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Após protestos, acordo impede realização de "motojada" no interior do Ceará

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

16/07/2012 15h24

Depois de uma série de manifestações contrárias de instituições e pelas redes sociais, a “motojada” (vaquejada onde, em vez de cavalos, o vaqueiro usa motos) prevista para ocorrer no próximo dia 29, no interior do Ceará, foi cancelada.

Segundo o MP/CE (Ministério Público Estadual do Ceará), que entrou com uma ação na Justiça, o evento não poderá contar com a participação de animais, e o encontro se transformará apenas em apresentações de motocross e acrobacias de moto freestyle.

A “motojada” iria contar com 150 garrotes que seriam derrubados por motoqueiros na pista de vaquejada. Segundo um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado, caso haja descumprimento de conduta, os organizadores terão que pagar multa diária de R$ 30 mil, além de responder por sanções previstas na lei de crimes ambientais.

O pedido para cancelamento do evento foi pela Uipa (União Internacional Protetora dos Animais) ao MP do Ceará. A instituição alegou maus-tratos que os animais sofreriam durante o evento, que seria realizado pela segunda vez na Fazenda Santo Antônio, localizada entre os municípios de Palmácia (CE) e Pacoti (CE).

No último dia 12, o promotor de Justiça da comarca de Pacoti, André Barreira Rodrigues, reuniu a organização da “motojada” para firmar um TAC e recomendou que fosse suspensa a participação de qualquer animal no evento.

No termo, o promotor ressaltou que a “motojada” é uma atividade de alto risco para integridade física dos motoqueiros e do público, além da saúde do animal, que poderá sofrer lesões durante o manejo do motoqueiro para derrubá-lo dentro da linha da pista de corrida.

“O animal bovino é incitado a correr para dentro de um cercado, popularmente conhecido como pista de vaquejada, daí passando a ser perseguido velozmente por pessoa e que se acha na direção de uma motocicleta, até que possa ou venha a ser derrubado em faixa demarcada ao solo da pista, o que acontece mediante o manejo e impulsivo arrasto do rabo do animal, ensejando-lhe o desequilíbrio e tombo”, destacou o promotor, apontando que as lesões nos garrotes poderiam ser ocasionadas “por fraturas de patas, costelas ou coluna vertebral, seja por danos aos seus órgãos funcionais internos, sem prejuízo da dor e do estresse que lhe advenha ao ser submetido a atos incompatíveis com sua natureza comportamental.”

Para a presidente da Uipa/CE, Geuza Leitão, os animais usados na “motojada” iriam participar de uma “luta desleal”, onde o ronco e a força dos motores das motocicletas poderiam ser fatais na corrida para a derrubada do boi.

“O manejo para pegar o rabo do animal, além do arrasto para derrubá-lo pode ocasionar uma série de lesões, que podem resultar na morte do boi ainda na pista, como fraturas de coluna, amputação de membros (rabo), e por consequência o sacrifício de animais antes sadios ao evento”, disse Leitão.

“Esporte nordestino”

A organização da “motojada de Gado dos Ferros” afirmou que decidiu inovar incrementando motos no “espetáculo” porque o público “exige inovações.” “O brilho da festa não será ofuscado com essa decisão, pois vamos ter apresentações de motocross e moto style com muita adrenalina”, disse um dos organizadores Claerton de Abreu Nascimento, em entrevista ao UOL no dia cinco de julho.

Nascimento ressaltou que a ideia do “esporte” é que ninguém saia machucado – nem vaqueiro, nem o garrote. “Jamais iríamos machucar qualquer animal, até porque os bois foram alugados e tínhamos de devolvê-los saudáveis. Tiramos o gado que estava passando fome no sertão e trouxemos para cá, mas infelizmente algumas pessoas não entenderam o que é a festa na realidade”, destacou.