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Vídeos com urna que autocompleta voto para presidente são falsos

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

19/10/2018 04h00

Vídeos disseminados nas redes sociais, no WhatsApp e no YouTube no último dia 7, data em que aconteceu o primeiro turno, davam a entender que a foto do candidato Fernando Haddad (PT) aparecia na tela quando o dígito “1” era apertado em uma urna eletrônica usada na cidade de São Paulo.

ENGANOSO: Não se comprovou fraude em urna; Justiça afirma que vídeos são falsos

Um perito consultado pela reportagem analisou as gravações e concluiu que elas não demonstram fraude. A Justiça Eleitoral sustenta que os vídeos são falsos, que não é possível o voto ser completado sem que alguém aperte a tecla “confirma” e que não há indícios de fraude.

No dia 7, o candidato eleito ao Senado Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável Jair Bolsonaro, publicou uma versão do vídeo no Twitter, mas apagou-a horas depois. “Meu objetivo de alertar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi atingido, logo, retirei a postagem do vídeo”, argumentou.

Nos vídeos, é possível ver uma etiqueta colada na urna indicando que ela seria do modelo UE 2008 e estaria na zona eleitoral 404, na capital paulista. Esta zona fica no bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital paulista.

Embora tenham sido publicados no dia 7, os vídeos não exibem elementos que provem que a gravação aconteceu em uma sala de votação e no horário de votação.

O perito forense Maurício Raimundo de Cunto, da empresa Fonolab, ressalta que as versões diferentes do vídeo não exibem a urna eletrônica por completo. “Os vídeos são muito curtos, não estabilizados fisicamente e têm baixa qualidade. Todos os vídeos mostram ou a tela, ou o teclado, dando pouca importância a tê-los juntos na demonstração do suposto defeito, vício ou fraude da urna”, afirma.

“Os ruídos das teclas ouvidos nos vídeos são diferentes entre si e não há como se afirmar que foram editados. Não há como determinar com precisão se as teclas foram pressionadas sempre com a mesma força e pelo mesmo tempo, fato este que pode causar ‘bounces’, ou seja, ricochetes nos contatos das teclas produzindo supostamente erros de digitação”, explica o perito.

Perante o conhecimento deste perito, os vídeos não garantem a ocorrência de fraude da urna ou algo semelhante, mas ilustram uma aparente falha no sistema de entrada de dados via teclado

O que diz a Justiça Eleitoral

A Justiça Eleitoral usou quatro argumentos para contestar a denúncia a respeito desta urna: que o equipamento foi substituído, que não se constatou nenhuma fraude, que as urnas não completam o voto sozinhas e que os vídeos foram manipulados.

“O TSE compartilhou informações sobre o episódio no âmbito do Centro Integrado de Comando e Controle Eleitoral, coordenado pela Polícia Federal. Segundo informações obtidas, houve checagem policial no local, no próprio dia 7, junto com representantes do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo). A urna foi prontamente substituída e separada para auditoria. Não foram verificados indícios de fraudes no equipamento”, informou em nota o Tribunal Superior Eleitoral.

Ainda no dia 7, o TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) também se manifestou sobre caso ao publicar um vídeo feito por um técnico de edição que apontou supostas manipulações feitas na gravação disseminada na internet. Um dos argumentos é que outra pessoa pode ter digitado o teclado sem aparecer nas imagens. O material afirma que o vídeo é “uma fake news”.

Em nota publicada em seu site, o TSE reforçou a tese de manipulação do vídeo. “No momento em que o primeiro número é apertado, o teclado da urna não aparece por completo, o que sugere que outra pessoa teria digitado o restante do voto. É possível, ainda, constatar, no programa de edição, o ruído de dois cliques simultâneos, o que reforça essa tese.”

Por causa deste episódio no bairro de Cidade Tiradentes, o TRE-SP realizou no último sábado (20) uma audiência pública de verificação de urnas eletrônicas. A audiência demonstrou que a urna citada tinha um problema técnico que não resultava em fraude (ver aqui, aqui e aqui).

“Nessa urna específica, foram observados defeitos aleatórios em teclas diversas”, explicou o TRE-SP. “Cabe esclarecer que a Justiça Eleitoral promove a imediata substituição de qualquer urna eletrônica com defeito técnico. A propósito, a urna eletrônica auditada foi substituída no início da manhã (às 9h42) no dia da eleição, tão logo se tomou conhecimento da ocorrência de defeitos.”

A auditoria foi acompanhada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, por representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), de partidos políticos e um observador técnico internacional da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Gravação no local de votação é proibida

Caso o vídeo fosse feito no local de votação, o eleitor responsável pela gravação estaria cometendo um crime. A Lei das Eleições proíbe o uso de equipamentos eletrônicos diante da urna eletrônica. No artigo 91-A, a norma estabelece que “fica vedado portar aparelho de telefonia celular, máquinas fotográficas e filmadoras, dentro da cabina de votação”.

No Código Eleitoral, é considerado crime “violar ou tentar violar o sigilo do voto”. A pena é de detenção de até dois anos.

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