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Morador de São João Del Rei (MG) faz vigília contra saques em casa inundada

Rayder Bragon

Do UOL, em São João Del Rei (MG)

16/01/2012 06h00

O bairro Vila Nossa Senhora de Fátima, na cidade histórica de São João Del Rei, na região central de Minas Gerais e 185 km distante de Belo Horizonte, foi um dos locais mais atingidos pelas chuvas no município. A cheia de afluentes do rio das Mortes invadiu casas e destruiu móveis e eletrodomésticos de vários moradores. O UOL encontrou na sexta-feira (13) várias pessoas retirando a lama das casas e das calçadas.

Segundo os moradores, o maior receio é de as casas serem saqueadas e o que foi salvo da enchente ser levado por pessoas que se utilizam de barcos para alcançar os imóveis, invariavelmente vazios. “Na última enchente que teve aqui, ficamos sabendo de várias histórias de pessoas que tiveram as casas roubadas por ladrões que percorrem as áreas inundadas atrás de casas sem moradores”, disse o designer gráfico Deivdison Eduardo Costa, 30, que enviou a filha e a mulher para a casa da sogra.

Veja como fazer doações às vítimas das chuvas

“Eu ia trabalhar, mas ficava apreensivo com a possibilidade de alguém invadir a minha casa, porque a água subiu muito e seria fácil para eles chegarem ao segundo andar do meu imóvel, onde moro”, relatou. Ele conta que a mãe reside no andar térreo, que ficou inundado.

A informação foi confirmada por outra moradora do local. Segundo a costureira Eliana Figueiredo, 59, que tentava retirar água que ficou empoçada dentro de sua casa, pessoas estranhas à comunidade aproveitam-se da saída momentânea dos ocupantes das moradias para fazerem os saques. “São pessoas de fora. Muitos ajudam a sair das áreas alagadas com o auxílio dos barcos, mas alguns não respeitam nem esse momento de tragédia e querem tirar proveito da situação”, explicou.

A costureira, moradora do bairro há 20 anos, disse ter sido a pior enchente presenciada por ela no local. Desanimada, a mulher disse que não sabe se vai retornar ao imóvel atingido pela inundação. “O que sobrou aqui foi só eu e a roupa do corpo”, resumiu.

Desolada, a aposentada Jaebe Maria Assunção ocupava uma poltrona, em uma calçada, em meio ao caos que se transformou o bairro. A idosa informou ter perdido quase todos os pertences de sua casa. “A minha geladeira está no meio da lama. Saí de casa com água pela cintura e estou só com essa roupa do corpo há muitos dias”, queixou-se, para complementar dizendo que estava esperando um sobrinho buscá-la. Ela reclamou não ter tido assistência da prefeitura local, que também foi criticada por outros moradores.

Uma queixa recorrente contra a administração local foi em relação à demora do envio de caminhões para recolher o entulho formado pelos destroços de móveis, colchões e utensílios danificados pela chuva amontoado em frente as casas. “O prefeito vem distribuir cesta básica nessa hora? Mas nós vamos cozinhar os produtos com o quê? Já que a enxurrada estragou tudo”, questionou uma moradora que não quis ser identificada.

A Defesa Civil do município informou que as pessoas estão recebendo comidas já preparadas, dentro de marmitex, e que a limpeza dos locais será providenciada. Ainda conforme o órgão, 800 pessoas estão desalojadas na cidade, sendo que 25 ficaram desabrigadas. A maioria procurou a casa de parentes e amigos. Os desabrigados foram encaminhados a um abrigo provisório.

Os moradores que se cadastraram têm direito a receber um kit de limpeza e cesta básica, informou a Defesa Civil.

 

Patrimônio histórico sem danos

O diretor do escritório local do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Mário Antônio Ferrari Felisberto, informou ao UOL que o núcleo histórico da cidade tombado pelo órgão não sofreu danos por conta das chuvas. “Existem dois casarões nesse núcleo que já apresentavam há pelo menos três anos problemas de conservação. Existe ação civil pública contra os proprietários para que eles providenciem os reparos. Não há nenhum monumento ou casarão histórico que tenha sido afetado pelas últimas chuvas”, afirmou.

Situação no Estado

A Defesa Civil Estadual informou que são 166 cidades em situação de emergência em Minas Gerais, de um total de 228 cidades que foram afetadas pelos temporais. Ao todo, 15 pessoas morreram, três estão desaparecidas e 168 se feriram. O número de desabrigados passou para 4.639, e os desalojados no Estado totalizam 52.723.

Segundo o órgão, 3.189.071 pessoas tiveram o seu cotidiano afetado de alguma maneira pelo tempo chuvoso. Com relação às mortes, 13 ocorreram somente em janeiro deste ano. Nesta semana, três foram confirmados na cidade de Além Paraíba, localizada na zona da mata de Minas Gerais.

O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais informou que um homem de 50 anos, ainda não identificado, morreu soterrado por um deslizamento de terra que atingiu sua casa. Uma criança de três anos e a mãe foram arrastadas pela enxurrada. Uma mulher ainda está sendo procurada pelos bombeiros.

Na cidade de Governador Valadares, duas pessoas morreram após o deslizamento de uma encosta no dia 6 de janeiro: Nilson Jânio Andrade, 43, e Marlene Pinheiros da Silva estavam em casa quando foram soterrados. Já Flávio Adão Silva, 24, foi arrastado pela correnteza de um rio em União de Minas. Em Guaraciaba, Edmar João Vila, 23, foi levado pela enxurrada ao tentar atravessar uma rua.

Em um deslizamento de terra na rodoviária de Ouro Preto morreram os taxistas Juliano Alves, 28, e Denílson Maciel de Araújo, 26. Janilson Aparecido de Moraes, 40, morreu no desabamento de um prédio em Belo Horizonte. Maria de Lourdes Estevão Rocha, 78, também foi atingida por um deslizamento, em Visconde do Rio Branco.

Em Guidoval foram dois mortos: João Paul o Coelho, 81, foi surpreendido por uma inundação dentro de casa e morreu afogado, e Genésio Cândido Martins Silva, 42, foi levado pela correnteza durante um temporal na cidade.

No final de 2011, morreram o motociclista Admardo Pereira, 43, atingido por um tronco de árvore durante temporal em Reduto, e Poliane Alves de Oliveira, 27, levada pelas águas de um ribeirão em Governador Valadares.

Estão desaparecidas Rita Vieira de Souza, moradora de Santo Antônio do Rio Baixo, e Vanis Silencio Ferreira, de União de Minas, além de Roseli do Nascimento, de Além Paraíba.

Relação das cidades em emergência no Estado

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Centro-oeste

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Dom Joaquim

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Jequitinhonha

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