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Parentes das vítimas do acidente no Recife recebem atendimento médico em hotel

Carol Guibu

Especial para o UOL Notícias <BR> No Recife

13/07/2011 12h38Atualizada em 13/07/2011 12h49

Os familiares das 16 vítimas da queda do avião na manhã desta quarta-feira (13) no Recife estão recebendo atendimento médico no hotel Atlante Plaza, no bairro Boa Viagem. A Noar Linhas Aéreas, proprietária da aeronave, organizou um espaço para dar atendimento médico e psicológico aos parentes das vítimas.

Uma equipe do Samu está no local. Muito abalados, os familiares não conversaram com a imprensa. De acordo com a assessoria de comunicação da empresa, os parentes das vítimas terão hospedagem, atendimento médico e psicológico. Um grupo de familiares está vindo de Natal para Recife.

  • Reprodução

    O avião modelo LET percorreu trajeto de 3 km entre o Aeroporto Internacional Gilberto Freire, em Jaboatão dos Guararapes, e um terreno baldio, localizado à beira-mar de Boa Viagem. O local da queda fica a 200 metros do Hospital da Aeronáutica do Recife

O irmão de Roberto Gonçalves, 55, piloto do avião, afirmou que o irmão estava substituindo um colega que não pôde trabalhar hoje e que com frequência reclamava de problemas mecânicos nas turbinas das aeronaves da empresa Noar. 

“Hoje ele substituiu um colega que, por problemas pessoais, não pôde fazer esse voo. Ele ligou ontem para meu irmão pedindo para ele substituí-lo”, afirmou Jairo Gonçalves, 50. “Ele sempre se queixava de falhas mecânicas nas turbinas e problemas na parte elétrica dos aviões. A última queixa que ele fez foi há três meses”, disse.

Segundo Jairo, o irmão morava em Paulista, no Grande Recife, deixou seis filhos, e trabalhava há 20 anos como piloto --dois na Noar. Um dos filhos de Roberto também é piloto de avião. O piloto chegou a informar à torre de controle que estava com problemas e que faria um pouso forçado, segundo informações da Aeronáutica.

A aeronave é um bimotor LET-410, fabricado pela empresa tcheca Let Aircraft, e saiu do aeroporto do Recife às 6h51 com destino à cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, com previsão de escala em Natal. A empresa informa que as habilitações técnicas e os certificados de capacitação física dos pilotos estavam regulares.

Passageiros pediram socorro

Erandir da Silva, 42, vigia do terreno onde o avião caiu, disse que tentou ajudar os passageiros, mas teve que recuar por conta de várias explosões no interior da aeronave. “Estava dormindo e escutei o barulho. Quando cheguei lá [no local da queda], o avião tava pegando fogo. Fiquei com medo de chegar perto por causa das explosões”, afirmou.

Segundo o vigia, os passageiros começaram a pedir ajuda de dentro do avião. “Vi o pessoal na janela pedindo socorro, mas quando cheguei perto começou a explodir. Senti remorso vendo o pessoal morrer sem poder fazer nada”, disse

O pesquisador Ilson Ferreira, 23, que também presenciou a queda do bimotor, disse que o piloto tentou desviar de uma casa, mas logo depois caiu de bico em um terreno.

“Estava sentado no calçadão [da praia] quando o avião pessoal, a cerca de 100 metros de mim. Ele já veio baixinho, cambaleando, passou raspando pela fiação”, disse. “Ainda tentou desviar de uma casa, mas foi aí que ele caiu. Tive vontade de ir ajudar, mas com as explosões fiquei com medo”, afirmou o pesquisador.

De acordo com Ferreira, o avião aparentemente estava tentando voltar para o aeroporto de Jaboatão dos Guararapes, já que, pouco antes de cair, estava em direção ao Recife e inverteu o sentido do voo.

Piloto informou problemas à torre

A Aeronáutica iniciou as investigações para apurar os fatores que contribuíram para o acidente. O piloto do bimotor chegou a passar informações de que estava tendo problemas para a torre de controle do aeroporto, mas o problema não foi solucionado a tempo.

O governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, disse que o governo dará apoio aos parentes das vítimas. "O Corpo de Bombeiros, a Polícia Civil, a Polícia Técnica e a chefe do IML estão no local tomando as medidas precisas. Estamos na expectativa da lista que divulgará informações sobre as vítimas que estavam a bordo para dar todo o apoio necessário aos entes queridos", disse.

O clima é tenso no balcão da Noar, no saguão do aeroporto de Guararapes. Uma senhora chorou e gritou desesperadamente em frente ao balcão da companhia para saber se o filho, Raul Costa Farias Cintra, estava no avião que caiu. Funcionários da empresa, no entanto, não souberam informar à mulher, e tentam acalmá-la.

Este foi o quinto acidente aéreo nos últimos quatro anos envolvendo pequenas aeronaves em Pernambuco

A reportagem entrou em contato com a Noar para que a empresa pudesse se posicionar diante das declarações do irmão do piloto. A empresa disse que desconhece a informação de que as aeronaves apresentavam problemas frequentes na turbina. A Noar não soube informar quando foi feita a última manutenção do bimotor.

A Noar

Com um ano de atuação no mercado regional, a Noar Linhas Aéreas operava com duas aeronaves modelo L-410, também conhecido como LET, e foi responsável pelo ressurgimento da aviação regional no Nordeste. A ideia era ocupar a lacuna deixada pelas grandes companhias aéreas, que não atendem com voos diretos os destinos regionais.

Segundo a empresa, a aeronave era considerada ideal para rotas de pequenas e médias. Por conta da queda, todos os voos desta quarta-feira foram cancelados. Os voos que foram suspensos estão sendo remanejados para outras companhias aéreas.

A Noar iniciou atuação no Nordeste, resgatando a aviação regional, em junho de 2010 e fazia viagens entre as cidades de Aracaju, Caruaru (PE), João Pessoa, Maceió, Mossoró (RN), Natal e Recife. A empresa havia anunciado, no mês passado, que estava adquirindo duas novas aeronaves idênticas a que caiu nesta quarta para ampliar o número destinos na região.