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Óculos laranja promete capturar ondas de celular que atrapalham sono

Matt Nicoletti checa telefone com óculos laranja, em sua casa em Denver, EUA - Benjamin Rasmussen/The New York Times
Matt Nicoletti checa telefone com óculos laranja, em sua casa em Denver, EUA Imagem: Benjamin Rasmussen/The New York Times

Kate Galbraith

09/04/2015 16h43

Na maioria das noites, antes de assistir a uma comédia ou ler e-mails em seu celular, Matt Nicoletti coloca um par de óculos com lentes cor de laranja que comprou pela internet por oito dólares. “Minha namorada acha que fico ridículo com eles”, afirma. Mas Nicoletti, de 30 anos, consultor de hospitalidade de Denver, insiste que os óculos, que conseguem bloquear alguns comprimentos de onda emitidos pelas telas eletrônicas, faz com que fique mais fácil dormir.

Estudos mostraram que esse tipo de luz, especialmente as da parte azul do espectro, faz com que o corpo produza menos melatonina, um hormônio que ajuda as pessoas a pegar no sono. As opções estão crescendo para bloqueadores de luz azul, embora especialistas avisem que poucas delas passaram por testes adequados de efetividade e que a melhor solução ainda é evitar eletrônicos muito iluminados à noite.

Uma pesquisa suíça com 13 adolescentes, publicada em agosto pelo The Journal of Adolescent Health, mostrou que quando os garotos usavam os óculos com lentes pintadas de laranja, também conhecidos como bloqueadores de azul e feitos para prevenir a supressão de melatonina, de noite por uma semana, eles se sentiram “significativamente com mais sono” do que quando usaram óculos normais. Os meninos olharam para suas telas, como os adolescentes sempre fazem, por pelo menos algumas horas em média antes de ir para cama e foram monitorados no laboratório.

Adultos mais velhos podem ser menos afetados pela luz azul, dizem os especialistas, porque com a idade acontecem algumas mudanças nos olhos, como o fato de o cristalino ficar mais amarelado, o que ajuda a filtrar maiores quantidades dessa luz. No entanto, a luz azul continua sendo um problema para a maioria das pessoas, e um estudo anterior com 20 adultos de 18 a 68 anos descobriu que aqueles que usaram óculos com lentes cor de âmbar por três horas antes de ir para a cama melhoraram a qualidade do sono consideravelmente em relação a um grupo de controle que usou lentes amarelas, que bloqueia apenas a luz ultravioleta.

Aparelhos como smartphones e tablets geralmente são iluminados por um diodo que emite luz, ou LEDs, que tendem a lançar mais luz azul do que os produtos incandescentes. Televisões com retroiluminação de LED também são fontes de luz azul, mas como normalmente ficam a uma distância maior do que as telas pequenas, como as dos celulares, podem ter menos efeito, explica Debra Skene, professora de Neuroendocrinologia da Universidade de Surrey, na Inglaterra.

LEDs também estão cada vez mais populares como luzes para a casa, mas a lâmpada “branca morna”, com menos azul, geralmente é uma escolha melhor do que a “branca fria” para uso de noite. A empresa de dispositivos de iluminação Philips também faz uma lâmpada, chamada Hue, que pode mudar a intensidade das cores que a compõe por meio de um aplicativo. No mês passado, a GE anunciou uma lâmpada de LED com menos azul, destinada a ser usada antes da hora de dormir.

“Conceitualmente, qualquer coisa que diminua a exposição à luz azul de noite ajuda”, avisa Christopher Colwell, neurocientista da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. “Conheço alguns jogadores de games que são entusiastas daqueles óculos com lentes cor de laranja.”

Mas os óculos laranja não são uma panaceia, afirma Debra Skene.

“A questão não é apenas se livrar do azul e achar que está tudo bem”, explica.

A intensidade da luz, além da cor, pode afetar o sono, diz ela, e nem todas as marcas de óculos pintados de laranja passaram por testes independentes em número suficiente para provar sua habilidade de ajudar no sono.

Telas que não têm retroiluminação, como acontece com alguns leitores digitais, são preferíveis às tipicamente iluminadas, avisa.

Nicoletti diz que os óculos laranja que usa, de uma marca de segurança industrial chamada Uvex, torna algumas cores, principalmente azuis e verdes, mais difíceis de distinguir. Ele também usa certos aplicativos feitos para alterar o impacto da luz azul em seus aparelhos dependendo da hora do dia: um aplicativo chamado f.lux para o computador e outro denominado Twilight para o celular.

Novas ideias estão surgindo. Uma empresa de Ohio chamada LowBlueLights.com, por exemplo, oferece filtros para bloquear a luz azul cobrindo a tela de equipamentos eletrônicos como iPhones e iPads. A empresa também vende luzes de LED “com pouco azul” e os óculos laranja.

Durante o dia, dizem os especialistas, a exposição à luz azul faz bem. Mas o melhor é a luz do sol que contém muitos comprimentos de onda diferentes.

“Isso é o que nosso cérebro conhece”, explica Kenneth P. Wright Jr., diretor do laboratório de Sono e Cronobiologia da Universidade do Colorado, em Boulder.

Um estudo de 2013 liderado por ele, publicado no jornal Current Biology, mostrou exatamente como tudo pode ser diferente sem luzes de noite: depois que os participantes acamparam nas montanhas por uma semana, seus corpos começaram a se preparar para dormir duas horas antes do que o normal.

Ao invés de apagar todos os aparelhos à noite, dizem os especialistas, é melhor usar uma tela pequena do que uma grande; diminuir a luz da tela e mantê-la o mais longe dos olhos possível; e passar menos tempo usando os equipamentos.

“Se você puder usar o iPhone por dez minutos ao invés de três horas, vai fazer muita diferença”, avisa Debra.