Programa de multivacinação não pretende rastrear população com microchips
É falso que o programa de multivacinação, que começa nesta semana no Amapá, seja obrigatório, em parceria com todos os laboratórios do Brasil e com as Forças Armadas, e que pretenda inserir microchips na população.
A desinformação usa uma matéria do g1 para sustentar a conspiração, mas o próprio texto do veículo explica que a finalidade do programa é combater a volta de doenças que já foram erradicadas.
O que diz o post
O post mostra um homem anônimo que diz que o Ministério da Saúde, em parceria com todos os laboratórios do Brasil (nas palavras dele: a Pfizer, Moderna e Astrazeneca, por exemplo) e as Forças Armadas vão começar a vacinar a todos obrigatoriamente a partir de agosto.
Na tentativa de respaldar sua fala, ele mostra matéria do g1 sobre a campanha de multivacinação, de 7 de julho, e cita matéria da Gazeta Brasil, sem mencionar o título, nem mostrar imagens.
O desinformador também afirma que nessas doses será inserido o reagente mensageiro tecnológico, o mrna. Segundo ele, este seria "o sistema tripartite operacional que foi aplicado por uma programação digital das doses através da covid-19".
Em seguida, ele alega que agentes passarão de porta em porta para aplicar a vacina, que será padronizada, e aplicada obrigatoriamente em escolas, faculdades, rodovias e estradas, cidades, pontos litorâneos e que o governo vai, com isso, começar "a fechar o cerco".
O homem ainda comenta que, caso a pessoa não queira se imunizar, o aplicador da vacina vai anotar o motivo e catalogar no sistema.
Por fim, ele diz que a informação será compartilhada com o banco de dados militar para que seja feita uma busca ativa para a aplicação da dose, que é obrigatória. "Os celulares serão rastreados, verão os créditos das contas bancárias e colocarão um 'x' na porta de quem recusar a dose", acrescenta.
A negação da imunização, de acordo com o autor do post, fará com que a pessoa seja "excluída da sociedade futuramente, perdendo todos os benefícios que o Estado poderia te ofecerer".
Por que o post é falso?
A vacina não possui microchip. Ao contrário do que o homem alega, em 2020 já foi desmentida a teoria conspiratória que as vacinas contra o novo coronavírus terão "microchips" para colher a "identidade biométrica da população" (aqui). Ainda não há notícia de que qualquer vacina com microchip esteja em desenvolvimento no mundo.
O programa de multivacinação não é obrigatório e tem como finalidade combater o risco de reintrodução de doenças já eliminadas pela vacinação, como diz a própria matéria do g1 (aqui).
O Ministério da Saúde pretende, de fato, buscar ativamente os não vacinados. Também planeja vacinar em escolas, em qualquer contato com o serviço de saúde, realizar a vacinação extramuros (fora das unidades de saúde), checar as cadernetas de vacinação e intensificar a vacinação em áreas indígenas.
A justificativa é direcionar os esforços e se adaptar à população, à estrutura de saúde e à realidade socioeconômica e geográfica do país.
A campanha também não começa em agosto, mas agora em julho. O primeiro estado que aplicará o programa de multivacinação é o Amapá, de 15 a 30 de julho. O último será Minas Gerais, de 21 de outubro a 4 de novembro.
Não é possível encontrar a referência na Gazeta Brasil. A reportagem procurou no site do veículo a matéria de duas formas diferentes: primeiramente pelas palavras-chaves do assunto (aqui) e depois por aspas da suposta leitura feita durante a gravação (aqui), mas nenhuma das estratégias foi bem sucedida.
O Ministério da Saúde não tem parceria com todos os laboratórios do Brasil, nem com as Forças Armadas para a multivacinação. Em nota ao UOL Confere, o Ministério da Saúde disse que "a informação do referido vídeo é falsa e que a pasta segue adotando a vacinação de forma não compulsória buscando resgatar a confiança da população nas vacinas e na cultura de vacinação do país".
Procurado, o Ministério da Defesa não respondeu.
A Pfizer, Moderna e Astrazeneca não são laboratórios brasileiros. A Pfizer, apesar de estar presente no Brasil desde 1952 (aqui), foi fundada em Nova York, nos EUA.
A Moderna, fundada em 2010, também é dos Estados Unidos, tendo sua sede em Cambridge, Massachusetts (aqui). O laboratório, entretanto, nem sequer está presente no Brasil.
A Astrazeneca, apesar de estar presente no Brasil desde 1999 (aqui) -ano de sua fundação internacional-, é proveniente da fusão de um laboratório suéco, o Astra AB, e um laboratório britânico, o Zeneca Group (aqui).
Viralização. Compartilhado em 10 de julho no Facebook, o post soma 886 curtidas, 534 comentários, 1 mil compartilhamentos e 59,8 mil visualizações.
Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.
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