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Falta de tomada de decisões no governo indiano emperra desenvolvimento do país

Indiano vende jornais em um cruzamento de tráfego intenso em Bangalore, na Índia, no último dia 14 de novembro   - Manjunath Kiran/AFP
Indiano vende jornais em um cruzamento de tráfego intenso em Bangalore, na Índia, no último dia 14 de novembro Imagem: Manjunath Kiran/AFP

Thomas L. Friedman

18/11/2011 00h01

A caminho do mercado coberto na exótica cidade indiana de Jodhpur, no oeste do país, na semana passada, nosso guia indiano parou para apontar para um marco moderno. "Está vendo aquele semáforo?" ele perguntou, apontando para um semáforo comum verde-amerelo-vermelho no cruzamento movimentado. "É o único semáforo em Jodhpur. Há 1,2 milhão de habitantes na cidade."

Quanto mais você viaja pela Índia, mais você nota quão levemente a mão do governo interfere no país. De alguma forma, tudo meio que funciona. O tráfego não para, mas, pela primeira vez em todos meus anos visitando a Índia, eu comecei a me perguntar se a abordagem "bom o suficiente" de governar da Índia realmente permanecerá boa o suficiente por muito mais tempo. Enormes escândalos de corrupção destituíram o governo de bilhões de dólares de recursos necessários, e, por mais que tenha me impressionado com a proeza inovadora dos jovens tecnólogos da Índia, sem um governo que lhes forneça as estradas, portos, largura de banda, eletricidade, aeroportos e regulamentações inteligentes de que precisam para prosperar, eles nunca atingirão seu potencial pleno.

Isso não é apenas um assunto teórico. O ar nas maiores cidades da Índia faz mal à saúde. Você raramente vê um corpo de água aqui -um rio, lago ou lagoa- que não seja poluído. O simples número esmagador de pessoas -a Índia em breve ultrapassará a China- em um ambiente não protegido realmente parece estar cobrando seu preço. Sem uma melhor governança, como a Índia evitará se tornar uma área de desastre ecológico em 10 anos? No final, a lei dos grandes números –1,2 bilhão de habitantes– começa a devorar cada passo mínimo à frente dado pela Índia. A Índia não precisa se transformar na China e não irá. Mas ela ainda precisa provar que sua democracia pode tomar e implantar grandes decisões com o mesmo foco, autoridade e persistência que a autocracia chinesa.

Azim Premji, o presidente da Wipro, uma das principais empresas de tecnologia da Índia, foi claro a respeito do futuro ao anunciar os lucros de sua empresa há duas semanas: "Há uma completa ausência de tomada de decisão entre os líderes no governo. Se uma ação imediata não for tomada, o país enfrentará um revés. É preciso entender quão sério isso é".

Soa familiar? Premji poderia estar falando sobre a União Europeia ou sobre os Estados Unidos. Nenhum líder deseja tomar decisões difíceis, exceto quando forçados. Todo mundo -até mesmo os líderes da China- parece estar mais temeroso de seu próprio povo do que nunca. É de se perguntar se a Internet, blogs, Twitter, mensagens de texto e microblogs, como no caso da China, tornaram tanto a democracia quanto a autocracia tão participativas, e os líderes tão atentos a cada nuance da opinião pública, que estão tendo dificuldade de tomar qualquer grande decisão que exija sacrifício. Eles têm vozes demais nas suas cabeças além das deles próprios.

Aqui estamos de novo nos Estados Unidos às vésperas de uma grande decisão orçamentária por mais outro "supercomitê" bipartidário, mas alguém sabe qual é o resultado preferido pelo presidente Barack Obama? Quais exatamente são os impostos que ele deseja que sejam aumentados e que gastos ele deseja que sejam cortados? As políticas do presidente sobre este assunto parecem ser uma tigela de mingau testado pelas pesquisas de opinião.

Em um momento em que, da Índia aos Estados Unidos, as democracias nunca tiveram tantas grandes decisões para tomar, se quiserem proporcionar melhores padrões de vida para suas populações, essa epidemia de não decisão é uma tendência perturbadora. Isso significa que estamos cedendo cada vez mais liderança para tecnocratas e supercomitês -ou simplesmente permitindo que o mercado e a Mãe Natureza imponham sobre nós decisões que não conseguimos tomar nós mesmos. Esta última raramente resulta nos melhores resultados.

A União Europeia conta com uma versão particularmente aguda de líderes que não lideram, o motivo para tanto a Grécia quanto a Itália agora terem se voltado para tecnocratas não eleitos para dirigirem seus governos. Escrevendo no "Financial Times" de sábado, Tony Barber notou: "Na prática, os autores de políticas da zona do euro decidiram suspender a política normal nos dois países, porque a consideram uma ameaça mortal à união monetária da Europa. Eles decidiram que a unidade europeia, um projeto há mais de 50 anos em execução, é de tamanha importância que os políticos que prestam contas à população devem dar lugar a peritos não eleitos, capazes de manter as coisas funcionando. Até o momento, há pouco ultraje público em Atenas e em Roma, certamente porque milhões de gregos e italianos nutrem grande desprezo por suas classes políticas".

Sim, é verdade que em um mundo hiperconectado, na era do Facebook e do Twitter, as pessoas estão mais empoderadas e muito mais ideias e inovações virão de baixo para cima, não apenas de cima para baixo. Isso é bom -em teoria. Mas no final do dia -independente de você ser um presidente, senador, prefeito ou comitê organizador de seu movimento local Ocupe Wall Street- alguém precisa transformar essas ideias em uma visão de como seguir em frente, esculpi-las em políticas que possam fazer a diferença na vida das pessoas e então formar uma maioria para implantá-las. Essas pessoas são chamadas líderes. Os líderes moldam as opiniões. Eles não simplesmente leem as pesquisas de opinião. E atualmente, por todo o mundo e por todos os sistemas políticos, líderes estão perigosamente em escassez.