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Após destruição de 2008, cidades do Vale do Itajaí (SC) voltam a sofrer com as chuvas

Léo Pereira<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Florianópolis

05/02/2011 07h31

O Vale do Itajaí, em Santa Catarina, sofreu uma devastação devido às chuvas de novembro de 2008. Apesar dos danos terem ocorrido em menor escala neste ano, a população voltou a conviver com deslizamentos de terra, alagamentos, bairros destruídos, vias bloqueadas, famílias desabrigadas e até isoladas.

Maior cidade do vale, com mais de 300 mil habitantes, Blumenau já tinha sofrido com a enchente de 1983, quando 49 pessoas morreram. A jovem Nilsa Alves, então residente no bairro Garcia, ajudou as famílias que tiveram prejuízos. Há 16 anos, mudou-se para o Morro do Artur, e então passou a sofrer na pele os problemas causados pela chuva.

Compare os prejuízos provocados pelas chuvas em SC em 2008 e 2011

 Novembro/2008Janeiro/2011*
Cidades em situação de emergência6391
Cidades em estado de calamidade pública141
Mortes1356
Pessoas atingidas1,5 milhão860 mil
  • Fonte: Defesa Civil/SC
    *Números atualizados ate 16h de sexta-feira (4)

Em 2008, durante a tragédia que tirou a vida de 24 pessoas na cidade, Nilsa foi transferida para um abrigo e se tornou cozinheira voluntária. Agora, depois das chuvas dos últimos dias, presenciou mais uma vez a retirada de cerca de 150 famílias do morro.

“Ao contrário de 2008, as chuvas não fizeram estragos só nas casas, mas também nas ruas do bairro. Estou indignada porque não foi feito trabalho algum de prevenção com as famílias. Eu trabalho, estudo e não invadi essa área. Não moro aqui por gosto. Merecemos ser respeitados”, desabafa Nilsa, 35, mãe de dois filhos e grávida de seis meses. 

Naquele novembro, o volume de chuvas foi de 1.002mm (o previsto era 140mm). Os prejuízos com as enchentes foram estimados em R$ 700 milhões pelo município. Já nas chuvas deste ano, os danos ficaram concentrados na zona sul da cidade.

O plano municipal de áreas de risco foi revisto após a tragédia de 2008, e 600 casas foram demolidas, desde então, segundo informações do prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing. Desabrigados adquiriram novos imóveis por meio do projeto do governo federal Minha Casa, Minha Vida, mas, segundo o prefeito, ainda são aguardados recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para efetuar a dragagem dos rios.

Recentemente, Kleinübing esteve no Rio de Janeiro para conversar com prefeitos da região serrana –que registrou mais de 800 mortes devido à chuva do mês passado. “Passei para eles que o trabalho de recuperação após o desastre é de longuíssimo prazo. Não dá para tirar todo mundo ao mesmo tempo do local de risco.”

Ilhota

“Se tivesse chovido mais um pouco, seria quase igual a 2008”, afirma o coordenador da Defesa Civil de Ilhota, Paulo Roberto Drun. Há pouco mais de dois anos, a catástrofe vitimou 23 pessoas no município. Desta vez, não houve mortes, mas mesmo assim, algumas famílias que vivem no Complexo do Morro do Baú voltaram a ficar isoladas.

“O poder de percepção da população passou a ser mais aguçado, após o desastre de 2008. O povo conseguiu se reerguer, mas infelizmente, a cada chuva, surgem novos problemas”, declara Drun. Ainda assim, de lá para cá, foram repassados pelo governo federal ao município apenas R$ 3 milhões, usados na recuperação dos córregos e ribeirões, das estradas vicinais e na reconstrução de uma ponte na região.

Também estão sendo erguidas residências para os desabrigados em outro ponto considerado mais seguro no complexo. O coordenador da Defesa Civil deverá ir à capital federal na próxima quarta-feira (9) para tentar obter recursos. A intenção é pedir R$ 10 milhões para executar um projeto de abrigo permanente e um mapeamento de áreas de risco da cidade.

“O governo federal liberou recentemente R$ 30 milhões para serem divididos entre 90 municípios. Então, não custa ir até a Defesa Civil Nacional tentar mais verbas, com o apoio da bancada catarinense no Congresso. Se eu ficar aqui sentado, não vai adiantar nada”, diz Drun.

Gaspar

Em Gaspar, município ao lado de Blumenau que também decretou calamidade pública após a enchente de 2008, o cenário foi de guerra. Uma das áreas mais atingidas quando caem os temporais é o bairro Belchior, cuja parte baixa fica às margens do rio Itajaí-Açu. Porém, o medo maior era o que vinha do ponto mais alto da localidade: os deslizamentos.

“Era algo que nunca tínhamos visto, a terra descendo a toda velocidade. Acho que foi uma situação parecida com a do Rio de Janeiro, este ano” compara a dona de casa Sônia Reinert, 49, lembrando-se da tragédia fluminense.

Mas, se em 2008, foram 19 mortes registradas e 2.500 desabrigados, os números foram bem menores neste ano: 12 desabrigados. Ainda assim, 600 residências foram danificadas e 12 mil habitantes sofreram algum tipo de prejuízo –mais de 20% da população do município.