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Manifestantes fecham rua em Higienópolis (SP) e realizam "Churrascão da Gente Diferenciada"

Rodrigo Bertolotto<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

14/05/2011 15h16

Travessas de farofa, cervejas no isopor, espetinhos de frango, pagode e palavras de ordem como "Vem para rua comer churrasco". Nesse clima, cerca de 300 pessoas fecharam a avenida Higienópolis nesta tarde de sábado (14), em frente ao shopping local, zona central da capital paulista, em protesto contra a desistência do governo de São Paulo de construir uma estação de metrô na avenida Angélica, a principal do bairro.

Depois a manifestação se deslocou pelas ruas do bairro até a esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, local onde inicialmente estava projetada a estação. Churrasqueiras portáteis foram instaladas no local e assaram chuchu, em referência ao apelido do governador paulista, Geraldo Alckmin. Não foram registrados atos de violência no ato que teve forte presença policial e da CET, a companhia de trânsito paulistana.

O "Churrascão da Gente Diferenciada", nome dado ao protesto por seus organizadores a partir de página na rede social Facebook, mobilizou estudantes, moradores e integrantes de movimentos sociais, que levaram um ambiente popular pelas ruas do sofisticado bairro. 

O nome da manifestação surgiu após uma declaração de uma moradora de Higienópolis em entrevista à Folha de S.Paulo. “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…” 

A concentração começou na praça Villaboim às 13h, com batucada e cerveja. Boa parte dos manifestantes, porém, foi diretamente para a frente do shooping Páteo Higienópolis. Várias faixas brincavam com a recusa da estação e classificação que o metrô traria o "povão" para a área requintada. "Metrô em Higienópolis vai ter entrada social e de serviço", "Só pego metrô em Londres e Paris" e "Churrascão da Gente Diferenciada. É nóis na fita".

Um rapaz imitando o governador Alckmin (com direito a capacete de plástico e camisa azul arremangada) brincava com a situação: "A estação não vai mais chamar Angélica. Vai ser a estação Luciano Huck. Está mais no nível do bairro."

Cantando um pagode, o estudante Jorge de Oliveira explicou a razão do protesto: "Viemos trazer um pouco da cultura diferenciada para eles apreciarem".

Participaram também do protesto cicloativistas e integrantes do movimento "Passe Livre", que luta contra o valor das tarifas de ônibus em São Paulo. Eles chegaram a incendiar uma catraca coberta de papel e tecidos e atearam fogo nela na frente do shopping. O curioso é que teve gente que usou a brasa para assar espeto de queijo.

O promotor Maurício Ribeiro Lopes, que pediu investigação para saber qual o real motivo da desistência de se construir a estação no local, também estava presente no ato. Segundo ele, é preciso saber se houve pressão de moradores ou se há uma razão técnica para a atitude. "Há indícios que o governo cedeu à vontade de parte dos moradores", disse o promotor.