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Morando em cima de antigo lixão, comunidade de Goiás vive em meio a seringas e ampolas

Rafhael Borges<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Goiânia

07/11/2011 06h00

Pneus, sacos plásticos, materiais hospitalares, como ampolas e pedaços de agulhas, entre outros objetos espalhados pelas ruas denunciam o problema vivido há mais de 19 anos por cerca de 200 famílias que vivem no residencial Caraíbas, em Aparecida de Goiânia (região metropolitana de Goiânia).

O loteamento teria sido construído em cima de um antigo lixão. “Quando nós compramos estava todo aterrado, tudo parecia normal”, disse o morador Juleis Ribeiro da Silva, 42. “Mas com o tempo a terra foi cedendo, e o lixo começou a aparecer.”

A rua com a maior concentração de lixo tem o nome do médico Valdemiro Cruz, que foi, de acordo com os moradores, o vendedor dos lotes. “O que ouvimos falar foi que isso aqui era o local onde ele jogava o lixo da clínica dele, no centro da cidade”, afirmou Silva.

Basta andar um pouco pela rua Valdemiro Cruz para ver várias ampolas de medicamentos e pedaços de seringas pelo chão. Os moradores contaram à reportagem do UOL Notícias que sempre que possível buscam recolher essas seringas para evitar acidentes. Na última busca foram encontradas mais de dez.

O aposentado Manoel Silvino de Freitas mora no final da rua e disse não entender como os moradores conseguem viver em meio ao lixão. “Eles só ficam lá porque não têm oportunidade de sair. Não é digno viver em meio àquele lixo todo."

Não há dados oficiais sobre doenças causadas pelo lixo, mas moradores relatam que sofrem com doenças intestinais e respiratórias.

Aproximadamente metade da cidade de Aparecida de Goiânia, que tem cerca de 500 mil habitantes, não tem rede de esgoto nem água tratada. No residencial Caraíbas não é diferente. Para conseguir água, os moradores escavam cisternas --mas, ao cavar o buraco, é preciso atravessar 1,5 metro de entulhos até atingir o lençol freático.

“Eu compro água para tudo. E gasto muito dinheiro. A da cisterna só uso para limpeza em geral, e ela é fedida”, reclama a dona de casa Irene Maria Alcântara, 51, que tem cinco filho e cinco netos. Ela disse que pretende mudar do local assim que possível, mesmo acreditando ser difícil vender a casa. 

MP entrou com medida contra município

Em 2010, o Ministério Público entrou com ação civil pública ambiental contra o município de Aparecida de Goiânia. O governo foi condenado, liminarmente, a realizar estudos de caracterização geológica e hidrológica para verificação da contaminação do solo, das águas subterrâneas e superficiais e do risco estrutural para as moradias já edificadas no bairro.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente ficou responsável por realizar os estudos e admitiu que a situação de quem vive no local é crítica, mas que a prefeitura não pode remover os moradores dali. “O que pode ser feito é tentar amenizar os impactos, construir o asfalto e terminar as obras de canalização de água e esgoto”, afirmou Suelen Pereira da Costa, responsável por projetos na secretaria.

Na ação principal, que ainda corre na Justiça sem prazo para ser julgada, a promotora Miryam Belle pede que a prefeitura retire os moradores do residencial Caraíbas e compre outros terrenos, além de construir novas moradias para as famílias. Mas se a prefeitura comprovar que a área não apresenta riscos à saúde pública e à viabilidade da região, o MP pede que o município conclua as obras de saneamento básico.

A prefeitura afirma não ter responsabilidade pelo loteamento construído de forma irregular por outras administrações. E acrescenta que não há espaços públicos para realocar as famílias, mas que procura amenizar os transtornos com investimentos na infraestrutura na região. Entre eles está a impermeabilização da área.

A reportagem do UOL Notícias tentou contato com os responsáveis pela construção do loteamento à época, mas ninguém foi encontrado.