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A vitória de Obama é devastadora para os republicanos

09/11/2012 00h01

Em outubro de 2010, o senador Mitch McConnell, o líder republicano, disse famosamente ao “The National Journal”: “A coisa mais importante que desejamos é fazer com que o presidente Barack Obama seja um presidente de um só mandato”. E foi assim que ele e seu partido agiram. Bem, Mitch, que tal?

Ninguém pode dizer ao certo que química emocional complexa pendeu esta eleição para o lado de Obama, mas aqui está meu palpite: no final, tratou-se da maioria dos americanos acreditando que independente de suas falhas, Obama estava se esforçando ao máximo para consertar os males do país e que ele estava fazendo isso com um Partido Republicano que, em seu íntimo, não desejava fazer concessões e queria que ele fracassasse – para que pudesse voltar e pegar os cacos. Até hoje, eu considero a declaração de McConnell apavorante. Considere todos os problemas que enfrentamos no país nos últimos quatro anos – da dívida à adaptação à globalização, do desemprego aos desafios da mudança climática e do terrorismo – e então ouvir essa declaração: “A coisa mais importante que desejamos é fazer com que o presidente Barack Obama seja um presidente de um só mandato”.

No meu entender, foi isso o que fez a diferença. O Partido Republicano perdeu uma eleição que, diante do estado da economia, deveria ter ganhado, e isso ocorreu por causa de um excesso de cinismo como de McConnell, uma escassez de novas ideias e uma abundância de ideias muito ruins –sobre imigração, sobre o clima, sobre como empregos são criados, sobre aborto e outras questões sociais.

Parece que muitos americanos foram às urnas sem muito entusiasmo por ambos os candidatos, mas, mesmo assim, foram com uma ideia clara de quem preferiam. A maioria pareceu dizer para Obama: “Você não acertou tudo da primeira vez, mas vamos lhe dar uma segunda chance”. De certa forma, eles votaram de novo pela “esperança e mudança”. Eu não acho que foi uma ratificação da reforma da saúde ou da iniciativa “Corrida ao Topo” ou qualquer outra de Obama. Foi mais um voto no seu caráter: “Nós achamos que você está tentando. Agora tente ainda mais. Aprenda com seus erros. Estenda a mão para o outro lado, mesmo que ele dê um tapa na sua mão, e se concentre como um laser na economia, para que aqueles de nós que votaram em você hoje sem muito entusiasmo possam se sentir bem por terem votado”.

E esse é o motivo para a vitória de Obama ser tão devastadora para o Partido Republicano. Um país com quase 8 milhões de desempregados preferiu dar uma segunda chance ao presidente do que dar a primeira a Mitt Romney. O Partido Republicano atual precisa ter uma conversa franca consigo mesmo.

O Partido Republicano perdeu duas eleições presidenciais consecutivas por ter forçado seu candidato a se inclinar tanto para a direita lunática para passar pelas primárias, dominada por sua base ultraconservadora, que ele não conseguiu voltar o suficiente para o centro para disputar a eleição nacional. Não basta os republicanos dizerem aos seus colegas democratas de modo privado (como alguns fazem): “Eu bem que gostaria de ajudar, mas nossa base é maluca”. Eles precisam de sua própria reforma. A centro-direita precisa se livrar da extrema direita, ou o partido será minoritário por muito tempo.

Muitos na próxima geração dos Estados Unidos sabem que a mudança climática é real, e querem ver algo feito para atenuá-la. Muitos na próxima geração dos Estados Unidos serão de origem latina e insistirão em uma reforma humana da imigração, que dê um caminho legal prático para a cidadania para os imigrantes ilegais. A próxima geração precisará da imigração de pessoas dispostas a correr risco, com alto QI, da Índia, China e América Latina, caso os Estados Unidos queiram permanecer na vanguarda da revolução da tecnologia da informação e possam arcar com o governo que desejamos. Muitos na próxima geração americana veem gays e lésbicas em suas famílias, locais de trabalho e quartéis do Exército, e não querem lhes negar os direitos de casamento que outros têm. O Partido Republicano está atualmente em guerra contra pessoas demais da próxima geração de americanos em todas essas questões.

Dito isso, minha previsão é de que a maior questão doméstica nos próximos quatro anos será como responderemos às mudanças em tecnologia, globalização e mercados que estão tornando, em um curto espaço de tempo, cada vez mais obsoletos os empregos de qualificação média, com salários decentes –a espinha dorsal da classe média. Os únicos empregos com salários decentes serão os altamente qualificados.

A resposta para esse desafio exigirá um novo nível de imaginação política –uma combinação de reformas da educação e colaboração sem precedente entre empresas, universidades e o governo para mudar a forma como os trabalhadores são treinados e empoderados para continuarem aprendendo. Exigirá reformas tributárias e de imigração. Os Estados Unidos de hoje precisam desesperadamente de um Partido Republicano de centro-direita que ofereça abordagens baseadas em mérito, baseadas no mercado, para todas essas questões –e uma disposição de chegar a um entendimento com o outro lado. O país está faminto por cooperação prática, bipartidária, e recompensará os políticos que oferecerem isso e punirá aqueles que não.

Os votos foram contados. Obama agora precisa trabalhar para justificar a segunda chance que o país lhe deu, e os republicanos precisam começar a entender por que isso aconteceu.