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Pernambuco vai avaliar saúde de funcionários de empresa que comprava lixo hospitalar dos EUA

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias <br> Em Maceió

19/10/2011 20h42

A Secretaria de Estado da Saúde de Pernambuco abriu inquérito epidemiológico nesta quarta-feira (19) para avaliar a condição de saúde dos prestadores de serviço da empresa Império do Forro de Bolso, responsável pela importação de lixo e restos hospitalares dos EUA.

Segundo a secretaria, o inquérito tem como objetivo “obter informações sobre profissionais que tiveram contato com resíduos hospitalares do exterior”. Os funcionários da empresa vão responder a um questionário, baseado no questionário Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) para acidentes com material biológico.


Quem também iniciou investigação foi o MPT (Ministério Público do Trabalho), que recebeu denúncia de falta de equipamentos de segurança e de que adolescentes poderiam trabalhar para a empresa Império do Forro de Bolso. Segundo o MPT, as normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíbem a reciclagem de resíduos hospitalares.

Segundo informou em nota o MPT, os profissionais deveriam obrigatoriamente usar equipamentos de segurança individuais e a empresa deveria também adotar medidas preventivas --como vacina contra hepatite.

 

Também nesta quarta, o comitê gestor da crise de Santa Cruz do Capibaribe definiu que todas as empresas importadoras de tecidos da cidade serão inspecionadas. Segundo o coordenador da Vigilância Sanitária municipal, Pedro Pedrosa, técnicos já começaram a visitar alguns galpões de lojas, mas nada de anormal foi encontrado.

Bloqueio de bens

O Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Surubim ingressou com uma ação, nesta quarta-feira (19), pedindo o bloqueio dos bens do empresário cearense Altair Teixeira de Moura, acusado de importar lixo hospitalar dos EUA para vender como forros de bolso e retalhos no polo de confecções de Pernambuco.

A ação, ingressa na Justiça do Trabalho de Caruaru, pede ainda uma indenização por danos morais aos funcionários das lojas da Império do Forro de Bolso, já que os trabalhadores estariam expostos a riscos de saúde que por manusear, sem equipamentos de segurança, restos hospitalares norte-americanos.

“Queremos garantir os salários e direitos trabalhistas dos empregados com o bloqueio de todos os bens desse bandido travestido de empresário que veio do Ceará sujar a imagem de todo o polo têxtil do Agreste. Queremos ainda a avaliação médica de cada empregado”, disse o advogado do sindicato, Glauco Gonçalves.

O sindicato informou que os valores das indenizações ainda deverão ser definidos, já que os riscos de exposição de cada funcionário ao material que eram obrigados a trabalhar ainda serão avaliados por especialistas de saúde.

Segundo Gonçalves, dos 26 trabalhadores das lojas Império do Forro de Bolso apenas dois tiveram coragem de pedir ajuda ao sindicato da categoria. “Eles trabalhavam na informalidade, sem carteira assinada, e estão temendo serem discriminados ao tentarem conseguir outros empregos caso venham ao sindicato e os empregadores saibam que eles trabalhavam na Império do Forro de Bolso. Os dois trabalhadores que vieram aqui no sindicato relataram que estão sofrendo rejeição porque a população acha que eles estão com AIDS, hepatite, entre outras doenças contagiosas.”

O advogado do sindicato defende o órgão por não ter fiscalizando antes a situação em que os trabalhadores da N A Intimidade, razão social da Império do Forro de Bolso, e atribui a uma falha na fiscalização das autoridades sanitárias. “Estamos com dois meses de fundado, mas nesse período iniciamos a visita de loja em loja para saber da situação de cada funcionário. Estamos dando prazos às empresas fiscalizadas para se adéquem à lei e retire da informalidade todos os funcionários”, afirmou o advogado.

Segundo relatos de funcionários ao sindicato, a Império do Forro de Bolso trabalha com lixo hospitalar importado dos EUA desde 2009. Além disso, a empresa a qual Altair era dono --a Forrozão dos Retalhos-- importa material dos EUA desde 2001. Gonçalves disse achar estranho que “nenhuma autoridade tenha tomado conhecimento só agora”. “Será que ninguém nunca viu isso?”, indagou, ressaltando que “o sindicato tem conhecimento de que Altair Moura tinha vantagens econômicas para receber o lixo americano e reutilizá-lo como matéria-prima em forros de bolso”. “Ele é uma pessoa sem escrúpulos e certamente retirava o que não aproveitava na confecção e jogava no lixão da cidade”, complementou.