Ipea conclui que 85% dos principais aeroportos brasileiros estão em situação crítica ou preocupante
Um estudo divulgado hoje (14) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que 17 dos 20 principais aeroportos brasileiros, ou 85%, estão em situação “crítica” ou “preocupante”. Desses, 12 estão funcionando acima da capacidade operacional. Apenas os aeroportos de Porto Alegre, Salvador e Manaus funcionam em condições “adequadas”, fora do “cenário de estrangulamento”.
A avaliação, feita antes da concessão à iniciativa privada dos aeroportos de Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP), é que “permanece limitada a capacidade da Infraero [Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária] em executar seu programa de investimentos. Em 2011, a estatal executou 34% de sua dotação anual inscrita no orçamento das empresas estatais [dotação de R$ 2,216 bilhões e execução de R$ 747,82 milhões]”. A conclusão consta do artigo Aeroportos no Brasil: Investimentos e Concessões, de autoria do coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos.
A preocupação se agrava com a aproximação da Copa do Mundo de 2014. Segundo o estudo, as etapas do Plano de Investimentos da Infraero “pouco evoluíram nos últimos 12 meses, entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012”. “Dos 11 aeroportos nos quais estão previstos investimentos nos terminais de passageiros, oito estão nas fases iniciais de projetos”.
Mesmo para os aeroportos concedidos, o Ipea faz ressalvas: “é fator de preocupação a exiguidade dos prazos definidos pelo edital para as várias etapas do processo de concessão, diante da necessidade de que os três aeroportos estejam prontos a tempo de atender ao evento de 2014”.
Após a concessão de três aeroportos à iniciativa privada, começa a ganhar corpo a ideia de construir um novo aeroporto em São Paulo. A avaliação é que Viracopos, de Campinas, não terá condições de atender à demanda de passageiros e carga não assimiláveis pelos aeroportos de Cumbica e Congonhas. “Se não debatermos isso hoje, quando quisermos fazer não será possível”, enfatiza o técnico do Ipea Erivelton Guedes, que avaliou as alternativas para infraestrutura aeroportuária na Região Metropolitana de São Paulo –que concentra 30% do movimento de passageiros.
Ele chama atenção que a solução em São Paulo tem que ser pensada em conjunto considerando a construção do trem-bala e a demanda que um aeroporto distante da capital, como o de Campinas, criará para a rodovia.
Segundo o Ipea, não apenas os aeroportos preocupam. O Brasil investe apenas 0,7% do PIB, incluindo o PAC, em transporte. O percentual é inferior ao que fazem outros países emergentes, como a China, Índia, Rússia, o Chile e até o Vietnã –na casa de 2,7% do PIB. Carlos Campos calcula que o país necessita investir R$ 185 bilhões em rodovias; R$ 75 bilhões em ferrovias e mais R$ 45 bilhões em portos.
O cálculo não inclui as necessidades de infraestrutura urbana e mobilidade nas cidades. O coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea aponta que o país não soube aproveitar a Copa do Mundo para resolver os problemas de transporte nas 12 cidades-sede do torneio. Quando a Copa do Mundo foi anunciada no Brasil, a mobilidade urbana foi considerada como “o principal legado” do Mundial de futebol. “É uma pena estar perdendo a oportunidade para efetivar, para a população, os ganhos com a mobilidade urbana”.
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