Topo

Homem surdo e analfabeto aguarda há dois anos por reconhecimento de parentes no interior de SP

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

17/05/2012 06h00Atualizada em 17/05/2012 11h50

Desconhecido, surdo, analfabeto, sem documentos e sem família. Assim vive um homem encontrado há quase dois anos em uma área rural às margens da Rodovia Raposo Tavares, em Alambari (150 km de São Paulo).

Anônimo há dois anos

  • Divulgação

    Aulas de Libras podem ajudar

Era noite de 23 de junho de 2010 quando a proprietária de um sítio acionou a polícia ao ver um homem em atitude suspeita, que aparentava 30 anos. Mas foi só a polícia chegar para ficar constatado que ele precisava de ajuda.

Logo que os policiais chegaram, perceberam que ele não sabia se comunicar e não carregava documentos. Por isso, no mesmo dia, ele foi encaminhado ao Serviço de Obras Sociais (S.O.S.) de Itapetininga (170 km de São Paulo), onde vive até hoje.

De acordo com Silvia Regina de Almeida, auxiliar administrativa do S.O.S., entidade que funciona por meio de parceria entre os governos federal, estadual e municipal, desde que o homem chegou sua situação continua a mesma.

Segundo ela, o S.O.S. já fez bastante divulgação do caso, distribuindo fotos e telefone para contato, em várias cidades da região e em empresas de ônibus. Tudo sem sucesso, ninguém nunca procurou por ele.

Um professor de Libras --linguagem de sinais utilizada por surdos para se comunicarem-- de uma entidade filantrópica de Sorocaba (SP) que alfabetiza pessoas com deficiência auditiva foi acionado. Em vão. Ele também não conhece Libras nem língua portuguesa e tampouco sabe ler e escrever.

A falta de documentos complica ainda mais a situação do homem. Sem identidade, sem o nome de seus pais e sem saber sua cidade de origem, fica difícil matriculá-lo ou cadastrá-lo em qualquer instituição ou empresa. “Quando fica doente, é difícil até conseguir atendimento médico em qualquer hospital”, disse Sílvia.

Surdez crônica

A polícia chegou a colher a impressão digital dele e a divulgar em delegacias de outros municípios para tentar localizar algum registro dele, mas ainda não localizou nada. Um exame comprovou surdez crônica.

"O resultado aponta para isso, mas acho que ele ouve alguma coisa, já que tenta imitar alguns sons. O difícil é fazer exames com ele sem documentos", informou. Ainda segundo Sílvia, ele imita alguns sons, como buzina de carro e fogos de artifício. "Acho que ele só ouve sons fortes”, diz ela.

Para ela, o homem deve ter sido abandonado, já que foi encontrado bem vestido e com uma caixinha com R$ 150. “Achamos que ele era morador de sítio, pois quando chegou aqui, tinha o hábito de lavar a roupa e estender em um plástico no chão ao sol, como fazem algumas pessoas do campo.” Ela conta também que ele ensinou as funcionárias a matar um frango para preparar. 

Hoje em dia, a convivência ficou bem mais fácil, os funcionários da entidade aprenderam a se comunicar com ele por gestos. “A gente cuida dele, brinca. É como se fosse um funcionário”, afirma ela.

Há algum tempo, o homem ganhou o nome de Joaquim Augusto Silva, mas é chamado de Joca, conta Silvia. Ela também diz que uma vez por semana um casal passa na entidade para ensinar Libras ao Joca.

Quem tiver informações sobre a família, cidade ou história do rapaz pode entrar em contato com a S.O.S. pelo telefone (15) 3273-1304.