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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Ipespe: Petrobras e Bolsonaro são principais culpados pela alta da gasolina

Colunista do UOL

20/05/2022 10h22

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Pesquisa Ipespe, divulgada nesta sexta (20), aponta que 44% dos brasileiros acreditam que, caso a Petrobras seja privatizada, os preços cobrados pelos combustíveis irão aumentar. Para 26%, nada mudará, enquanto apenas 19% creem que eles cairão. Os entrevistados pelo instituto apontam a empresa e Jair Bolsonaro (PL) como os maiores responsáveis pelas altas na gasolina, no etanol, no diesel e no gás de cozinha.

De acordo com o levantamento, 49% são contra a privatização, 38% a favor e 13%, não sabem ou não responderam. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais.

A pesquisa também perguntou qual seria a posição sobre a privatização caso a privatização levasse à diminuição nos preços dos combustíveis. Nesse caso, 67% seriam favoráveis à venda do controle da empresa e 27% se manteriam contra.

O tema da privatização voltou ao debate público com a chegada de Adolfo Sachsida, ex-assessor de Paulo Guedes na área econômica, ao comando do Ministério das Minas e Energia. Assim que assumiu, afirmou que vai trabalhar pela privatização da Petrobras com o aval expresso do presidente da República.

A declaração foi vista como uma tentativa de afastar a responsabilidade do governo federal pelos constantes aumentos nos combustíveis, mas que não vai se concretizar, pelo menos não neste mandato - seja pela oposição da opinião pública, pela oposição do Congresso inclusive de parte da base do governo e pelo longo tempo que o processo tomaria.

A pesquisa Ipespe, desta sexta, mostra que a população aponta Petrobras e Jair Bolsonaro como os principais culpados pelo aumento no preço dos combustíveis. Ambos estão numericamente à frente. Perguntados sobre quem tem "muita responsabilidade" pelo aumento dos combustíveis, 64% indicam a empresa e 45%, o presidente. Depois, vem a guerra na Ucrânia e os governadores (40%), os governos de Dilma e Lula (37%) e o STF (32%).

Bolsonaro já afirmou que não quer mais ser culpado pela alta nos preços e, por isso, quer vender a empresa. "Aumentou a gasolina? Culpa do Bolsonaro! Eu já tenho vontade de privatizar a Petrobras, tenho vontade. Vou ver com a equipe econômica o que a gente pode fazer. Eu não posso, não é controlar, mas melhor direcionar o preço de combustível. Mas quando aumenta, a culpa é minha", afirmou em 14 de outubro do ano passado.

A avaliação da oposição no parlamento é que a ação de Sachsida serviu para tentar convencer caminhoneiros, taxistas, motoristas e entregadores de aplicativos, entre outros grupos que fazem parte do eleitorado do presidente, que ele está fazendo tudo ao seu alcance para reduzir o preço.

Em outros momentos de alta nos combustíveis, Bolsonaro já ameaçou intervir e trocou presidentes da empresa - saiu Roberto Castello Branco, entrou o general Silva e Luna - que, depois, foi substituído por José Ferreira Coelho. Nenhum deles mudou a política de preços.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e aliado de Bolsonaro, também já defendeu a privatização. "Essa é a pergunta que tem que ser feita: então não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual a função da Petrobras no Brasil? É só distribuir dividendos para os acionistas?", questionou Lira também em outubro do ano passado.

A alta nos combustíveis provoca aumento de preços em outros setores, por encarecer o custo do transporte e do frete. Em meio a isso, assessores do presidente têm dados declarações para minimizar o aumento nos preços. Nesta quinta, o ministro Paulo Guedes afirmou que o país já saiu do "inferno" da inflação.

Contudo, o IPCA foi o mais alto para um mês de abril desde 1996 e acumulou 12,13% nos últimos 12 meses. De acordo com o Dieese, a cesta básica de alimentos em São Paulo aumentou 27% no mesmo período.

E as perspectivas não são as melhores: o próprio Ministério da Economia, algumas horas depois da declaração de Guedes, revisou para cima a sua projeção para a inflação oficial, subindo o IPCA de 6,55% para 7,9% em 2022. Outro índice, o INPC, vai até mais longe: a previsão foi de 6,7% para 8,1%.