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Secretaria do RJ quer reparar trauma de alunos de escola onde Wesley morreu em cinco dias

Daniel Milazzo<br>Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

20/07/2010 13h16

“É, nós vamos tentar”. É desta forma que Deolinda Montenegro, da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), responde quando questionada se o trauma causado nas crianças que presenciaram a morte do amigo Wesley Rodrigues, 11, na última sexta-feira (16), pode ser resolvido em apenas cinco dias. O garoto estava assistindo a uma aula de matemática quando foi alvejado no peito por um tiro de fuzil disparado durante confronto entre policiais militares e criminosos no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, bairro da zona norte do Rio.

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Com as aulas suspensas e a festa julina programada para esta quinta-feira (22) cancelada, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro enviou uma equipe do Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas Municipais (Proinape) para realizar um trabalho de menos de uma semana de assistência psicológica junto aos alunos, professores e funcionários do Ciep Rubens Gomes. De acordo com a secretaria, compõem a equipe dois psicólogos, três assistentes sociais e cinco professores.

“Ontem eu passei o dia inteiro lá. E o que nós vimos é que todos os responsáveis estão tranquilos em relação a continuar as aulas. O que nós temos são casos isolados, com as crianças que assistiram à situação”, afirma Montenegro, acrescentando que nesta terça-feira (20) um psicólogo iria até a casa de um dos alunos mais abatidos com a tragédia.

A coordenadora da 6ª CRE – responsável por dez bairros, entre eles, Costa Barros – alega que a escola já recebia atenção do Proinape, mas não soube informar com que frequência isso ocorria. “À medida que precisava. Quando existia alguma criança com alguma necessidade, a escola comunicava a CRE e o Proinape comparecia.”

“É um atendimento para que as crianças possam ficar mais tranquilas para iniciar as aulas dia 2 [de agosto]”, explica Montenegro sobre o trabalho da secretaria. A coordenadora acredita que gradativamente tudo será como antes na escola. “Já aconteceu, nós não podemos voltar atrás. Vai ser [retomada] a rotina normal.”

Por outro lado, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) informou que entrará com uma ação responsabilizando os governos estadual e municipal pela morte de Wesley e cobrará da Secretaria de Educação elaboração de regulamentação prevendo o fechamento das escolas quando detectada situação de risco. “Não é possível que mais crianças inocentes continuem morrendo por causa da ação da polícia”, declarou Vera Nepomuceno, coordenadora-geral do Sepe.

O Sepe já havia denunciado ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro os problemas de segurança nas proximidades de escolas públicas. Cerca de 150 mil alunos e 50 mil servidores frequentam escolas situadas em zona de risco. Em 2009, a Secretaria Municipal de Educação iniciou o programa Escola do Amanhã, com o intuito de combater a evasão escolar e melhorar o ensino em 150 escolas próximas a áreas de risco. O Ciep Rubens Gomes, onde morreu Wesley, fazia parte do programa.