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"Você ficaria triste se eu morresse?", perguntou menino que se suicidou ao irmão mais velho

Larissa Leiros Baroni

Do UOL Notícias<br>Em São Caetano do Sul (SP)

28/09/2011 14h28Atualizada em 28/09/2011 20h17

Em depoimento à polícia, o irmão mais velho da criança de dez anos que atirou na professora e depois se matou em uma escola de São Caetano do Sul, no ABC paulista, disse que o menino perguntou, duas semanas antes do crime: "você ficaria triste se eu morresse?".

De acordo com a delegada responsável pelo caso, Lucy Fernandes, esse fato, porém, não caracteriza que o crime tenha sido planejado pela criança com antecedência.

O irmão, de 16 anos, não soube dizer o que motivou a pergunta, mas disse não tê-la levado a sério por imaginar que o menino o tivesse questionado por causa de algum sonho.

Segundo a delegada, a partir do depoimento do irmão mais velho, ela avalia a relação dos dois como de “forte amizade e afeto”.

Lucy disse também que o irmão não soube explicar os possíveis motivos que levaram D.M.N. a atirar na professora e depois se matar. “Ele era muito certinho e acima de qualquer suspeita, descreveu o irmão no depoimento”, disse a delegada.

Mesmo que a delegada não descarte o envolvimento de uma terceira pessoa --como coautor ou mesmo como mentor--, excluiu a hipótese da participação do irmão ou de qualquer outro membro da família no caso.

Segundo ela, os depoimentos desta quarta-feira (28), confirmaram mais uma vez a tese de que D.M.N. era uma criança calma, que não sofria bullying e que não tinha qualquer problema com a professora. "O próprio irmão disse que, em uma das conversas corriqueiras, o menino relatou gostar de todas as suas professoras. A partir dessa afirmação, o irmão disse ter brincado com ele, ao enfatizar que era um sortudo por isso", diz Lucy.  

Mas, se o aluno não tinha, a princípio, nenhuma motivação para atirar na professora, tampouco para se matar, a delegada levanta a hipótese de que o estudante tenha agido em defesa de uma terceira pessoa.

Até agora, de acordo com Lucy, só foram ouvidas pessoas que não participaram das dinâmicas dos fatos. "Mais detalhes sobre o que realmente aconteceu naquele dia serão descobertos a partir do depoimento da professora e dos amigos mais próximos do aluno", relata a delegada.

De acordo com a delegada, amanhã (29) será ouvida a professora Rosileide Queiros, 38, ferida no episódio. Os depoimentos dos amigos do aluno estão programados para a próxima segunda-feira (3), a partir das 10h, na Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente de São Caetano do Sul. Também será ouvida a psicóloga da escola, mas a data ainda não foi agendada.

Recomeço das aulas

Uma faixa feita por alunos do ensino médio foi colocada na grade que cerca o prédio, perto da entrada de acesso aos estudantes, que retornaram hoje às aulas. Em homenagem ao aluno D.M.N., os estudantes escreveram: “Deus, olha a alma de D. e conforte os corações”. Eles também soltaram balões brancos com a palavra “Paz”.

Pela manhã, de acordo com os alunos, não houve aulas formais, apenas palestras realizadas no auditório, com a participação de todos os professores.

João Rafael Valério, 15, conta que alguns estudantes se emocionaram e choraram. Já a aluna Ingrid Catalano, 16, afirmou que orações estão sendo feitas. “Era uma criança de apenas 10 anos e a gente está fazendo orações para ela.”

Segundo a Secretaria de Educação, desde a segunda-feira (26), psicólogos trabalham junto a educadores, direção e funcionários da instituição para tentar normalizar a volta dos alunos à escola. A Guarda Civil Municipal reforça a segurança na entrada e na saída das crianças e adolescentes.

Entenda o caso

Por volta das 15h50 da última quinta-feira (22), o aluno do 4º ano C da escola municipal Alcina Dantas Feijão atirou contra a professora. Em seguida, ele saiu da sala e atirou contra a própria cabeça. No momento dos disparos, havia 25 alunos na sala de aula.

A criança foi socorrida com vida pelos bombeiros e encaminhada ao Hospital de Emergência Albert Sabin, em São Caetano, onde morreu após duas paradas cardíacas.

A professora foi resgatada pelo helicóptero Águia da Polícia Militar e levada para o Hospital das Clínicas, na zona oeste de São Paulo, onde permanece internada. Ela foi atingida na região posterior do lado esquerdo na altura do quadril e sofreu fratura na patela direita. A professora já foi operada para a retirada da bala. Ela também passou por cirurgia na rótula esquerda.

A arma usada no crime pertencia ao pai da criança, um guarda civil municipal. O revólver calibre .38 é particular. O caso foi registrado no 3º DP (Distrito Policial) de São Caetano, que ainda investiga as causas da tragédia.