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Em nova escola, Grazzi Brasil sonha com mais mulheres cantando samba-enredo

A cantora Grazzi Brasil - Rafael Arantes/Divulgação
A cantora Grazzi Brasil Imagem: Rafael Arantes/Divulgação

09/07/2019 18h13

A caminho de seu terceiro ano como intérprete no Carnaval carioca, Grazzi Brasil está de casa nova. Depois de dois anos no Paraíso do Tuiuti, recentemente foi apresentada pela São Clemente, onde irá dividir o microfone principal com Leozinho Nunes e Bruno Ribas. Nesta entrevista exclusiva, a intérprete fala sobre a expectativa em sua nova escola, a falta de oportunidades para as cantoras de samba-enredo e mostra-se preocupada com a situação do Vai Vai, agremiação que a revelou e que foi rebaixada para o Grupo de Acesso do Carnaval paulistano.

O que te motivou a ir para a São Clemente?

Eu não tinha renovado meu contrato com o Tuiuti e recebi um convite. As pessoas me receberam muito bem, especialmente o presidente Renato e sua família. Estou muito feliz e grata. Senti uma energia maravilhosa na quadra. A São Clemente é uma escola muito e acolhedora. E é uma irreverente, alegre e me identifico com isso, apesar de não ter cantado sambas nesta linha até hoje. É um desafio para mim e estou pronta para isso.

Você rompeu barreiras duplamente. Além de ser paulista e ter vindo para o Rio, você é uma mulher cantando samba-enredo. As pessoas já te vêm com naturalidade ou você ainda acha que existe preconceito?

Muita gente ainda torce o nariz pelo fato de eu ser mulher. Existem outras mulheres cantando no coro, mas eu sou a única intérprete oficial. Isso chateia. Tem gente que ainda não entendeu que música não tem gênero.

Um carro de som totalmente formado por mulheres é possível ou ainda um sonho distante?

Acho que ainda estamos longe disso. É preciso coragem para bancar. Seria fantástico, mas acho que vai demorar um pouco. A maior parte dos componentes das escolas hoje são mulheres, mas o samba ainda é cantado da forma mais confortável para o homem. Existem outras mulheres cantando maravilhosamente bem. Só que elas não ganham esta oportunidade.

Em São Paulo ainda há uma tradição maior de mulheres cantando.

Tem a Eliana de Lima e, quinze anos depois dela, surgiu a Bernadete cantando no Peruche. E, depois, eu. E eu fiquei sozinha agora. Às vezes dá um desespero quando eu vejo que não tem mais ninguém. Onde estão as outras mulheres? Tem muita gente merecendo uma chance. Eu indico, já tentei ajudar, mas é muito difícil. Depois que eu cantei no Tuiuti em 2018, no ano passado, a São Clemente já trouxe a Larissa Luz e estamos vendo mais mulheres aparecendo nos sambas concorrentes. Mas ainda podemos mais.

Falando um pouco do Vai Vai. Como você vê a situação da escola, que irá para o Grupo de Acesso?

É a minha escola, que eu amo. Porém, ainda não sei se continuarei. Ainda não recebi contato da diretoria, mas estou aqui. É uma dor muito grande tudo que aconteceu, mas tenho certeza de que vamos dar a volta por cima. Outras escolas de São Paulo me procuraram, mas disse a todas que agora estou no Rio.

Pretende se mudar para o Rio?

Não. Tenho ido quase toda semana, mas eu gosto da minha casa, da minha vida aqui em São Paulo. A princípio não penso em sair daqui. Sou muito grata às oportunidades que estão surgindo, mas estou conseguindo conciliar os trabalhos.

Como você vê o momento dos Carnavais do Rio e de São Paulo?

A situação do Rio está bem complicada. Em São Paulo, as coisas são mais organizadas. Mas a visibilidade maior, independente de tudo, é do Rio. Ainda é a vitrine. Espero que tudo se resolva no Carnaval do Rio e que São Paulo continue crescendo mais. É melhor para todo mundo.

Anderson Baltar