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Marinheiros turcos acusados de atirarem clandestino ao mar podem ir a júri popular no Brasil

Paranaguá está a 93 km de Curitiba - Arte/UOL
Paranaguá está a 93 km de Curitiba Imagem: Arte/UOL

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

30/07/2012 14h43

Os 19 turcos suspeitos de atirar ao mar o camaronês Ondobo Wilfred, 28, a cerca de 15 quilômetros da costa do Paraná, devem permanecer detidos no Brasil “por pelo menos uns três meses, na melhor das hipóteses”, afirmou o delegado de Polícia Federal Michael de Assis Fagundes, responsável pelo inquérito aberto para investigar o caso.

O trabalho ainda deve levar 30 dias até a conclusão, mas Fagundes disse trabalhar com a tese de que houve “tentativa de homicídio”. Nesse caso, o Ministério Público Federal (MPF) pode pedir que a tripulação do navio Seref Kuru, de bandeira maltesa, seja julgada por júri popular.

Se condenados, os marinheiros turcos deverão cumprir pena no Brasil. “Para isso, não é preciso haver nenhum trâmite diplomático. Eles entraram legalmente no país e cometeram o crime aqui”, disse o delegado.

O caso

Wilfred embarcou clandestinamente no Seref Kuru no porto de Doala, nos Camarões (África), no último dia dia 13 de junho. Descoberto pelos tripulantes em alto-mar, foi preso e torturado a bordo. A oito milhas náuticas da costa brasileira, foi atirado ao mar.

Nos depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, Wilfred relatou ter ficado 11 horas à deriva, durante a noite e a madrugada, boiando sobre um palete de madeira que lhe foi atirado pelos marinheiros para servir como boia, até ser resgatado por um navio.

O comandante do navio, que não teve o nome revelado, negou à PF que o camaronês tenha estado a bordo. “Mas temos evidências irrefutáveis de que Wilfred esteve no navio”, disse o delegado Fagundes.

Nova tripulação

Atendendo a uma ordem judicial, 15 tripulantes do Seref Kuru foram autorizados a entrar no navio na última sexta-feira (27) para manobrá-lo até o largo da costa de Paranaguá. Atracado desde o dia 20, o navio ocupava espaço no cais, atrasando as movimentações de embarque e desembarque.

Enquanto isso, quatro novos tripulantes contratados pelo proprietário do navio chegaram a Paranaguá durante o fim de semana. Uma nova tripulação irá comandar o navio, que aguarda o embarque de uma carga de açúcar.

Toda a tripulação turca tem os passaportes retidos pela Polícia Federal. “Aguardamos o desembarque dos que estão no navio para concluir as investigações”, disse o delegado, que não teme uma possível fuga dos tripulantes embarcados. “Não há esse risco. E, ainda que fosse o caso, conseguiríamos localizá-los rapidamente onde quer que desembarcassem.”

Sem restrições

O camaronês Ondobo Wilfred também ficará em Paranaguá enquanto durarem o inquérito e o provável processo contra a tripulação do Seref Kuru. Hospedado num hotel da cidade às custas da agência marítima que contratou o navio para fazer o transporte do açúcar a partir de Paranaguá, ele não é vigiado nem tem restrições de mobilidade, segundo a Polícia Federal.

“Ele não tem sequer documentação, que deverá ser providenciada pela agência marítima junto ao Consulado de Camarões. Temos informações de que não é a primeira vez que Wilfred viajava como clandestino", disse Fagundes.

"A nós, ele disse que saiu de seu país em busca de uma vida melhor, mas não sabia que estava embarcando para o Brasil. Como não há nenhum pedido de asilo para ele no Brasil, será repatriado ao fim do processo.”