Se ocorrerem agora confrontos entre israelenses e palestinos, não há um presidente Hosni Mubarak do Egito para absorver as chamas. Agora há um primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, pronto para abaná-las –na direção de Israel. Não é um exagero dizer que se confrontos sérios estourarem entre israelenses e palestinos, ambos os tratados de paz entre o Egito e Israel e entre o Egito e Jordânia poderiam ser rasgados. E se a violência palestina se espalhar pela Cisjordânia, Abbas poderá muito bem dizer aos israelenses que está fechando a Autoridade Palestina e não mais servirá como um policial de Israel na Cisjordânia. Isso seria o último prego no caixão do acordo de Oslo. Assim, todos os três pilares da paz –por mais imperfeitos que sejam, mas tão vitais para a segurança de Israel desde os anos 70– estão em perigo.

Diante de tanto em jogo, isto é o que um governo israelense que vê longe diria para si mesmo: “Nós temos muito mais a perder do que os palestinos se tudo isso ruir. Vamos fazer um esforço adicional. Abbas diz que não participará de qualquer acordo de paz sem um congelamento da construção de assentamentos. Nós achamos que é mentira. Nós demos a ele um congelamento parcial de 10 meses e ele não fez nada. Mas sabe de uma coisa, há tanto em jogo aqui, vamos testá-lo novamente. Vamos oferecer um congelamento total dos assentamentos por seis meses. O que são seis meses na história de um povo com 5 mil anos? Nós já temos 300 mil colonos instalados. É uma estratégia onde não temos nada a perder e que de modo algum coloca em risco nossa segurança. Se os palestinos recuarem, serão eles os isolados, não nós. E se vierem, quem sabe? Talvez cheguemos a um acordo”.

Isso é o que um líder israelense sábio faria agora. E quando esse governo israelense não faz isso, ele alimenta os temores palestinos de que Israel realmente deseja dois Estados –ambos para si mesmo. Esse é o Israel pré-1967 e o Israel pós-1967, isto é, Israel, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

A liderança palestina, entretanto, poderia fazer muito mais para encorajar essa abertura, porque a única coisa que pode forçar Netanyahu a se mover é o centro israelense. Ela já fez isso antes. Por que não agora? Porque quando a maioria silenciosa israelense vê seu exército se retirar unilateralmente de Gaza, remover assentamentos de lá e receber foguetes em troca, e quando vê antigos primeiros-ministros israelenses conciliatórios apresentarem propostas abrangentes de retirada sem receber nada em troca, e quando ouvem que os palestinos insistem no “direito de retorno” para parte de seu povo –não apenas à Cisjordânia, mas para Israel –isso aumenta o temor israelense de que os palestinos ainda sonham com dois Estados, mas ambos para eles mesmos: a Cisjordânia e Israel pré-1967. Se Abbas tratasse mais diretamente desses temores, Netanyahu estaria sob muito mais pressão doméstica para agir.

Nós realmente estamos de volta ao início deste conflito. Até cada lado tranquilizar o outro de que ambos realmente querem dois Estados para dois povos –não apenas para um– nada de bom sairá daí, mas algo realmente ruim pode.