Suécia testa 'vôos verdes' que reduzem emissões em até 10%
No aeroporto de Arlanda, a 45 quilômetros de Estocolmo, engenheiros e pesquisadores suecos estão criando os "vôos verdes" do futuro.
A meta é promover uma revolução ambiental no setor da aviação, com a redução significativa da emissão de poluentes e dos níveis de ruído provocados pelo crescimento vertiginoso do tráfego aéreo em todo o mundo.
Em comparação com um vôo regular com duração média de uma hora, o percentual de redução do consumo de combustível atingido pelos "vôos verdes" até o momento é calculado entre 5% e 10% por vôo.
Arlanda é o primeiro aeroporto do mundo a introduzir a nova tecnologia, idealizada pelo programa Green Flights (Vôos Verdes). Cerca de mil vôos já foram realizados desde o início dos testes, em março de 2006.
Os resultados têm sido comemorados: cada "vôo verde" já obtém em média uma economia de 100 quilos de combustível, o que corresponde, segundo os pesquisadores suecos, a uma redução de 314 quilos de dióxido de carbono nas emissões por vôo.
"É uma redução substancial", diz à BBC Brasil o comandante Peter Larsson, gerente do projeto na Scandinavian Airlines (SAS). Com a redução do consumo de combustível, ganham o meio ambiente e também a indústria da aviação, que verá seus custos de operação baixarem.
Redução
Com a série de novos testes programados para este mês, a projeção é de uma redução de 200 quilos de combustível por vôo em Arlanda ainda este ano. No total, a estimativa é de que a nova tecnologia produza uma redução de até 400 quilos de combustível por vôo.
"Considerando-se apenas as 36 mil aterrissagens realizadas por ano pela SAS em Estocolmo, uma economia de 200 quilos de combustível por vôo representa uma redução de 23 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, num aeroporto de médio porte como Arlanda. Se fizermos os cálculos para todos os maiores aeroportos do mundo, a redução total de emissões é potencialmente gigantesca", assinala Larsson.
Um vôo regular entre Estocolmo e Londres produz, segundo o comandante, uma emissão de aproximadamente 20 toneladas de dióxido de carbono.
Parceria
A experiência sueca é resultado da parceria entre a SAS e o Luftfartsverket, o Departamento de Aviação Civil da Suécia.
O projeto é co-financiado pela União Européia, e tem ainda a participação da Boeing e da Airbus. Um relatório do estudo vai ser anunciado no final deste ano na União Européia. A nova tecnologia faz parte de um amplo programa da União Européia para reduzir o impacto da aviação sobre o meio ambiente, e deve ser adotada como o novo padrão operacional em todos os aeroportos europeus até o ano 2020.
Mas na Suécia, os "vôos verdes" já são realidade. Apesar de a tecnologia ainda estar sendo aperfeiçoada, as autoridades suecas decidiram que os primeiros resultados já permitiam a operação regular dos "vôos verdes" em pequena escala, paralelamente aos testes.
No total, 19 Boeing 737 da SAS estão equipados para funcionar com o sistema. E a projeção para esta pequena frota é de uma economia anual de até 15 milhões de euros em combustível.
A tecnologia "verde" se baseia num ponto crucial: estabelecer através de sistemas sofisticados de computador, com precisão de segundos, a rota e o horário exato da aterrissagem do avião.
É o planejamento minucioso da aterrissagem, imediatamente após a decolagem, o elemento determinante da economia de combustível - com a conseqüente redução da emissão de poluentes e dos níveis de ruído.
Controlador de vôo
Atualmente, o controlador de vôo dirige todo o processo em terra, seguindo o principio do "quem chegar primeiro". Os aviões são recebidos à medida que se aproximam do aeroporto, e o controlador instrui o piloto a entrar na fila de aterrissagem ou a voar em círculos, à espera de uma vaga.
O resultado é a queima desnecessária de combustível, e a maior emissão de poluentes. Além disso, o processo de espera da autorização de aterrissagem se desenvolve geralmente a baixas altitudes, o que aumenta os níveis de ruído desnecessariamente.
"É um sistema muito manual, que funciona mal", diz à BBC Michael Standar, responsável pelo projeto no Luftfartsverket.
"Pilotos e controladores falam uns com os outros através do equipamento de rádio. Precisamos começar a nos comunicar digitalmente", ressalta, acrescentando que menos falatório na cabine também dá ao piloto mais tempo para se ocupar dos procedimentos de segurança da descida.
A solução criada pelos pesquisadores suecos foi integrar os equipamentos de navegação da aeronave - FMS, ou Flight Management System - com os computadores dos centros de controle em terra.
Baseado nos centros de controle, o novo sistema CIES (Collaborative Information Exchange System), desenvolvido pelo Luftfartsverket, interliga os computadores no ar e em terra, e indica constantemente todos os vôos de chegada e o horário estimado de cada aterrissagem. O sistema FMS também foi aperfeiçoado para produzir os "vôos verdes".
Passo a passo
O passo a passo da tecnologia verde funciona da seguinte maneira, explica o comandante da SAS Peter Larsson:
. Logo após a decolagem, o avião transmite ao centro de controle em terra, através de datalink, a informação preliminar sobre o horário estimado de chegada (ETA, Estimated Time of Arrival).
. O computador do centro de controle envia ao avião, através de datalink, a rota estimada de aproximação (STAR, Standard Arrival Route) que deve ser usada para aquele horário.
. O sistema de navegação do avião (FMS) calcula então o horário exato da chegada, segundo as condições de vôo, e transmite a informação ao computador do centro de controle em terra.
O centro de controle insere automaticamente o vôo na lista de chegadas do aeroporto.
Se os horários de chegada de dois ou mais vôos coincidirem, uma mensagem adicional é enviada ao avião, determinando um reajuste no horário da descida.
Isto permite que o piloto desacelere a aeronave durante a viagem, e evite voar em círculos sobre o aeroporto. A aterrissagem "verde" é então realizada, com a aeronave fazendo uma descida suave e direta.
"O mais espetacular é que funciona", diz a BBC o gerente técnico do projeto no Luftfartsverket, Niclas Gustavsson. Com o cálculo preciso dos horários de chegada, os "vôos verdes" vão trazer ainda benefícios extras aos passageiros e a toda a operação nos aeroportos, ressalta ele:
"Hoje, voamos numa espécie de buraco negro. Os pilotos dizem aos passageiros que vão aterrissar dentro de 15 minutos, mas se você olhar para o relógio, vai ver que no final demorou 27 minutos ou mais.
Ninguém sabe exatamente o horário de aterrissagem. Os vôos 'verdes' produzem benefícios não só para o meio ambiente como também para os passageiros, o pessoal de bagagem, de catering e todos os envolvidos na operação de chegada."
Na Europa, a previsão é de que o tráfego aéreo deve dobrar até o ano 2020. Segundo a organização ambientalista Friends of the Earth, as emissões de poluentes provocadas pela aviação internacional aumentaram em 5,7% entre 2004 e 2005 - e dobraram no período entre 1990 e 2005. Na Grã-Bretanha, a aviação é a mais crescente fonte de emissão de dióxido de carbono.
Na ecologicamente consciente Suécia, o programa Green Flights Initiative (Projeto Vôos Verdes) tem cronograma ambicioso: até o ano 2010, todos os aeroportos do país estarão operando exclusivamente com a tecnologia verde.
A meta é promover uma revolução ambiental no setor da aviação, com a redução significativa da emissão de poluentes e dos níveis de ruído provocados pelo crescimento vertiginoso do tráfego aéreo em todo o mundo.
Em comparação com um vôo regular com duração média de uma hora, o percentual de redução do consumo de combustível atingido pelos "vôos verdes" até o momento é calculado entre 5% e 10% por vôo.
Arlanda é o primeiro aeroporto do mundo a introduzir a nova tecnologia, idealizada pelo programa Green Flights (Vôos Verdes). Cerca de mil vôos já foram realizados desde o início dos testes, em março de 2006.
Os resultados têm sido comemorados: cada "vôo verde" já obtém em média uma economia de 100 quilos de combustível, o que corresponde, segundo os pesquisadores suecos, a uma redução de 314 quilos de dióxido de carbono nas emissões por vôo.
"É uma redução substancial", diz à BBC Brasil o comandante Peter Larsson, gerente do projeto na Scandinavian Airlines (SAS). Com a redução do consumo de combustível, ganham o meio ambiente e também a indústria da aviação, que verá seus custos de operação baixarem.
Redução
Com a série de novos testes programados para este mês, a projeção é de uma redução de 200 quilos de combustível por vôo em Arlanda ainda este ano. No total, a estimativa é de que a nova tecnologia produza uma redução de até 400 quilos de combustível por vôo.
"Considerando-se apenas as 36 mil aterrissagens realizadas por ano pela SAS em Estocolmo, uma economia de 200 quilos de combustível por vôo representa uma redução de 23 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, num aeroporto de médio porte como Arlanda. Se fizermos os cálculos para todos os maiores aeroportos do mundo, a redução total de emissões é potencialmente gigantesca", assinala Larsson.
Um vôo regular entre Estocolmo e Londres produz, segundo o comandante, uma emissão de aproximadamente 20 toneladas de dióxido de carbono.
Parceria
A experiência sueca é resultado da parceria entre a SAS e o Luftfartsverket, o Departamento de Aviação Civil da Suécia.
O projeto é co-financiado pela União Européia, e tem ainda a participação da Boeing e da Airbus. Um relatório do estudo vai ser anunciado no final deste ano na União Européia. A nova tecnologia faz parte de um amplo programa da União Européia para reduzir o impacto da aviação sobre o meio ambiente, e deve ser adotada como o novo padrão operacional em todos os aeroportos europeus até o ano 2020.
Mas na Suécia, os "vôos verdes" já são realidade. Apesar de a tecnologia ainda estar sendo aperfeiçoada, as autoridades suecas decidiram que os primeiros resultados já permitiam a operação regular dos "vôos verdes" em pequena escala, paralelamente aos testes.
No total, 19 Boeing 737 da SAS estão equipados para funcionar com o sistema. E a projeção para esta pequena frota é de uma economia anual de até 15 milhões de euros em combustível.
A tecnologia "verde" se baseia num ponto crucial: estabelecer através de sistemas sofisticados de computador, com precisão de segundos, a rota e o horário exato da aterrissagem do avião.
É o planejamento minucioso da aterrissagem, imediatamente após a decolagem, o elemento determinante da economia de combustível - com a conseqüente redução da emissão de poluentes e dos níveis de ruído.
Controlador de vôo
Atualmente, o controlador de vôo dirige todo o processo em terra, seguindo o principio do "quem chegar primeiro". Os aviões são recebidos à medida que se aproximam do aeroporto, e o controlador instrui o piloto a entrar na fila de aterrissagem ou a voar em círculos, à espera de uma vaga.
O resultado é a queima desnecessária de combustível, e a maior emissão de poluentes. Além disso, o processo de espera da autorização de aterrissagem se desenvolve geralmente a baixas altitudes, o que aumenta os níveis de ruído desnecessariamente.
"É um sistema muito manual, que funciona mal", diz à BBC Michael Standar, responsável pelo projeto no Luftfartsverket.
"Pilotos e controladores falam uns com os outros através do equipamento de rádio. Precisamos começar a nos comunicar digitalmente", ressalta, acrescentando que menos falatório na cabine também dá ao piloto mais tempo para se ocupar dos procedimentos de segurança da descida.
A solução criada pelos pesquisadores suecos foi integrar os equipamentos de navegação da aeronave - FMS, ou Flight Management System - com os computadores dos centros de controle em terra.
Baseado nos centros de controle, o novo sistema CIES (Collaborative Information Exchange System), desenvolvido pelo Luftfartsverket, interliga os computadores no ar e em terra, e indica constantemente todos os vôos de chegada e o horário estimado de cada aterrissagem. O sistema FMS também foi aperfeiçoado para produzir os "vôos verdes".
Passo a passo
O passo a passo da tecnologia verde funciona da seguinte maneira, explica o comandante da SAS Peter Larsson:
. Logo após a decolagem, o avião transmite ao centro de controle em terra, através de datalink, a informação preliminar sobre o horário estimado de chegada (ETA, Estimated Time of Arrival).
. O computador do centro de controle envia ao avião, através de datalink, a rota estimada de aproximação (STAR, Standard Arrival Route) que deve ser usada para aquele horário.
. O sistema de navegação do avião (FMS) calcula então o horário exato da chegada, segundo as condições de vôo, e transmite a informação ao computador do centro de controle em terra.
O centro de controle insere automaticamente o vôo na lista de chegadas do aeroporto.
Se os horários de chegada de dois ou mais vôos coincidirem, uma mensagem adicional é enviada ao avião, determinando um reajuste no horário da descida.
Isto permite que o piloto desacelere a aeronave durante a viagem, e evite voar em círculos sobre o aeroporto. A aterrissagem "verde" é então realizada, com a aeronave fazendo uma descida suave e direta.
"O mais espetacular é que funciona", diz a BBC o gerente técnico do projeto no Luftfartsverket, Niclas Gustavsson. Com o cálculo preciso dos horários de chegada, os "vôos verdes" vão trazer ainda benefícios extras aos passageiros e a toda a operação nos aeroportos, ressalta ele:
"Hoje, voamos numa espécie de buraco negro. Os pilotos dizem aos passageiros que vão aterrissar dentro de 15 minutos, mas se você olhar para o relógio, vai ver que no final demorou 27 minutos ou mais.
Ninguém sabe exatamente o horário de aterrissagem. Os vôos 'verdes' produzem benefícios não só para o meio ambiente como também para os passageiros, o pessoal de bagagem, de catering e todos os envolvidos na operação de chegada."
Na Europa, a previsão é de que o tráfego aéreo deve dobrar até o ano 2020. Segundo a organização ambientalista Friends of the Earth, as emissões de poluentes provocadas pela aviação internacional aumentaram em 5,7% entre 2004 e 2005 - e dobraram no período entre 1990 e 2005. Na Grã-Bretanha, a aviação é a mais crescente fonte de emissão de dióxido de carbono.
Na ecologicamente consciente Suécia, o programa Green Flights Initiative (Projeto Vôos Verdes) tem cronograma ambicioso: até o ano 2010, todos os aeroportos do país estarão operando exclusivamente com a tecnologia verde.