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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Compra de prótese peniana e Viagra mostra como Bolsonaro amoleceu militares

Prótese peniana para disfunção erétil                              - Arquivo/Divulgação
Prótese peniana para disfunção erétil Imagem: Arquivo/Divulgação

Colunista do UOL

12/04/2022 20h16

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Nem bem os indícios de sobrepreço de até 143% na compra de milhares de comprimidos de Viagra pelas Forças Armadas deram uma baixada e já cresceu a informação de que o Exército adquiriu R$ 3,5 milhões em próteses penianas de 10 a 25 centímetros com recursos públicos.

Talvez se adolescentes pobres de escolas públicas e mulheres em situação de rua usassem farda, Bolsonaro não teria vetado, no ano passado, o projeto para garantir distribuição gratuita de absorventes a elas justificando falta de recursos. O país de Jair tem suas prioridades.

O deputado Elias Vaz (PSB-GO), que se especializou em cobrar informações do governo federal quanto aos gastos públicos, e o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) estão acionando o TCU e o MPF para saber por que o governo resolveu dar essa mãozinha a seus membros militares.

Da mesma forma, Vaz e o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) querem que os órgãos de controle investiguem os gastos com Viagra. Até porque, em ano eleitoral, sobrepreços têm a estranha mania de se transformarem em caixa 2, pingando em alguma campanha.

Forças Armadas são importantes para qualquer país, desde que saibam quem devem proteger. A sua potência está na capacidade de respeitar a Constituição Federal, não de obter benefícios em troca de ser usada para atender às necessidades de um governo de plantão.

Nos últimos três anos, Jair Bolsonaro conseguiu cooptar parte dos militares com cargos, vantagens na Reforma da Previdência, licitações de produtos de luxo para o oficialato. Cobrou, em troca, sujeição para degradar a democracia e cumplicidade enquanto garantia o vale-tudo ambiental na Amazônia.

Com isso, o chefe do Poder Executivo ajudou no rebranding das Forças Armadas. Com o capitão, a imagem transmitida pode ser uma cena de Pier Paolo Pasolini, com um comboio de veículos blindados, tossindo fumaça preta na Esplanada dos Ministérios, enquanto seus membros se beneficiam de Viagra e próteses penianas, camarão e filé mignon, pensões especiais para filhas não casadas e acesso a hospitais especiais.

Ou uma de David Cronemberg, com coronéis articulando bizarras reuniões em que se negocia com reverendos, servidores públicos e indicados de políticos, sobrepreço e propinas para a compra de doses de vacina contra a covid-19 enquanto pessoas morrem por falta de imunizante. Personagens não faltam uma vez que a CPI da Covid citou um rosário de coronéis, como Élcio Franco, Marcelo Blanco, Helcio Bruno...

Tanto que o presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou, no dia 7 de julho de 2021, que "membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatrua dentro do governo" e que os honestos devem estar muito envergonhados. Mas o ministro da Defesa e a cúpula das Forças Armadas subiram nas tamancas, ameaçando o Senado Federal com uma nota pública.

Gastariam melhor o seu tempo depurando suas próprias fileiras. Pois há militares que, com sua ação e inação, foram cúmplices da montanha de mais de 660 mil mortes por covid fomentada por Bolsonaro, como o general Eduardo Pazuello. Aliás, o Exército não só fez a egípcia ao absolver Pazuello, que ignorou as regras da corporação ao participar de uma micareta eleitoral com o presidente no Rio de Janeiro, como deu um mau exemplo para o seu contingente.

Durante os últimos três anos, Bolsonaro foi jantando parte das Forças Armadas de olho na sobremesa: o alinhamento de grandes contingentes das forças policiais às suas necessidades e uma possível insubordinação deles em relação ao resultado das eleições.

Enquanto continuar devorando as instituições, o presidente vai dobrá-las em nome de seu projeto de poder. Os militares correm o risco, diante de tanta genuflexão, de não levantarem tão cedo. Nem com ajuda.