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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro chama Globo de 'lixo', mas procura votos na audiência da lixeira

Colunista do UOL

22/08/2022 09h19

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Bolsonaro abre na noite desta segunda-feira o ciclo de sabatinas do Jornal Nacional com os presidenciáveis. Os estrategistas da campanha imaginavam que o presidente ostentaria na entrevista o triunfo de um empate técnico com Lula. A desvantagem de 15 pontos, medida pelo Datafolha, deu novo significado à conversa com William Bonner e Renata Vasconcelos vital. O capitão chama a Globo de "lixo". Mas vai ao telejornal da emissora como quem procura votos na grande audiência da lixeira.

Integrantes do staff político de Bolsonaro avaliam que a aparição no telejornal mais visto do país tem potencial para melhorar a posição do candidato nas pesquisas. Mas revelam em privado o receio de que o presidente desperdice a oportunidade se repetir o desempenho exibido em agosto de 2018. Aliados de Bolsonaro esquadrinharam o vídeo de quatro atrás. Verificaram que o veneno começou a escorrer já na primeira intervenção.

Educado, Bonner pediu ao convidado que ocupasse sua cadeira "com cuidado", pois a bancada era giratória. E Bolsonaro: "Isso aqui tá parecendo uma plataforma de tiro de artilharia. Estou confortável aqui." Na sequência, distribuiu rajadas, como se levasse todas as suas virtudes presumidas no coldre. Respondia às perguntas com provocações.

Perguntou-se a Bolsonaro o que faria para evitar que mulheres recebessem contracheques menores que os dos homens? Ele respondeu que o salário de Bonner é "muito maior" que o de Renata. Insinuou que a folha da Globo é bancada pela "propaganda oficial do governo". Indagado sobre o auxílio-moradia que recebeu da Câmara apesar de ter imóvel em Brasília, disse que o benefício era tão legal quanto a "pejotização" dos jornalistas, que viram pessoas jurídicas para pagar menos impostos. Questionado sobre 1964, recitou editorial de Roberto Marinho em defesa do golpe. Ignorou editorial com reconhecimento posterior do erro.

Bolsonaro ouviu de aliados a previsão de que Bonner e Renata serão mais incisivos agora do que em 2018. Aconselharam-no a vigiar a língua, direcionando as respostas para a agenda que convém a campanha: benefícios sociais, deflação, costumes e escândalos do PT. Mas é grande o receio de que Bolsonaro volte a confundir a bancada do Jornal Nacional com uma plataforma de tiros.