Pintura sacra oculta há mais de 80 anos é apresentada em Alagoas neste sábado
Uma pintura sacra do século 18 que estava coberta de tinta havia mais de 80 anos pode ser visitada a partir deste sábado (30) no altar-mor da Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, na cidade histórica de Penedo (156 km de Maceió).
A imagem de Nossa Senhora dos Anjos com o menino Jesus pintado no ventre foi resgatada após o trabalho de restauração do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e está completamente recuperada, segundo traços e pinturas originais. A imagem de Maria grávida de Jesus faz parte do conjunto de obras artísticas do cruzeiro do altar-mor da igreja do Convento Franciscano de Penedo.
Segundo o guardião do complexo conventual, frei José Teixeira, conhecido como frei Zezinho, a reforma e a restauração da Igreja foram necessárias devido à ação do tempo, que trouxe fungos na madeira e o desaparecimento do verniz.
Além do ataque de cupins, que arruinou a madeira das juntas dos altares e do forro do teto, outros espaços, como os altares, o púlpito, a escadaria e capitéis da igreja foram restaurados.
Imagens escondidas
A pintura do menino Jesus desapareceu na década de 1930, quando um frei alemão, guardião do convento à época, mandou cobrir todas as peças que tivessem alguma parte íntima à mostra.
Segundo frei Zezinho, por pudor, o frei alemão mandou cobrir de tinta o vestido da santa por inteiro para esconder a imagem de Jesus na barriga de Maria. Além disso, em outro altar, algumas imagens de índias desnudas e genitálias de todos os anjos que estavam à vista também foram cobertas.
Na década de 50, a igreja de Nossa Senhora dos Anjos passou por uma nova intervenção e perdeu sua originalidade. As cores rosa e azul, imitando o estilo da Igreja de Nossa Senhora das Correntes, também em Penedo, cobriram parte do emadeirado do local.
Mas devido ao bom estado de conservação em que se encontravam as pinturas e a forma em que a cobertura das imagens ocorreu, toda a beleza secular foi recuperada.
“O pintor atendeu às ordens do frei, mas deixou por escrito nos livros da igreja quais peças haviam sido alteradas, ele sabia da importância histórica e religiosa de cada uma. O pintor escreveu que tinha usado uma tinta diferente da original para que um dia, quando alguém resolvesse descobrir as pinturas, ficasse menos complicada a restauração”, informou frei Zezinho
Segundo ele, a igreja de Nossa Senhora dos Anjos é a segunda igreja católica do Nordeste que mais possui elementos decorativos nos estilos barroco moderno e português. “Perde apenas para outra em Salvador. Mas a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos tem uma beleza espetacular.”
De acordo com o Iphan, a recuperação da imagem original de Maria, bem como outras pinturas e peças sacras da igreja de Nossa Senhora dos Anjos, ocorreu após um trabalho minucioso.
Foram empregadas técnicas de decapagem e higienização para restaurar várias pinturas e imagens da igreja. Dessa forma, os técnicos conseguiram trazer de volta as cores originais de diversas peças e pinturas do local.
Os trabalhos de restauração da Igreja de Nossa Senhora dos Anjos custaram R$ 1,5 milhão, pagos pelo Programa Monumenta e pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para cidades históricas.
Ressagração
Depois de ficar um ano e dois meses fechada para a reforma, a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos deverá passar pela ressagração neste sábado (30), a partir das 19 horas. A cerimônia seguindo a liturgia católica, terá nova benção do bispo diocesano, dom Valério Brêda, que dará o tradicional beijo no piso e fará a consagração nas portas.
Além da ressagração, a igreja dará início ao Tríduo de Nossa Senhora dos Anjos, padroeira do convento, em comemoração ao dia da santa, 2 de agosto. Bispos e padres de Alagoas, além dos seis últimos guardiões do convento, deverão estar presentes na celebração.
A construção do Convento Franciscano de Penedo é datada no século 17. O local já abrigou um hospital e depois que passou por uma reforma voltou a abrigar atividades religiosas, com o nome de Convento Frei Camillo Lellis.
Junto a ele, no século 18 foi construída a igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o prédio da Terceira Ordem – que contém uma capela de uso exclusivo dos frades franciscanos. Todo o complexo conventual fica localizado no centro histórico de Penedo e foi tombado pelo Iphan em 1941.
Os traços arquitetônicos do convento e da igreja são da época colonial portuguesa. A arte barroca está presente no altar-mor. Os espaços fazem parte de uma linguagem artística que chama a atenção pela conjuntura de todos os elementos do local, que são integrados à arquitetura histórica.
Os altares e o altar-mor reluzem o brilho dourado de finas camadas de ouro, que revestem peças e pinturas. Para não estragar o brilho do ouro não é permitido o uso de flash para as fotografias.
Penedo
Penedo é uma joia da arquitetura da época do Brasil colonial à beira do rio São Francisco. O município reúne igrejas, museus, teatro, além do casario histórico - que fazem parte do centro histórico-cultural da cidade.
O nome Penedo originou-se de um imenso rochedo que se encontra à margem do Rio São Francisco e batizou o primeiro povoado alagoano, ao sul do Estado.
A cidade tem parte do patrimônio histórico preservado, tombado pelo Iphan. Além das Igrejas de Nossa Senhora dos Anjos (barroco moderno), Penedo possui outras igrejas que compõem a arquitetura religiosa.
Destacam-se a Igreja de Nossa Senhora da Corrente, a Igreja de São Gonçalo Garcia, a Catedral Diocesana Penedo e Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Penedo viveu parte dos grandes acontecimentos históricos mais importantes do Brasil colonial, como a Invasão Holandesa, em 1637, e a visita de Dom Pedro II, em 1859.
Os holandeses, liderados por Maurício de Nassau, teriam invadido a Vila do Penedo pelas águas do Rio São Francisco para fincar o projeto de ocupação de todo o Norte e Nordeste brasileiros.
Oito anos depois, em 1645, os penedenses, auxilidados por forças baianas, expulsaram os holandeses das terras da capitania de Pernambuco, à qual Penedo pertencia, antes de Alagoas se tornar um Estado independente.
O museu Paço Imperial foi o local que hospedou o imperador dom Pedro 2º, em 1859, e até hoje resgata a história ao reunir peças em porcelanas, objetos e mobiliário que contam parte da história da estadia real.
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