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"Político-apresentador", Wagner Montes nega semelhanças com personagem de "Tropa de Elite 2"

André Naddeo<BR>Do UOL Notícias<BR>No Rio de Janeiro

30/10/2010 07h05

As mais de seis milhões de pessoas que foram ao cinema assistir “Tropa de Elite 2”, do diretor José Padilha, coçaram a cabeça ao ver em ação o escrachado Fortunato, deputado estadual envolvido com a milícia do Rio de Janeiro cujo bordão é “faca na caveira e pau na malandragem”. Na trama o cenário é idêntico –com o Maracanã ao fundo– e o nome (“Mira Geral”) muito semelhante ao do programa do apresentador-político Wagner Montes (PDT).

Em entrevista exclusiva ao UOL Notícias, entretanto, o deputado estadual se desvincula da imagem. “Quando ele aparece na tela o pessoal pensa que sou eu. O jeitinho dele, e tal. Inclusive o pessoal no Twitter já me elogiou: ‘parabéns pela homenagem que fizeram, muito merecida’. Olha só!?”, diz Montes. “Eu não fiquei preocupado, não. Quiseram me jogar contra o filme, dizendo que usaram o ‘Mira Geral’ com relação ao ‘Balanço Geral’. Se for assim, meu irmão, se o cara amanhã fizer o ‘Alerta Geral’ vai parecer o ‘Balanço Geral’? Se o cara fizer o ‘Matador Fantástico’ vai pensar que é o ‘Fantástico’ da [TV] Globo? Então, o primeiro é que nós temos que prestigiar o cinema nacional. Segundo é que o filme é muito bom!”

O deputado ressalta que a trajetória do personagem é diferente da sua. “Quando foram entrevistar o André Matos [ator que faz o personagem no filme], ele foi muito objetivo. Ele falou: ‘Olha, me mandaram construir um personagem’. Aí a repórter perguntou: ‘Você é um apresentador que virou político?’. Ele: “Não, eu sou o político que virou apresentador para poder justamente ter mais prestígio’. Situação totalmente inversa à minha”, argumenta Montes. “Segundo, eu nunca fui preso, nem nunca serei. O cara é preso. E quando ele é preso, ele faz um gesto, assim [mostrando as mãos algemadas], que foi um gesto que ficou bastante caracterizado [na prisão do ex-deputado estadual do DEM, Natalino Guimarães, preso por chefiar uma milícia na zona oeste do Rio]”, completa.

Veja os melhores momentos da entrevista


Wagner Montes foi um dos deputados que apoiaram a CPI das Milícias no segundo semestre de 2008, implantada pelo também deputado estadual reeleito Marcelo Freixo (PSOL). Freixo tem relacionamento estreito com o pedetista. No lançamento de “Tropa 2”, Freixo foi um dos que desmistificaram o personagem Fortunato, “inocentando” Montes.

Vida de celebridade
A carga horária diária de trabalho de Wagner Montes gira em torno de 12 horas. Seu programa “Balanço Geral”, na TV Record, é assistido por cerca de dois milhões de pessoas de segunda a sexta-feira no Rio de Janeiro, deixando frequentemente o telejornal da emissora concorrente, a TV Globo, atrás no Ibope. Montes foi reeleito deputado estadual em primeiro lugar com 528.628 votos, 6,38% da votação válida, um recorde no Estado.

Alguns, entretanto, o acusam de se aproveitar de um programa popular para angariar votos da camada mais pobre da população. “Eu não tenho a mínima preocupação com nada, eu acho que o mais importante é a vida que você leva. Algumas pessoas achavam que pelo fato de eu ter vindo da televisão eu seria um artista na Assembleia. Provei para eles que não. Nunca tive uma falta sequer. Entrei para a vida pública não porque eu precise disso, pelo contrário, eu ganho na televisão quase 30 vezes mais do que eu ganho como deputado, então não há necessidade”, afirma.

Por onde passa, além dos autógrafos, ouve o grito de “escracha”, seu bordão, entoado pela população. Atual presidente da Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Assembleia Legislativa do Rio, conseguiu elevar a representação de seu partido de 6 para  11 deputados no Palácio Tiradentes graças a sua expressiva votação.

“Eu não seria hipócrita de dizer:  ‘Ah, foi por causa só do meu mandato’. Não. Deve-se também, principalmente, à grande audiência que tem o programa. E o programa também se mistura ao mandato, porque no programa também faço bastante prestação de serviço. Lógico que tem a parte policial, com as notícias policiais, mas até nesses momentos eu cobro mais policiamento, salários melhores e qualificação para os policiais, bombeiros e policiais civis”, diz o deputado.

Veja abaixo os melhores trechos da entrevista exclusiva ao UOL Notícias

“LEVEI MEU MANDATO A SÉRIO”
“Algumas pessoas achavam que pelo fato de eu ter vindo da televisão eu seria um artista na Assembleia. Provei para eles que não. Entrei para a vida pública não porque eu precise disso, pelo contrário, eu ganho na televisão quase 30 vezes mais do que eu ganho como deputado, então não há necessidade.

Eu não estou na Assembleia para me servir do cargo, estou para servir a população. Atendo muita gente na televisão? Atendo e resolvo até mais pela TV, mas o mandato parlamentar me dá o respaldo para cobrar ainda mais das autoridades. Eu passei 3 anos e 8 meses sem ter uma única falta sequer. Eu mostrei que dá para se fazer a política e apresentar um programa de TV ao mesmo tempo.”

MILÍCIAS
“Acho que a Casa agora ficou muito mais protegida. Acho que a população tomou conhecimento através do filme como funcionam as milícias e eles passaram a ser mais uma facção pela disputa do poder, da ganância...Mas nosso combate vai continuar. Nós não temos efetivo para tantas UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora]. Tem que se levar as UPPs para todos os lugares, como foi no [Jardim] Batan [favela antes ocupada por uma milícia que torturou uma equipe do jornal “O Dia”]. Mas o que acontece é o seguinte: quando vai para um local onde o tráfico está enfraquecido, entra a milícia.

E o problema da milícia é um só, que o Estado está caminhando passo a passo para não cometer erros. Não adianta você tirar a milícia e não entrar com a polícia. Se não o tráfico volta. É uma batalha diária das autoridades de segurança pública, e essa é uma preocupação do secretário [José] Mariano Beltrame, que é justamente se levar as UPPs para onde forem necessárias. Mas vai precisar colocar mais policiais e ao mesmo tempo tem que ser aprovada em Brasília a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que aumenta o salário deles e cria um piso nacional”.

INCOMODANDO OS OUTROS
“A minha audiência na Record é enorme também deve incomodar algumas pessoas. O que a gente sempre ouve é que estão armando aqui, armando ali, colocando cascas de banana...Vão perder tempo, né. Não consegue me atingir. Durante esses anos todos, graças a Deus, quem tem vida pública tem essa vantagem. Todo mundo me vê duas horas e meia por dia na televisão, todo mundo sabe onde me encontrar, eu não tenho a mínima preocupação com nada, eu acho que o mais importante é a vida que você leva. Lógico que você perde a privacidade. Mas eu digo sempre na TV: só se armarem, se plantarem alguma coisa. E se armarem, armem bem feito, porque se não, eu vou descobrir e aí vai pra ‘vala’, não vai ter jeito”.

ANDA ARMADO?
“Eu ando dentro da legalidade. Quando eu vou a alguns lugares, que podem ser de risco, aí eu vou com amigos policiais, amigos meus mesmo, que trabalham comigo, que estão junto de mim. A minha família está muito bem segura, minha casa é muito bem segura, dotada de equipamentos especiais. Eu falo tudo isso com tranquilidade. Não sou mais homem do que ninguém, eu acho que você tem que saber respeitar as pessoas. Agora, pode tentar a sorte. Os que tentaram, não tiveram sorte“.

PREFERE SER POLÍTICO OU APRESENTADOR?
“Eu prefiro ser os dois. Eu acho que dá para levar os dois com tranquilidade. Quer dizer, não, com tranquilidade dentro do normal, dentro do possível. Você trabalha mais, mas você também pode servir mais, você pode ajudar uma quantidade maior de pessoas. Agora, eu vivo do meu salário da televisão.

Significativamente, minha vida sem o salário da TV não daria. A não ser que eu me aposentasse e fosse viver de promover alguns eventos, fazer um programa só por semana, diminuir o meu ritmo de trabalho. Mas eu vivo desse salário e qualquer profissão que me tire da TV, se eu tiver que optar, eu escolho a televisão, porque eu não sou corrupto, portanto eu vivo do meu salário”.

PENA DE MORTE
“Eu já fui a favor da pena de morte, hoje sou a favor da pena de vida. A gente vai amadurecendo e vai aprendendo mais. Não é feio você mudar de ideia. Feio mesmo é você não ter ideia para mudar. Então eu acho que eu incomodo, tem gente revoltada com minha reeleição, mas eu não posso fazer nada. Eu creio em Deus, eu acho que o mais importante na sua vida é você ter a sua fé, independentemente de religião. E essa fé graças a Deus eu tenho”

PENSA EM SER PREFEITO OU GOVERNADOR?
“Tudo vai depender do que a lei determinar. Eu não vejo nada demais a pessoa ser prefeito ou governador, e apresentar um programa de TV. ‘Ah, mas aí, como vai fazer?’. Ou faz de manhã cedo, das 7h às 9h, o horário você adéqua à sua profissão nova, ao seu cargo novo. Pode fazer à noite, fora do seu expediente de trabalho. Então, o que eu preciso é subsistir e manter o meu padrão. Mas se tiver que diminuir o padrão, também não tem problema, eu nasci nu e estou aqui vestido. Não tenho problema de ganância, não quero poder pelo poder. Eu quero servir as pessoas, porque se hoje eu tenho o que tenho, cheguei onde eu cheguei, foi graças a essas pessoas. Eu passo na rua é direto o cumprimento: ‘Escracha, Escracha!’. Isso tudo me dignifica muito.

Agora se eu puder continuar na TV e ter algum outro cargo que meu partido se interesse em me lançar e a população queira que eu seja, eu vou lutar com tranquilidade. Provei que sou um bom político, fui reeleito, com quase cinco vezes mais votos do que a outra vez, a população depositou em mim a sua confiança, e eu vou honrar esses votos todos com minha decência, moral e verdade. Porque se um dia eu me sentir tentado, se algum dia eu sentir que não vou poder continuar por um motivo ou por outro, eu digo que tentei o máximo, mas não consegui, estou indo embora, muito obrigado.”