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Ventos que chegam ao Ceará levantam roupas, atrapalham pescadores e ajudam esportistas

Apesar de atrapalhar moradores e pescadores, os surfistas aproveitam os ventos fortes no Ceará - Angélica Feitosa/UOL
Apesar de atrapalhar moradores e pescadores, os surfistas aproveitam os ventos fortes no Ceará Imagem: Angélica Feitosa/UOL

Angélica Feitosa<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Fortaleza

26/09/2011 07h00

Entre os meses de setembro e novembro, algumas mulheres que caminham pela praça do Ferreira, cartão postal de Fortaleza, localizado no centro da cidade, precisam ter certa coragem e um cuidado especial: elas podem ser surpreendidas pelo vento conhecido como “levanta saias”.

“A gente tem que tomar cuidado. É uma mão nas sacolas e outra segurando os panos”, disse a professora Maria Aldênia Bezerra, que, nessa época do ano, dispensa vestidos e só veste calças.

Os ventos começam a ficar mais fortes em agosto. Mas é a partir de setembro, mês de ventanias em Fortaleza, que as rajadas podem alcançar até 70 quilômetros por hora. O período se prolonga até o final de novembro. Nesse período de quatro meses, além das mulheres que usam saias na praça, também quem vive da pesca artesanal precisa de muita coragem.

“Essa época do ano é muito perigosa para o pescador, principalmente para o jangadeiro, que tem uma navegação frágil, que depende dos ventos”, informou o pescador Sebastião da Silva Ramos, 66, também secretário da Colônia de Pescadores Z-8 de Fortaleza.

  • Angélica Feitosa/UOL

    Pescador na praia do Mucuripe, em Fortaleza

Em mais de 30 anos de lida com o mar, Ramos calcula que, entre dezembro e maio, melhores meses, é comum pescadores ficarem entre seis e oito dias em alto mar. Entre agosto e novembro, piores períodos para a pesca, ficam quatro dias embarcados e já é muito tempo.

A quantidade de peixes retirados do mar também diminui nessa época do ano. De acordo com Ramos, em meses de poucos ventos a média por semana pode variar entre 200 quilos e 300 quilos de pescado. Já entre agosto e novembro, dificilmente chega a cem quilos.

“O pescador passa, no máximo, quatro dias em alto mar, e a família ainda fica apreensiva. É normal você ver na praia do Mucuripe (bairro de Fortaleza) familiares de pescadores na beira da praia para saber se alguém tem notícia da embarcação”, disse o pescador e construtor de embarcações Possidônio Soares Filho, presidente da Colônia de Pescadores Z-8 de Fortaleza.

Soares disse acreditar que seria importante haver um seguro, como o seguro safra, nas épocas de ventos fortes. “Porque os pescadores precisam sustentar suas famílias e se arriscam no mar, mesmo quando está perigoso. É comum haver acidentes nessa época”, afirmou.

Ruim para alguns, bom para outros

Se para alguns esta época dos ventos é sinal de riscos ao pudor ou à vida, para os praticantes de esportes aquáticos é o motor que falta para turbinar a emoção. A época dos ventos é também tempo excelente para a prática de surfe, kitesurfe, windsurfe, wakeboard e vários outros que dependam dos ventos.

De acordo com o presidente da Associação de Kitesuf do Ceará (AKC), Beto Ary, o Estado é conhecido com o “Havaí dos ventos”. “No segundo semestre, os ventos alísios, que vêm de forma constante e com intensidade, facilitam muito a prática dos esportes no mar”, disse. Aliado a isso, segundo Ary, o Ceará tem geografia e direção dos ventos favoráveis aos esportes praticados na costa.

“O Ceará tem ventos constantes e que, na maior parte do litoral, em cerca de 370 quilômetros, sopram em direção nordeste”, afirmou. Segundo Ary, o posicionamento dos ventos favorece que, caso aconteça algum problema, o velejador seja empurrado para a costa.

De acordo com o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Namir Melo, a razão para os ventos nesse período é a passagem do sol para o Hemisfério Norte, que faz com que a pressão atmosférica fique mais intensa nessa região do Nordeste. “Após o fim do período chuvoso, o resfriamento persiste e chega ao máximo em setembro”, informou.