É falso que Leonardo recomendou suposto tratamento que 'elimina' diabetes
Tiago Minervino
Colaboração para o UOL, em Maceió
26/01/2024 19h20
É falso que o cantor Leonardo tenha indicado um tratamento para diabetes capaz de "eliminar" a doença, como afirmam postagens nas redes sociais.
A publicação desinformativa usa um vídeo de agosto de 2023, no qual em nenhum momento o artista fala de diabetes ou que tenha sido hospitalizado pela doença. Ele também não recomenda nenhum especialista na área.
Em nota ao UOL Confere, a assessoria de imprensa do sertanejo afirmou se tratar de uma fake news e reiterou que o famoso não sofre com diabetes.
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O que diz o post
Postagem que circula no Facebook mostra um vídeo de Leonardo, em que o sertanejo supostamente fala sobre sua luta contra o diabetes. Sobreposto à imagem do famoso, está escrito o seguinte: "ACABE COM A TP2 e TP1 GOTAS E CÁPSULAS ELIMINA A DIABETES NÃO SEJA MAIS UMA VITIMA CLIQUE NO BOTÃO".
Na legenda do post, é colocado o texto: "ENTRE EM CONTATO AQUI HISTÓRIA INCRÍVEL DO NOSSO QUERIDO LEONARDO...".
Ao clicar na gravação, o usuário escuta um áudio que simula a voz do artista, com a seguinte mensagem: "Muitas pessoas não sabem dessa história, mas há 10 anos eu convivi com a diabetes, já deixei de fazer alguns shows por causa disso. Eu sofria muito com o cansaço no meu dia a dia, dores nas pernas e era muito ruim não poder comer as coisas que eu gostava. E durante esses 10 anos, a minha vida era um caos por causa do diabetes. E em 2021 eu quase perdi a minha vida porque eu fui parar na UTI e fiquei dois dias desacordado porque a minha glicemia estava muito alta e por sorte eu consegui sair dessa vivo. Essa situação me deixou muito angustiado, foi um dos piores momentos da minha vida e eu já estava cansado de ouvir as mesmas coisas dos médicos 'você precisa parar de comer tudo que gosta, você tem que tomar metformina, você tem que fazer isso e aquilo' e bla bla bla... E aí decidi procurar com todas as minhas forças uma solução, gastei com médicos, dietas caras, manipulados e não adiantou nada. E depois de procurar muito na internet, achei o contato de um especialista em diabetes que mudou a minha vida. Ele falou a verdade sobre o diabetes e os problemas que ela traz, algo pouco conhecido. E isso é um problema que atinge várias pessoas que já passaram dos 34 anos, depois de 15 dias usando o tratamento eu já comecei a sentir os efeitos e percebi a diferença no meu dia a dia. Eu era uma pessoa muito mais disposta e feliz no meu dia a dia, quando acabei o meu tratamento de cinco meses, contei para as pessoas mais próximas sobre esse especialista em diabetes e vou deixar o número dele para que outras pessoas que sofrem com isso, entrarem em contato com ele. É só você clicar no botão abaixo".
Ao clicar no contato recomendado, a propaganda enganosa direciona o internauta para uma conversa no WhatsApp, em que é ofertado um medicamento chamado "NewGlico".
Na foto do perfil do WhatsApp, é possível ver a imagem de um homem de óculos, com barba e cabelo castanhos. Junto a foto dele, aparece também o produto recomendado para tratar diabetes.
Na descrição do perfil no WhatsApp, há o site do suposto produto. A página alega que o NewGlico é "totalmente natural, sem nenhum prejuízo a sua saúde e aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)".
O UOL Confere simulou interesse no suposto produto contra diabetes. Ao iniciar a conversa, o homem se identifica como "especialista da NewGlico", mas não revela seu nome. Em uma conversa robótica, são enviados áudios e mensagens em texto, em que ele tenta convencer a adquirir o produto, que custa entre R$ 297 e R$ 697 a depender da quantidade de frascos comprados.
Por que é falso
Leonardo não é diabético e não gravou nenhum vídeo em que recomenda um suposto especialista na doença, disse a equipe do artista em nota ao UOL Confere. Ainda segundo a assessoria do sertanejo, os advogados do artista "já estão tomando as providências legais".
Na gravação original, Leonardo não fala sobre diabetes ou que tenha sido hospitalizado por causa da doença. Ele também não recomendou especialista da área durante a conversa. O vídeo original foi publicado em 07 de agosto de 2023, no canal do YouTube de uma empresa agrária (aqui), da qual o cantor é garoto propaganda, conforme foi anunciado em postagem no Instagram da empresa (veja aqui ou assista ao vídeo abaixo).
Vídeo foi editado com inteligência artificial para manipular o áudio, com intuito de simular a voz de Leonardo, conforme análise feita por Leonardo La Rosa, diretor de segurança da Acadi-TI, a pedido do UOL Confere. O especialista ressalta que alguns detalhes dão indícios de que se trata de uma gravação adulterada, a exemplo da entonação e do sotaque do cantor, que a tecnologia não consegue reproduzir, o que passa a impressão de "voz robotizada".
Vídeo adulterado de Leonardo faz uso de um técnica conhecida como lip sync (dublagem) para imitar o sertanejo, disse La Rosa. "Foi utilizado lip sync para gerar a impressão de sincronismo labial durante a fala, dando a impressão de que a pessoa está falando realmente. Essa técnica fica evidente aos 13 segundos, quando o Leonardo coloca a mão sobre o lábio e a imagem da mão fica distorcida, pois a inteligência artificial perdeu a referência do lábio para aplicar o efeito".
Produto não tem registro na Anvisa, conforme informou a agência em nota ao UOL Confere. "Não foi localizado nenhum registro de medicamento ou de alimento com o nome New Glico", que tenha sido aprovado pelo órgão. Ainda, a agência ressaltou que, por se tratar de um suposto produto de suplementação alimentar, "não é permitido fazer alegações terapêuticas", além de não serem "passíveis de registro". Nesses casos, as empresas devem "comunicar o início de fabricação junto à vigilância sanitária local e nela serem regularizados".
Somente produtos aprovados pela Anvisa na categoria de medicamentos podem fazer alegação terapêutica, sendo necessário, para isso, condução de estudos clínicos, pelo interessado, que demonstrem a segurança e a eficácia do produto.
— Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Foto usada no contato do WhatsApp (veja abaixo) consta no banco de imagens internacional Freepik (aqui). Busca reversa no Google mostra que sua imagem também já foi usada para recomendar outros produtos, como uma voltado para o tratamento de problemas respiratórios (aqui).
Viralização. A postagem consta, nesta sexta-feira (26), com 926 mil visualizações, 18 mil curtidas, 1,5 mil comentários e 2,5 mil compartilhamentos no Facebook.
Este conteúdo também foi checado pela agência Reuters (aqui).
Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.