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Advogados veem contradições e "inverdades" em nova audiência do caso Rafael Mascarenhas

Daniel Milazzo<br>Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

28/09/2010 16h35

Em audiência de defesa na tarde desta terça-feira (28) no Rio de Janeiro, os advogados de defesa dos policiais militares acusados de propina após o acidente que provocou a morte de Rafael Mascarenhas viram contradições e "sucessivas inverdades".

O advogado Claudenor de Brito, que defende o cabo Marcelo Bigon, qualificou de “sucessivas inverdades” as declarações concedidas nesta terça-feira (28) por André Liberal de Almeida, carona de Rafael Bussamra quando ocorreu o atropelamento do filho da atriz Cissa Guimarães, na madrugada do dia 20 de julho.

André afirmou que os policiais militares foram informados por Rafael que um atropelamento havia acabado de acontecer, mas ignoraram o fato e não se dirigiram ao local do acidente. De acordo com André, os PMs também ignoraram o estado do veículo, já avariado em virtude do atropelamento. O sargento Marcelo Leal e o cabo Marcelo Bigon respondem na Justiça Militar pelos crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica e descumprimento de missão.

Já o advogado Ekner Maia, que defende o sargento Marcelo Leal, considerou “excelente” o depoimento de André, justificando haver várias contradições entre os depoimentos do amigo de Rafael Bussamra, os do próprio atropelador e de seu pai. Maia não quis, porém, dizer quais eram essas contradições.

André, por outro lado, relatou não ter participado das conversas que os policiais tiveram com Rafael Bussamra e seu pai, Roberto, alegando não ter condições de afirmar que as partes discutiram o pagamento de propina.

Irmão de atropelador não foi ouvido

Guilherme Bussamra, irmão do atropelador Rafael Bussamra, não compareceu à audiência de hoje. Claudenor de Brito alega que o endereço de Guilherme que consta nos autos é o da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, mas Guilherme encontra-se em São Paulo. A alternativa para ouvir a testemunha é fazê-lo por meio de carta precatória, mas, considerando a greve no Tribunal de Justiça de São Paulo, o trâmite poderia demorar.

“A testemunha, ao ver da defesa, ela é imprescindível. Porque o pai, num primeiro momento, no escritório de seu advogado, disse que o filho estava com ele. Em juízo, o pai já presta nova versão e diz que o filho não estava. (...) A defesa quer saber se estava ou se não estava”, disse Brito.

A própria juíza da Auditoria de Justiça Militar, Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, perguntou se o advogado não iria abdicar da testemunha, lembrando que os PMs acusados continuariam presos durante este período. Brito manteve sua posição, alegando que, se Guilherme se mudou para São Paulo, “não pode esse ônus ser imputado à defesa”. Brito afirma que irá impetrar, ainda esta semana, pedido de habeas corpus para seu cliente junto ao Tribunal de Justiça do Rio com base nessa troca de endereço.

Funileiro confirma ter alterado carro

O funileiro Walter Antônio da Fonseca Filho disse em depoimento que foi o próprio Roberto Bussamra, pai do atropelador, quem comprou as peças necessárias para os reparos do veículo. Walter disse que a compra foi feita por volta das 8h40, próximo à Avenida Suburbana, subúrbio do Rio.

De acordo com o advogado do cabo Marcelo Bigon, seria impossível sair daquela localidade às 8h40 e estar às 9h20 no Centro da cidade entregando a propina aos PMs, conforme havia relatado Roberto Bussamra.

Além disso, o funileiro também confirmou que recebeu o carro em estado diferente daquele que aparece nas fotos que constam dos autos (com o pára-brisa cortado, lanterna e pára-choque removidos). A recomendação de Roberto teria sido a de trocar o capô, o pára-lama, pára-choque e farol de veículo. Segundo Walter, o pai do atropelador não informou, porém, qual era o motivo do conserto.

Ainda foi ouvido na audiência o tenente da PM Thiago Fernandes Queiroz, responsável pela supervisão. “A Prefeitura mais uma vez errou. Nem o tenente responsável pela supervisão sabia que o túnel estava fechado”, disse Brito a partir do depoimento do policial. “A Prefeitura é co-responsável pelo acidente”, acusa o advogado.