Militar brasileiro retorna do Haiti e encontra filho pela primeira vez; veja esse e outros relatos
Um grupo de militares do Exército brasileiro começou esta semana uma nova “operação” em terras nacionais: dessa vez, pela retomada da vida dita “normal”, e, sobretudo, a retomada do convívio com a família após seis meses no Haiti.
O UOL Notícias acompanhou a chegada dos oficiais e o retorno deles a seus afazeres cotidianos, esta semana, após serem recebidos com honras militares no 59º Batalhão de Infantaria Motorizada (59º BIMtz), em Maceió (AL).
Entre um relato e outro, eles contaram à reportagem histórias que viveram em solo haitiano e como tem sido a readaptação depois de meio ano longe de suas casas e do trabalho no quartel.
Finalmente, o encontro com o filho
O caso do soldado Jeferson Santos Bandeira, 24, é peculiar: ele conta que deixou a mulher, a dona de casa Ângela Talita, grávida. “Eu acompanhei o resto da gestação à distância, pelo telefone e pela internet. Quando meu filho nasceu [hoje com três meses], só o vi pela webcam. Agora que o estou conhecendo, estou aprendendo a ser pai."
Ele foi o primeiro dos três pais à distância do pelotão. “A cada nascimento nós comemorávamos lá. Dentro das possibilidades, fazíamos churrasco e celebrávamos como se fôssemos uma família”, recorda-se.
“Antes de seguir para o Haiti, víamos todo o terror da tragédia que assolou aquele país. Agora, parece que nada aconteceu. Não vemos o país ser pauta nos noticiários. É como se nada estivesse acontecendo, ou melhor, é como se não houvesse brasileiros a serviço da nação naquele país”, avalia.
Bandeira conta que são 2.000 oficiais no Batalhão de Militares Brasileiros no Haiti, substituídos a cada seis meses. “Nós estamos lá em uma ação pacificadora, mas não menos importante que os demais países."
Ao contrário do soldado Lourenço, ele não pensa em largar a carreira militar. “Eu também penso em fazer uma faculdade, a de educação física. Mas, por outro lado, penso em aproveitar muito do que eu aprendi aqui e ampliar a serviço dos bombeiros e da Polícia Militar. Tudo vai depender dos concursos."
Pela excelência do trabalho, Bandeira foi condecorado com medalhas tanto por seu batalhão, em Alagoas, como pela própria ONU. “Estou muito feliz com o que fizemos. Agora, é dedicar minha atenção a meu filho e minha mulher. Sem eles, certamente, não estaria aqui”, finaliza.
Povo alegre
Carioca que há um ano mora em Maceió, o comandante da tropa alagoana no Haiti, Celso Montenegro Justo, conta que é de família tradicionalmente militar. “Meu pai é reformado e mora no Rio. Meu irmão é da ativa e está lotado em Fortaleza. Já o meu caso, eu sigo em Maceió até quando meu comandante permitir”, diz.
Ele conta que seu pelotão no Haiti era composto por 26 homens, 21 deles, alagoanos. “Mesmo diante de toda a tragédia que eles sofreram, o povo haitiano é alegre”, relembra.
Quando a saudade apertava, era da mulher que Montenegro sentia mais falta. “Nós viajamos para o Haiti no dia 29 de dezembro de 2010; no dia 12, eu e minha mulher tínhamos feito um ano de casados”. “Novos” em Maceió, eles ainda estavam em processo de adaptação quando ele partiu. “Todos os dias nós nos falávamos. Nem que fosse para saber como as coisas estavam caminhando, as dificuldades que cada um estava sentindo: era tudo muito novo para ambos”, afirma o tenente.
Quando o avião pousou em Pernambuco, Montenegro se sentiu aliviado. “Ali eu percebi que estávamos em casa, no Brasil. Um país onde todo mundo falava o português. A sensação foi indescritível”, relata. Na capital Recife, o pelotão passou uma semana em processo de desmobilização --uma adaptação pela qual passam os militares, sobre a supervisão do Exército, com exames médicos e acompanhamento psicológico.
O “bombagai”, ou “sangue bom”, para os haitianos
Era assim que os haitianos chamavam Edson Carlos de Queiroz Lourenço, 22, ou soldado Lourenço. Universitário, ele cursa educação física e já serviu quatro anos e meio no Exército. Morador do Vale do Reginaldo, comunidade carente de Maceió, diz que já sabe o que vai fazer quando completar os sete anos de batalhão.
“Este é o máximo onde eu posso chegar. A partir daí, eu vou tentar concluir o meu curso e tocar a vida”, afirma. Ele conta que a comunicação foi uma das maiores dificuldades em seis meses de Haiti. “Apenas o tenente falava inglês. Nós tínhamos de nos virar com gestos, desenhos, entre outros métodos."
Lourenço conta que a acolhida aos brasileiros, invariavelmente, envolvia samba e futebol. “Eles sabiam até a escalação do time campeão da Copa do Mundo de 1994”, lembra.
O soldado conta que a semana que o pelotão passou em Recife foi angustiante. “Saber que estávamos tão perto de casa e não poder chegar em casa, rever meus pais, só aumentava minha angústia”, confessa.
Pouco antes de embarcar, o soldado tinha acabado de perder uma tia. A mãe dele, a dona de casa Sônia Lourenço, 54, lembra da ocasião. “Perder minha irmã e ver meu filho partir era demais para mim”, ela relata.
Mas o reencontro com a família finalmente aconteceu. “Quando o comandante anunciou ‘liberdade de ação’ [termo utilizado por militares para que as famílias possam se aproximar do pelotão, como sinônimo de afeto], foi o ápice para mim. Naquele momento eu pude perceber: eu voltei”, finaliza Lourenço.
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