Topo

MPF denuncia tripulação que lançou homem ao mar por tentativa de homicídio no Paraná

Marinheiros turcos acusados de atirarem clandestino ao mar podem ir a júri popular no Brasil - Arte/UOL
Marinheiros turcos acusados de atirarem clandestino ao mar podem ir a júri popular no Brasil Imagem: Arte/UOL

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

13/08/2012 17h09

Ministério Público Federal (MPF) denunciou na sexta-feira (10) os 19 tripulantes de nacionalidade turca do navio Seref Kuru por tentativa de homicídio. A tripulação é acusada de atirar ao mar o camaronês Wilfred Happy Ondobo, 28 anos, a cerca de 15 quilômetros da costa paranaense. O crime aconteceu em junho deste ano.

O marinheiro Orhan Satilmis, identificado por Ondobo como seu principal agressor, também foi denunciado pelos crimes de racismo e tortura. O capitão do navio, Coskun Çavdar, também irá responder por tortura.

Os 19 marinheiros seguem retidos em Paranaguá. Eles tiveram os passaportes apreendidos pela Polícia Federal e estão proibidos de deixar o País. A tripulação está hospedada num hotel e é vigiada por uma equipe de segurança privada. Hospedagem e vigilância são pagos pela agência marítima que contratou o navio.

No final de julho, o delegado de Polícia Federal Michael de Assis Fagundes estimou ao UOL que os turcos e o camaronês ainda devem permanecer no Brasil “por pelo menos uns três meses, na melhor das hipóteses”, aguardando o desenrolar do processo.

Se considerados culpados, os marinheiros podem ser condenados a até 20 anos de prisão, pelo crime de tentativa de homicídio, a até oito anos, por tortura, e a até três anos e multa, por racismo. Nesse caso, os turcos deverão cumprir pena no Brasil. “Para isso, não é preciso haver nenhum trâmite diplomático. Eles entraram legalmente no país e cometeram o crime aqui”, disse o delegado.

No mesmo dia em que a denúncia contra os 19 turcos chegou à Justiça, o Seref Kuru, de bandeira da Ilha de Malta e agora sob o comando de uma nova tripulação, deixou o porto de Paranaguá, carregado com 11 mil toneladas de açúcar, rumo ao porto de Douala, nos Camarões.

Entenda o caso

Ondobo disse às autoridades brasileiras que entrou clandestinamente no navio no porto de Douala, nos Camarões, no dia 13 de junho. Dias depois, sem água e comida, resolveu se entregar a tripulação. Segundo o MPF, a partir daí Ondobo afirmou ter sido agredido verbal e fisicamente, além de ser privado de sono e mantido em uma pequena cabine. Nos depoimentos, relatou chutes no peito e tapas no rosto que o teriam deixado desacordado.

Satilmis, que foi denunciado por racismo pelo MPF, teria dito a Ondobo que “não gostava de preto”, que para ele são “todos animais”. Durante o tempo em que permaneceu encarcerado a bordo, o camaronês recebia duas refeições diárias. À noite, tripulantes batiam na porta e na janela para evitar que ele dormisse.

Após 11 dias a bordo, por volta das 19h, Ondobo relatou ter recebido uma lanterna e 150 euros da tripulação e foi obrigado a saltar do navio. No mar, ele permaneceu por 11 horas à deriva boiando sobre um palete, estrutura de madeira usada no transporte de cargas que lhe foi atirado pela tripulação, até ser resgatado por um navio que vinha do Chile.

Em depoimentos à Polícia Federal, a tripulação do navio tentou negar o crime, mas indícios – como uma foto escondida por Ondobo no local onde foi mantido encarcerado – comprovaram a presença do camaronês a bordo.