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Buscas em Niterói varam a noite, sem sucesso; já são 184 mortos no Rio

Veja mais fotos da tragédia provocada pela chuva no Rio de Janeiro - Sergio Moraes/Reuters
Veja mais fotos da tragédia provocada pela chuva no Rio de Janeiro Imagem: Sergio Moraes/Reuters

Do UOL Notícias*<br> Em São Paulo

09/04/2010 09h03

Atualizada às 10h47

O último balanço do Corpo de Bombeiros, divulgado na manhã desta sexta-feira (9), confirma que 184 pessoas morreram vítimas das chuvas no Rio de Janeiro (veja mapa abaixo). Em Niterói, cidade mais atingida, o número de mortos ultrapassou cem no início da noite de ontem. As buscas no morro do Bumba, em Niteroi, onde 17 corpos já foram retirados do deslizamento, aconteceram durante toda a noite, mas nada foi encontrado.

Cerca de 300 homens, entre integrantes da Força Nacional de Segurança (FNS), policiais civis, bombeiros e policiais militares, trabalham nas operações de resgate no local. As buscas não têm prazo para terminar e, segundo o governador Sérgio Cabral (PMDB), devem durar cerca de duas semanas. Equipes de resgate e prefeitura estimam que cerca de 200 pessoas moravam no local, onde existiam ao menos 50 casas, e podem estar soterradas.

Até o momento, foram registradas 107 mortes em Niterói, 57 na cidade do Rio de Janeiro, 16 em São Gonçalo, uma em Petrópolis, uma em Nilópolis, uma em Paracambi e uma em Magé. O número de vítimas, entre mortos e feridos, chega a 344.

O subcomandante do Corpo de Bombeiros, coronel José Paulo Miranda, afirmou nesta quinta-feira que será difícil resgatar alguém com vida.

Alerta na capital
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou hoje um decreto municipal que obriga o despejo de moradores em 158 bairros em áreas de risco, geralmente zonas de favelas construídas sem permissão nas encostas das montanhas.

Em entrevista à rádio CBN, Paes afirmou que se os moradores que resistirem à medida a polícia terá permissão para "usar a força". "Todos devem obedecer à Prefeitura e não voltar (para suas casas) até a liberação da área risco. Não vamos brincar com isso. As pessoas têm que entender que temos que proteger vidas", disse o prefeito.

As mortes na cidade aconteceram no morro dos Prazeres (20), na comunidade Santa Maria (6), no morro dos Macacos (5), no morro do Turano (5), no morro das Oliveiras (5), no morro do Borel (3), na ladeira dos Guararapes (3), na Rocinha (2), no Andaraí (1), no Recreio (1), em Humaitá (1), em Cascatinha (1), na Ilha do Governador (1) e na Quinta da Boa Vista (1).

Ressaca
Quase uma semana depois do começo do temporal, algumas ruas do Rio, principalmente nas colinas, continuam bloqueadas pelos desmoronamentos, embora a cidade esteja voltando a normalidade. 

Hoje o dia amanheceu nublado e com uma chuva fina. A previsão é de novos temporais, que podem contribuir para piorar a situação.

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Uma ressaca na orla da capital fluminense também está provocando transtornos aos cariocas. As ondas de quatro a cinco metros de altura interditaram uma das vias da avenida Atlântica, em Copacabana, que foi tomada pela areia e pela água do mar. A ressaca também provocou a interdição do Aterro do Flamengo, outra via expressa que faz a ligação entre a zona sul e o centro da cidade.

O mar da Baía de Guanabara também está bastante agitado e a água invadiu parte da cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont, prejudicando parcialmente as operações no local. A travessia de barcas e catamarãs entre Rio de Janeiro e Niterói também foi afetada

"A ressaca pode piorar ainda mais, porque a maré vai atingir o seu auge no início da tarde, então há mais riscos de mais areia e água invadindo as pistas", disse o oceanógrafo David Zee, ao ressaltar que um ciclone extratropical passou perto do litoral do Rio e aumentando o tamanho das ondas.

IML
A falta de documentos, perdidos com a chuva e com os deslizamentos de terra, está dificultando a liberação dos corpos das vítimas. A partir das 10h de hoje, dez defensores públicos do Estado do Rio de Janeiro estarão de plantão na sede do IML (Instituto Médico Legal) e na sede da Defensoria Pública para dar assistência jurídica às famílias e pedir alvarás à Justiça para sepultar os corpos que não podem ser identificados.

Área de lixão
O morro do Bumba, que hoje abriga moradias precárias, era ocupado por um antigo lixão. Em meio aos escombros é possível observar toneladas de lixo.

“Isso aqui é um lixão que se encharca muito mais rapidamente em comparação com outros morros. O solo vai ficando ensopado e ocorre a formação de gás metano. Com tudo isso, o ângulo estável fica muito menor. A prefeitura deveria ter um cadastro desta área, que é de altíssimo risco", explicou Adalberto da Silva, professor de geologia do Instituto de Geociências da UFF (Universidade Federal Fluminense).

A secretária Estadual do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, afirmou que o deslizamento pode ter sido provocado por uma explosão ocorrida quando o gás metano do lixão entrou em contato com a atmosfera movendo a terra que já estava debilitada pelo acúmulo de água da chuva.

O prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, visitou o morro do Bumba nesta quinta-feira e afirmou que não sabia que as casas da região tinham sido construídas sobre um lixão.

Mas, reportagem do UOL Notíciasrevelou que a prefeitura da cidade não colocou em prática um plano de prevenção de riscos elaborado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), com financiamento do Ministério das Cidades e da própria prefeitura. Finalizado em 2007, o plano custou R$ 120 mil e previa ações em vários pontos suscetíveis à ocorrência de desastres causados pela ação do tempo.

A Polícia Civil informou que abriu um inquérito para apurar eventual responsabilidade do poder público no deslizamento. 

Tragédia estadual
O temporal que provocou a tragédia no Estado do Rio teve início no final da tarde de segunda-feira (5) e levou o caos à capital e à região metropolitana, que praticamente pararam na terça-feira. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), somente na terça-feira choveu mais do que o esperado para todo o mês de abril na região.

Segundo a Defesa Civil do Estado, o número de desabrigados em municípios das regiões metropolitana, Baixada Fluminense, Baixada Litorânea e Serrana mais atingidos pelas chuvas dos últimos dias é de 3.262, enquanto que o total de desalojados já soma 11.439 pessoas. Somente na capital, são cerca de 5.000 desabrigados.

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 * Com agências internacionais e Agência Brasil.