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O misterioso 'elemento perdido' do núcleo da Terra que cientistas dizem ter encontrado

Pesquisadores japoneses afirmam que silício responde por parcela significativa do centro do planeta, depois do ferro e do níquel - Thinkstock
Pesquisadores japoneses afirmam que silício responde por parcela significativa do centro do planeta, depois do ferro e do níquel Imagem: Thinkstock

Rebecca Morelle

10/01/2017 09h49

Cientistas japoneses afirmaram ter identificado um misterioso elemento perdido no núcleo da Terra.

Eles vinham procurando esse elemento por décadas, acreditando que ele respondia por uma parcela significativa do centro do nosso planeta, depois do ferro e do níquel.

Agora, ao recriar as altas temperaturas e pressões encontradas nas profundezas do planeta, experimentos sugerem que o candidato mais provável é o silício.

O elemento é de grande utilidade na fabricação de semi-condutores e de componentes de máquinas e motores, e na produção de silicone.

A descoberta pode ajudar os cientistas a entender melhor como a Terra se formou.

Em entrevista à BBC, o responsável pela pesquisa, Eiji Ohtani, da Universidade de Tohoku, no Japão, disse acreditar que o silício é um "elemento importante".

"Cerca de 5% (do núcleo interno da Terra) do peso do nosso planeta pode ser silício dissolvido em ligas metálicas de ferro-níquel", explicou ele.

Difícil de alcançar

Cientistas acreditam que a estrutura mais interna da Terra é um bola sólida com um raio de 1,2 mil quilômetros.

Como é impossível acessá-la diretamente, eles estudam como as ondas sísmicas atravessam a região para detalhar sua composição.

Essa parte é principalmente composta de ferro, que corresponde a 85% de seu peso, e níquel, que responde por outros 10%.

Somando esses dois elementos, sobram ainda 5% restantes.

Para conduzir o experimento, Eiji Ohtani e sua equipe criaram ligas metálicas de ferro e níquel e as misturou com silício.

Eles, então, submeteram esses materiais às imensas pressões e temperaturas que existem no interior da Terra.

Os cientistas descobriram, então, que essa mistura correspondia àquela observada nas profundezas do planeta a partir de dados sísmicos.

Ohtani afirmou que mais pesquisas são necessárias para confirmar a existência de silício e descartar a de outros elementos.

Formação do núcleo

Comentando sobre o estudo, Simon Redfern, professor de Física Mineral do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, elogiou as descobertas.

"Esses experimentos são realmente instigantes porque fornecem uma janela sobre o interior da Terra logo depois de nosso planeta ter se formado, 4,5 bilhões de anos atrás, quando seu interior começou a se separar das partes rochosas", afirmou.

"Mas outros estudos sugeriram recentemente que o oxigênio pode ser um elemento importante na região", acrescentou.

Redfern afirmou que conhecer as profundezas da Terra pode ajudar os cientistas a entender melhor as condições que prevaleciam durante sua formação.

Especificamente, acrescentou ele, se o oxigênio era limitado naquela ocasião - fenômeno conhecido como condições redutoras. Ou se o elemento era encontrado em abundância ? nesse caso, descrito como oxidante.

Se uma grande quantidade de silício tiver sido incorporada ao interior da Terra há mais de 4 bilhões de anos, como indicaram os resultados do estudo japonês, isso teria deixado o restante do planeta relativamente rico em oxigênio.

Mas, caso contrário, se o oxigênio tiver sido sugado para o interior do núcleo, o manto rochoso em torno dele teria ficado privado do elemento.

"De certa forma, essas duas opções são alternativas reais que dependem muito das condições que prevaleciam quando o interior do núcleo da Terra começou a se formar", explicou Redfern.

"Os resultados mais recentes contribuem para o nosso entendimento, mas suspeito que não estejamos no fim da linha em termos de descobertas", acrescentou o especialista.

Os cientistas japoneses apresentaram as descobertas em uma conferência recente da União Geofísica Americana em San Francisco, na Califórnia.