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Padre que teve testículos extirpados se recupera em SC; arcebispo fala em "desequilíbrio emocional"

Lucas Azevedo<br>Especial para o UOL Notícias

Em Porto Alegre (RS)

19/10/2010 13h56Atualizada em 19/10/2010 15h31

O padre Roque Gabriel, de 61 anos, se recupera de uma cirurgia de recuperação nesta terça-feira (19) após ter sido encontrado na tarde de domingo (17), em Santa Catarina, sem seus testículos.

Por volta das 18h do último domingo, Gabriel pediu socorro a um vizinho na praia da Meta, em Balneário Arroio da Silva, próximo ao município catarinense de Araranguá. A polícia foi chamada e encontrou o pároco ensanguentado, tentando conter o sangramento com uma toalha. Ele foi levado ao Hospital Regional de Araranguá, onde permanece internado com quadro estável. 

Segundo seus relatos, ele teria sido vítima de um assalto. Um casal teria entrado na residência e o rendido. No entanto, a polícia não descarta automutilação. O objeto provavelmente utilizado na mutilação é uma faca de cozinha afiada.

Na manhã desta terça, investigadores foram ao local e encontraram os testículos em uma fossa da casa. Os órgãos, após retirados, foram jogados no vaso sanitário e levados pela descarga.

De acordo com informações preliminares da polícia, o padre chegou à casa de veraneio, pertencente a um amigo, por volta das 16h de domingo. Segundo relatos de vizinhos, Gabriel, que vive em Porto Alegre (RS), ia frequentemente ao local. Lá, era conhecido pelos moradores e, inclusive, rezava missas para a comunidade.

Após integrar diversas dioceses, Gabriel está afastado do sacerdócio há quatro anos, segundo a Cúria Metropolitana de Porto Alegre.

Problemas psicológicos
A decisão da Igreja em afastar o padre se deu após queixas de fiéis e de seus comportamentos considerados "inadequados". Para o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, Roque Gabriel é um “desequilibrado emocional.”

Segundo o arcebispo, não houve nenhuma atitude ilegal confirmada por parte do padre, mas, após alguns indícios e por "precaução", a arquidiocese optou pelo afastamento do pároco, dado o “risco de pedofilia”.

“Não podíamos expor ele nem os fiéis. Também não queríamos mais que ele tivesse nenhum envolvimento com a Igreja. Por isso, o encorajamos a procurar um emprego de leigo, que ele trabalhasse em qualquer lugar, menos na Igreja”, disse.

Após ser afastado, Gabriel comandou sermões por outras arquidioceses pelo Brasil. Ele não tinha mais vínculo com a Igreja e, portanto, não poderia realizar mais nenhuma atividade sacerdotal.

Conforme dom Dadeus, a Igreja sugeriu um apoio psicológico ao padre, que não teria aceitado. “Ele se esquivava do tratamento. Na verdade, o padre tinha atitudes de criança, de adolescente. Embora adulto, sua idade psicológica não passava dos dez anos.”

Cirurgião já atendeu casos semelhantes
Integrante da equipe que operou o ex-padre, o cirurgião geral Luiz Jorge Beluco afirma já ter presenciado outros “quatro ou cinco” casos semelhantes, em três décadas atendendo na região.

“Foram durante os meus 30 anos de atendimento na região. Mas como não virou notícia, caiu no esquecimento e não chama a atenção”, disse à reportagem.

Segundo ele, essas ocorrências foram investigadas pela polícia e, em alguns casos -ele não soube precisar quantos– houve um agressor.