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Paulo Sampaio

Rose endeusava Gugu, mas eles viviam separados, conta Telhada, ex-segurança

Em julho de 2019, o deputado Coronel Telhada recebeu Gugu, Rose e João Augusto em seu gabinete - Foto: Arquivo Pessoal
Em julho de 2019, o deputado Coronel Telhada recebeu Gugu, Rose e João Augusto em seu gabinete Imagem: Foto: Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

20/02/2020 14h17Atualizada em 19/05/2020 10h59

Durante quase quinze anos, entre 1991 e 2005, Paulo Telhada, hoje policial militar da reserva e deputado estadual em São Paulo, trabalhou na segurança pessoal de Gugu Liberato.

Nesse período, acompanhou o apresentador de perto, sabia da intimidade dele, do relacionamento com Rose Miriam — a mãe de seus filhos — e com as famílias de ambos.

De acordo com o deputado, da última vez em que esteve com Gugu e Rose, no ano passado, em seu gabinete, a médica parecia perturbada: "A Rose endeusava o Gugu. Era ele em um pedestal, e ela de joelho o dia todo, rezando pra ele. Não tô exagerando. Aquilo me irritava, porque ela se anulou. Deixou de ser a médica...(baixando a voz) tanto que no final ela estava com uns problemas psicológicos ferrados; quando esteve aqui, não falava coisa com coisa."

Telhada deixou de trabalhar para Gugu quando o programa "Domingo Legal" levou ao ar em 2003 uma entrevista com supostos integrantes do grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital), na qual eles ameaçavam de morte o padre Marcelo, os apresentadores José Luiz Datena e Marcelo Rezende.

A repercussão foi muito negativa para Gugu e para o programa, especialmente porque se soube depois que tudo havia sido forjado para conquistar audiência — os entrevistados não eram do PCC.

A investigação buscou o policial mais próximo de Gugu — ele, o (na época) major Telhada. "Eu levei a culpa, ", lembra. "Na semana seguinte, fui escrachado na TV todos os dias. Nada provado."

Veja a seguir a entrevista da coluna com o deputado. Procurados, nem a ex-assessora de Gugu, nem os advogados de Rose Miriam, Nelson Wilians, e o dos filhos de Gugu, Carlos Regina, quiseram se manifestar.

UOL — Como você começou a trabalhar com o Gugu?

Telhada — Um dia, eu me apresentei na PromoArte, empresa do Gugu, como tenente da Rota, perguntando se eles precisavam de segurança. Achei que, se me chamassem, no máximo seria para trabalhar com um "Dominó" da vida, um "Polegar". Na ocasião, me apresentaram a Germana, tia do Gugu. Foi ela que me colocou para fazer a segurança dele. Achei que não teria condições, imaginando que o Gugu tinha um esquema de segurança de presidente dos Estados Unidos. Não tinha nada.

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Você o acompanhava nos eventos profissionais e familiares também?

Os dois. Chegava a ficar três, quatro dias fora de São Paulo, quando ele fazia show pelo Brasil. Nas minhas férias, a gente viajava, fazia o (programa) "Viva a Noite", que era ao vivo, com quatro, cinco, dez, quinze artistas, e também o Sabadão Sertanejo, festa de peão. Conheci o Brasil com o Gugu. E, nisso, acabei conhecendo de perto o próprio Gugu Liberato. Um cara generosíssimo, atencioso, tratava todo mundo bem. Nunca o vi com raiva, nem mesmo nos momentos em que deveria ficar.

E a Rose?

A Rose tinha sido ajudante de palco dele. O tempo passou, o Gugu pôs na cabeça que queria ser pai. Ela o admirava muito, era deslumbrada. Ele tinha cautela a respeito da pessoa com quem iria se juntar.

Ele confiava na Rose?

Sim, por saber que ela tinha essa admiração irrestrita por ele. Ela era completamente devotada.

Você acredita que ela possa ter se tornado não confiável depois da morte dele?

A Rose jamais se colocaria contra o Gugu. Eu me lembro de quando eles começaram o relacionamento, eu participei de tudo. Fomos para a casa dele, no Guarujá (SP), para fazer fotos para a capa da "Caras". Ela topava tudo.

Então, ele a assumiu como mulher?

Era o glamour da TV. Ele tinha de mostrar que estava namorando, que ele ia (faz aspas com os dedos) casar, ter filhos. Ele quis montar uma situação.

Ele, então, a teria usado para forjar uma situação? Os advogados dizem que havia um contrato entre eles. Você sabia de alguma coisa?

Eu não sei exatamente os termos do contrato. Com certeza, está tudo claro lá. O Gugu era muito prudente. Com certeza colocou no papel que a Rose teria direito a isso, isso e aquilo. E ela topou. Tanto que eu dizia: 'Larga mão de ser burra, Rose. Você é mulher do Gugu.' Ela dizia: 'Não, Telhada, deixa, o Gugu quer assim...'

Gugu morreu aos 60 anos nos Estados Unidos (Reprodução) - Reprodução  - Reprodução
Gugu morreu aos 60 anos nos Estados Unidos
Imagem: Reprodução

Quando o Gugu decidiu ter filhos, ela não era mais ajudante de palco.

Não. O tempo passou, ela se formou em medicina. Se tornou otorrinolaringologista. O Gugu retomou contato com ela. Eu ia buscá-la na rua Santo Antônio, no Bexiga, onde ela morava.

Sozinha?

Sim. Eu a levava para a casa do Gugu.

Mas eles namoravam, ou era tudo pró-forma?

Teoricamente, namoravam. Quando ele me falou que ia ter um filho com a Rose, eu fique contente, porque ela é uma pessoa excepcional. Meiga, humilde. Não era o tipo que tinha intenção de ferrar o cara.

Ela endeusava ele, e isso sempre foi muito claro. Quando o João era pequenininho, a Rose tinha medo de pedir segurança para ela e o menino, e o Gugu ficar "chateado". Eu dizia: 'Você é mãe do filho do Gugu, caramba!'

Ela e o Gugu chegaram a morar na mesma casa?

A Rose ficou grávida ainda na rua Santo Antônio. Aí, quando o João nasceu, o Gugu montou uma casa para ela no Alpha 1 (condomínio de luxo na grande São Paulo). Se não me falha a memória, na alameda Áustria.

Eles então não viviam maritalmente, na mesma casa?

Que eu saiba, não. Eu fui buscá-lo várias vezes na casa dela, e o trazia de volta para a dele. Se eles tinham relacionamento sexual, eu não sei informar.

A Rose se relacionava com outros homens?

Nunca.

Até perguntei uma vez: 'Você não tem ninguém?' Ela: 'Não, pelo amor de Deus'. Eu tô te falando, ela endeusava o Gugu. Era ele em um pedestal, e ela de joelho o dia todo, rezando pra ele. Não tô exagerando.

Aquilo me deixava indignado, porque ela deixou de ser a médica, se anulou...(baixando a voz) tanto que no final ela tava com uns problemas psicológicos ferrados.

Gugu Liberato e Rose Miriam no Viva a Noite - Reprodução/Twitter/SBTClassic - Reprodução/Twitter/SBTClassic
Gugu Liberato e Rose Miriam no Viva a Noite
Imagem: Reprodução/Twitter/SBTClassic

Como assim?

Da última vez em que veio aqui (no gabinete de Telhada na Assembleia Legislativa de São Paulo), em julho do ano passado, com o Gugu e o João, ela estava transtornada, não falava coisa com coisa. Sabe quando a pessoa está fora de órbita?

Veio fazer o quê?

Telhada — Ela e os filhos vieram dos Estados Unidos, eles queriam me visitar. Vieram com o Gugu.

Como é o relacionamento dela com os filhos?

Ela é extremamente dedicada. Até demais. Tanto que os meninos, pelo que eu vejo, fazem gato e sapato dela. A Rose é muito 'molona', fala com aquele jeito dela (amolecendo a voz): 'Ah, filho'...

O Gugu respeitava a maternidade da Rose? Ela ficava com os filhos o tempo que quisesse?

Sim, ela ficava o tempo todo com eles.

Eu acho que a Rose teria todo direito agora de exigir valores. Mas ela abriu mão disso no início. Agora, quer correr atrás.

Quando você soube da morte do Gugu?

No dia mesmo (mostra mensagens de Rose no telefone).

O que se sucedeu com o Gugu foi, como se diz popularmente, uma "morte besta". Ele ia subir no sótão para consertar o ar condicionado e caiu da escada.

Na época, falaram isso mesmo, mas o Gugu nunca foi de mexer em ar condicionado. Imagine! Você acha que ele ia subir na porra de um sótão para consertar o ar condicionado? Mas oficialmente a história é essa.

E o que teria de fato acontecido?

A Rose, com certeza, sabe. Mas não quis entrar nisso com ela. Ela deve estar destroçada.

O Gugu era apegado aos filhos?

Muito. Ele amava o João. Era o orgulho dele.

Quem conheceu o Gugu, diz que ele era bem generoso.

Com todo mundo, sem exceção. Eu mesmo levantei minha vida graças ao Gugu Liberato. Ele nunca se negou, dentro do razoável, a ajustar meu salário. Me deu até um carro. Velho, mas deu. Uma Veraneio, 1985. Eu sempre fui louco pra ter uma Veraneio.

Quando não estava trabalhando, o que o Gugu fazia?

Assistia à TV. Muito programa internacional, para ver as ideias. Tudo o que era novidade de brinquedo, ele assistia. Era o ramo dele, Gugu sempre teve essa coisa com a área infantil.

E lazer? Ele usava a piscina da casa?

Eu nunca vi. Nunca o vi se divertindo assim. A gente viajava, ficava em bons hotéis, tal, mas ele não frequentava a piscina porque era o Gugu, iam fotografar. E ele não gostava de tirar a camisa porque era gordinho, tinha a maior bronca disso.

Ele era vaidoso?

Ele procurava manter a "aparência de Gugu". O Gugu era um produto. Mantinha o cabelo loirinho, fazia implante, tava sempre brigando contra a balança.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Gugu Liberato apresentava o programa "Domingo Legal"; o nome da atração de televisão foi corrigido