Dois agentes são afastados após fuga em massa em SC; presos usaram escova de dentes para fugir
O Departamento de Administração Prisional de Santa Catarina (Deap) abriu uma sindicância para investigar, nos próximos 30 dias, os motivos que levaram à maior fuga em massa de presos registrada no Estado. Por enquanto, a hipótese apontada é de falha no procedimento dos dois agentes, que foram afastados preventivamente. No fim da tarde desta segunda-feira (7), 79 detentos escaparam da Penitenciária Estadual de Florianópolis. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 49 fugitivos foram recuperados, além de outros três que eram foragidos de outras unidades. A Polícia mantém as buscas na região.
Segundo o diretor do Deap, Adércio Velter, a Corregedoria da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado interrogou presos recapturados, que disseram não ter havido um plano de fuga. Eles contam que se aproveitaram de portas abertas, no momento da entrega do jantar, para render os dois agentes com o cabo de uma escova de dentes –feita pelos próprios detentos–, e então pegaram as chaves para abrir as outras celas.
Os funcionários foram algemados a um alambrado, e ainda ficaram de cueca por 30 minutos, até a chegada da Polícia Militar ao local. Entre os que escaparam, havia suspeitos de homicídio, latrocínio e tráfico de drogas.
Em dezembro do ano passado, quando foi inaugurada a Central de Triagem, de onde os detentos fugiram, agentes prisionais reclamavam da falta de segurança do local. “Até o momento, tudo indica que foi uma falha no procedimento, mas vamos investigar para saber se ela foi por omissão, negligência, imperícia, favorecimento ou até mesmo por corrupção. A investigação será transparente e imparcial. Se foram constatados problemas no prédio, encaminharemos um relatório ao governo do Estado”, declarou Adércio, ressaltando que não houve danos na estrutura, como buracos na parede ou cadeados quebrados.
Diante da Corregedoria, os dois agentes rendidos preferiram não se manifestar, mas eles serão chamados novamente durante a sindicância. Outros dois servidores estavam no prédio, no momento da fuga, fazendo trabalhos administrativos. Também será verificado porque um dos funcionários portava arma de fogo dentro da penitenciária, o que é permitido somente com autorização da Secretaria de Segurança Pública do Estado, em casos de emergência. O revólver calibre 38, com munição, acabou sendo levado pelos fugitivos, além de duas espingardas calibre 12 com balas de borracha.
“Única penitenciária sem muros do país”
A Central de Triagem, que serve para abrigar pessoas que aguardam pelo julgamento, tinha 201 detentos para 216 vagas e funciona no Complexo Penitenciário de Florianópolis, que comporta 1.700 presos. O local fica no bairro Agronômica, zona nobre no centro da cidade. Há somente o muro na parte da frente do terreno, o que permitiu aos fugitivos escaparem pelos morros que ficam em volta, e se esconderem no matagal. “Somos a única penitenciária do Brasil que não tem muros em volta”, lamentou Joaquim de Oliveira, diretor da unidade.
Segundo o Deap, há um déficit de 1.700 servidores nos presídios e penitenciárias do Estado, apesar do número de presos chegar a 15.280 –atualmente, o sistema prisional catarinense possui menos de 9.000 vagas. Ainda assim, o departamento anunciou que vai implantar mudanças em procedimentos nas unidades, como a transferência de aproximadamente 50 servidores para o complexo da Agronômica. A intenção, futuramente, é mudar a estrutura para um local no limite entre os municípios de Palhoça e Paulo Lopes, na região metropolitana.
Agente prisional há 22 anos, Joaquim de Oliveira lembra que a penitenciária não registrava fugas de presos do regime interno desde 2009. “Ou a gente bota ordem na casa, ou...”, alertou o diretor, sobre o clima de tensão no local, após um princípio de tumulto durante uma operação pente-fino nas galerias pela manhã, quando houve protesto dos detentos por falta d’água, rapidamente controlado pela Polícia Militar. O diretor da unidade também lembrou que há apenas duas guaritas com policiamento no complexo, que tem 407 mil metros quadrados –à noite, apenas uma funciona.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.