Cidades da América Latina estão entre as mais perigosas do mundo, diz ONU
![Militares da Força de Pacificação são os vigilantes da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro - Daniel Ramalho/UOL](https://e.imguol.com/esporte/2012/03/19/militares-da-forca-de-pacificacao-sao-os-vigilantes-da-vila-cruzeiro-1332211877687_300x420.jpg)
As cidades da América Latina estão entre as mais perigosas do mundo, aponta estudo inédito da ONU que indica que a região tem as mais altas taxas de homicídio e criminalidade.
Muito acima da média mundial de sete homicídios para cada 100 mil habitantes, a região da América Latina e Caribe registra taxas de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, segundo o relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, lançado nesta terça-feira (21), no Rio de Janeiro.
“A violência e a delinquência se converteram, segundo as pesquisas de opinião, na principal preocupação dos cidadãos da região, junto com o desemprego, a corrupção e a pobreza”, destaca o estudo. Só no ano de 2008, morreram mais de 130 mil pessoas por armas de fogo na região.
O documento elaborado pelo ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos) associa os níveis mais altos de homicídios ao “baixo desenvolvimento humano e econômico e a grandes disparidades de renda entre a população”.
Incapacidade de resposta
O estudo ainda faz menção à aparição de milícias. “É preocupante a existência de grupos ilegais que, a partir de meios violentos e coercitivos, controlam territórios e populações, e tem uma crescente influência sobre o funcionamento das instituições”.
A insegurança repercute de forma negativa até mesmo na configuração dos espaços urbanos, “à medida que os cidadãos tendem a evitar áreas consideradas perigosas ou frequentá-las em determinados horários”.
O estudo discute ainda que, em casos extremos, o sentimento de temor pode acarretar na perda da prática da vida em comunidade, uma vez que “induz os indivíduos a isolarem-se em casa ou em condomínios fechados”.
Segundo a ONU, a criminalidade e a violência superaram a “capacidade de resposta” dos governos da região servindo como um “elemento desestabilizador”.
"Na pesquisa que fizemos com os 16 mil prefeitos de todos os municípios da região, todos apontam a segurança como uma prioridade. A violência é uma característica em geral da região", afirmou Erik Vittrup, oficial principal de Assentamentos Humanos da ONU Habitat, durante entrevista coletiva nesta tarde.
Pacificação das favelas
A experiência de pacificação das favelas cariocas recebe destaque no documento ao citar a existência do tráfico de drogas como “fonte para a violência organizada” no Rio de Janeiro.
As favelas – “comunidades pobres, muitas delas localizadas em morros, com péssimas condições de acesso e sem oferta adequada aos serviços sociais e de segurança pública” – têm suas crianças cooptadas por traficantes de drogas, informa o relatório.
Os moradores das favelas ficaram expostos por muitos anos à violência e sob o controle de bandos de criminosos que se apoderavam do território e “até proporcionavam serviços como a venda de botijão de gás ou televisão a cabo, administravam a Justiça penal e cobravam taxas por transações imobiliárias”, descreve o documento.
A ONU cita o caso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que foram instaladas em 2008 “para retomar os territórios sem violência”. E destaca ainda a introdução das UPP Sociais nas áreas já pacificadas, em 2011.
Até maio deste ano, 87 favelas já haviam sido pacificadas no Rio, beneficiando 300 mil habitantes. Segundo a ONU, esta iniciativa ajudou a “construir uma cidade mais segura e a integração destas áreas na cidade”.
"O Rio de Janeiro já foi das top ten mais inseguras. As cidades mais perigosas estão na Guatemala e México, especialmente na fronteira do México", Vittrup.
O representante da ONU afirmou que a experiência do Rio de Janeiro será foco de discussões no próximo Fórum Urbano Mundial, que acontece entre 1º e 7 de setembro em Nápoles, na Itália. “O Rio de Janeiro hoje é uma das cidades que viveu o maior recorde de redução da violência por meio da formatação de políticas urbanas”, afirmou Vittrup.
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