Número de bebês mortos em maior maternidade de AL chega a 21; médicos defendem intervenção
Vigilância descarta interdição em maternidade após morte de bebês
A direção da maternidade Santa Mônica, em Maceió (AL), confirmou nesta quarta-feira (28) a morte de 21 bebês que estavam internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) durante o mês de abril. Os óbitos estão sob investigação da Vigilância Sanitária Estadual e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.
Um relatório com detalhes das mortes deve ser apresentado pela Vigilância já nesta sexta-feira (30). Enquanto isso, o Sindicato dos Médicos defende a intervenção do Ministério da Saúde na maternidade. Já a Defensoria Pública também aguarda os relatórios da Vigilância e da própria maternidade para cobrar judicialmente providências para melhorar o atendimento e reduzir no número de óbitos.
Segundo direção da maternidade, faltam insumos e profissionais para trabalhar na unidade. A estrutura física também é considerada precária, e quantidade de leitos não comporta a demanda do Estado.
Mesmo sem revelar detalhes da inspeção feita nesta quarta-feira, o diretor da Vigilância Sanitária Estadual, Paulo Bezerra, avaliou a situação da Santa Mônica como “desesperadora”. “Realmente a gente sabe dos problemas graves da Santa Mônica, e estamos analisando a situação sanitária para indicarmos o que pode ser feito. Se não houver condição de funcionar, vamos interditar, mas creio que não será necessário”, analisou.
Intervenção federal
Para o Sindicato dos Médicos de Alagoas, a situação da Santa Mônica é de “caos” e necessita de uma intervenção federal. “Falta tudo lá dentro, desde fralda para as crianças até detergente para os médicos da UTI lavarem as mãos, como aconteceu nesta segunda-feira e terça-feira. Recebemos as denúncias dessas mortes por infecção e já denunciamos ao Ministério Público. A última solução para a maternidade é uma intervenção do Ministério da Saúde, como aconteceu em outros estados e resolveu”, disse ao UOL Noticias o presidente do sindicato, Wellington Galvão.
Segundo ele, a maternidade não oferece condições de trabalho aos profissionais e os salários não compensam pelo volume de trabalho. “Nós já tivemos muitos casos de demissão, porque os médicos não aguentam essa situação. Os que estão lá são heróis, abnegados, porque não compensa trabalhar numa maternidade que não oferece a mínima condição de exercermos o trabalho com dignidade”, assegurou.
Mortes “normais”
Apesar de o número ter chamado a atenção da Defensoria Pública e das entidades médicas, o diretor da maternidade, José Carlos Silver, assegurou, em entrevista coletiva nesta quarta-feira, que o número de mortes está “dentro de uma média estabelecida pela OMS [Organização Mundial de Saúde]”. “O que tem que ser analisado é a qualidade dessas mortes, e não a quantidade. Eram bebês de alto risco, e que corriam mais risco de morrer”, afirmou.
Das 21 mortes registradas este mês, três delas foram registradas no último domingo (25) por infecção hospitalar. “Dessas, apenas duas foram infecções adquiridas aqui na unidade. Ao todo, das mortes neste mês, somente cinco foram de infecções adquiridas aqui dentro. As demais vieram com problemas de fora”, justificou.
Mesmo considerando “normal” o número de mortes, Silver reconheceu a necessidade de uma investigação dos óbitos e a falta de insumos e médicos na maternidade. “Nós realmente temos problemas graves aqui, e o principal dele é a falta de médicos e estrutura física deficiente. Esses dois problemas não podem se resolvidas pela maternidade, e sim, pela Secretaria de Saúde. Não temos recursos”, declarou.
Segundo ele, existem apenas 21 neonatalogistas trabalhando na maternidade, quando seriam necessários 49. “Estamos com menos da metade dos profissionais necessários. Temos 28 vagas em aberto e existem duas razões para isso: a primeira é a sobrecarga de trabalho. A segunda é o salário, que não chega a R$ 2.000. Mesmo que se abra concurso, com esses valores irrisórios pagos, os médicos vão continuar sem interesse”, afirmou.
Nesta quarta, a UTI da maternidade está com a capacidade máxima: 18 bebês ocupando todos os leitos. "Não podemos - eticamente e até judicialmente - negar a entrada de novos pacientes, porque aqui é o único local que atende a esses bebês. O que estamos fazendo é uma reorganização para tentar atendê-los da melhor forma", analisou.
Desde o dia 23 de março, a maternidade do Hospital Universitário está fechada para reforma e, por conta disso, a Santa Mônica é hoje o único local para atender gestantes e bebês de alto risco no Estado.
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