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Sem nenhum prédio público de pé, Branquinha (AL) já planeja mudar de local

Em Branquinha (AL), todos os prédios públicos foram destruídos pela força das águas - Beto Macário/Especial para o UOL
Em Branquinha (AL), todos os prédios públicos foram destruídos pela força das águas Imagem: Beto Macário/Especial para o UOL

Beto Macário e Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Branquinha e em Maceió

23/06/2010 14h19

Entre as 26 cidades afetadas pelas enchentes em Alagoas, Branquinha, a 62 km de Maceió, apresenta um cenário de destruição bastante desolador. Com 12 mil habitantes, o município viu todos os seus prédios públicos e comércio serem inundados pelo rio Mundaú na última sexta-feira (19). Nas conversas informais pelas ruas, ouve-se constantemente a expressão de que o município praticamente "sumiu do mapa".

Se não bastassem os seis mortos, os 50 desaparecidos, os 4.300 desabrigados e as 800 casas destruídas ou danificadas, a população está sem energia elétrica e sem água potável há mais de 100 horas. Enquanto a maioria das outras cidades já pensa na reconstrução das casas, Branquinha, às margens do rio, pensa para onde vai.

A prefeita Renata Moraes reconhece que a destruição foi total e quer descartar a hipótese de uma reconstrução no mesmo local da tragédia. “Eu não tenho mais cidade. Ela foi devastada, se acabou. Branquinha como conhecemos é passado”, declarou.

A prefeita se refere especificamente à parte baixa, onde está o centro da cidade e existiam comércio, escolas, delegacia, posto de saúde, administração e todos os demais serviços básicos do município. “Não cometeremos o mesmo erro do passado. Com a ajuda do governo do Estado e federal, tenho fé que construiremos uma nova Branquinha na parte mais alta da região”, disse ela, ao lembrar da maior enchente que até então se tinha notícia na cidade em 1969.

Naquele ano, a região do Vale do Mundaú sofreu com as fortes chuvas, mas resistiu e ressurgiu no mesmo local. Acreditavam que a tragédia não se repetiria. Mesmo com a destruição à época, a população voltou à região afetada. A cheia foi presenciada por seu Amaro Coel, conhecido na cidade como “Gavião”. Aos 67 anos, ele lembra bem do que aconteceu em 1969 e é enfático: “comparado com este ano, aquilo foi fichinha”.

Mesmo tendo a experiência de conviver com a tragédia, Amaro resolveu continuar na cidade. “Eu nasci e cresci aqui. Tenho um ponto comercial, onde meu filho tem um negócio próprio. Então, não dá para sair e deixar ele para trás”, justificou. Ele lamenta ao lembrar conhecidos que morreram na cidade, e é taxativo ao afirmar que, “se a enchente tivesse sido à noite, tinha matado todos na cidade”.

Além de perder casa e pertences, as vítimas ainda tentam fechar as portas para conter uma onda de saques. É o caso da dona-de-casa Gedilsa Silva, 42. No imóvel onde residiam três famílias, ela ainda vasculha os escombros. “Eu me pergunto o porquê de fechar este portão [da casa onde morava, parcialmente destruída]. Mas isso é o mínimo que eu posso fazer”, explicou.

Cidade de SP também 'sumiu'

  • Joel Silva/Folha Imagem

    Tragédia ocorreu em janeiro em São Luiz do Paraitinga, que perdeu 80% de seu patrimônio histórico

Ela afirma que nunca viu nada parecido e ainda a sente a dor de uma perda. “Eu acabo de enterrar um amigo meu, era como um filho” lamentou.

Serviços precários

Os recursos na cidade são escassos, já que houve grande perda de mantimentos. “Até agora não estamos recebendo ajuda de fora. Pode estar chegando água, comida lá em cima. Mas aqui em baixo, está difícil”, denunciou Cremilda dos Santos, 35. A cidade está sendo abastecida com água por meio de carros-pipa.

Funcionária da prefeitura, ela garante que os esforços dos municípios vizinhos são o que garantem o básico de assistência para as vítimas. “Caso o contrário, prefiro nem pensar como seria”, lamentou.

A colega de trabalho dela, Maria Tamires da Silva, 22, conta que tudo aconteceu rápido. Mesmo informada de que estava chovendo muito, ela e a família resolveram ficar em casa, à beira do rio. “A água chegou de repente invadindo tudo. Não deu tempo de tirarmos nada de dentro da casa”, relembra.

Sem energia elétrica, o que sobrou do comércio está parado. O único posto de combustível da cidade só serve de abrigo. “Não dá para refrigerar alimentos, nem abastecer os carros. Desde sábado não entra um centavo no caixa”, declarou o frentista, Edmilson Nunes.

Segundo o secretário de Estado da Infraestrutura, Marcos Fireman, um estudo será feito para saber as áreas onde as novas casas e prédios públicos de todos os municípios afetados poderão ser reconstruídos. “Vamos analisar todas as áreas para que a tragédia não se repita. Mas existiam locais que foram atingidos e que não eram de risco. Foi porque vivenciamos uma catástrofe sem precedentes”, informou.

Cidades que decretaram calamidade pública