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Sem médicos, grávidas fazem peregrinação por atendimento em Natal; profissionais alertam para caos na saúde

Maria José aguardava atendimento da cunhada com sobrinha no colo em maternidade de Natal nesta quarta (12); médicos das unidades de saúde municipais entraram em greve por salários atrasados - Elendrea Cavalcante/UOL
Maria José aguardava atendimento da cunhada com sobrinha no colo em maternidade de Natal nesta quarta (12); médicos das unidades de saúde municipais entraram em greve por salários atrasados Imagem: Elendrea Cavalcante/UOL

Elendrea Cavalcante

Do UOL, em Natal

12/09/2012 18h41

Grávidas e pacientes que precisam de cuidados pré e pós-parto estão enfrentando uma verdadeira maratona em Natal. Além da greve dos técnicos da saúde, que já havia reduzido o quadro de atendimento nos hospitais e maternidades, profissionais da Coopmed (Cooperativa Médica do Rio Grande do Norte) também paralisaram suas atividades nesta quarta-feira (12). 

A greve acontece em virtude da dívida de R$ 5,2 milhões da Prefeitura de Natal com a Coopmed, o que resultou na falta de pagamento de 550 médicos que trabalharam nas unidades de saúde do município nos meses de maio, junho e julho deste ano.

Apesar de a greve atingir unidades de saúde de especialidades diversas, as maternidades e unidades pediátricas são as mais afetadas. Com o atendimento parcialmente suspenso, --por lei, 30% dos trabalhadores devem continuar com as atividades em caso de greve)--, a procura por atendimento vem causando lotação em outras maternidades da cidade, como a Santa Catarina, localizada na zona norte e que atende às pacientes da Grande Natal, e na Maternidade Januário Cicco, no bairro de Petrópolis, zona sul, gerenciada pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

A estudante Mikaela Araújo, 19, estava na tarde de hoje à espera de atendimento na Maternidade Santa Catarina para ter seu bebê. Ela disse que durante os últimos dias de gestação sentiu medo de ter o nascimento de seu filho prejudicado por conta da greve dos médicos da cooperativa, já anunciada dias antes. “Estou sentindo as dores do parto desde a madrugada. Não esperava ter meu filho nesta maternidade, mas é o jeito, já que ela ainda está pelo menos funcionando. As outras não estão atendendo”, contou.

Outros locais

A Maternidade de Felipe Camarão, localizada no bairro de mesmo nome, na zona oeste, está com exames e partos parcialmente suspensos pela falta de médicos. A estudante Adriana Silva, 22, procurou a unidade para fazer um ultrassom, mas não conseguiu. “Eu já deveria ter feito este exame, mas hoje não tem condições. Espero que esta greve acabe logo, senão vai prejudicar muitas mães ”, lamentou.

Na Maternidade das Quintas,  os serviços serão mantidos até o próximo dia 19 de setembro, de acordo com a escala dos profissionais. O presidente da Coopmed, Fernando Pinto, disse que a paralisação não foi decidida de uma hora para outra. Segundo ele, a prefeitura foi avisada há um mês de que caso não quitasse os débitos, a suspensão dos serviços ocorreria. “Podemos ter um colapso na saúde pública em Natal. Minha recomendação é para que as pessoas evitem sair de casa”, ressaltou.

No Hospital da Mulher, na zona norte de Natal, quem conseguiu atendimento comentou sobre o drama de quem não obteve. “Minha cunhada conseguiu ser atendida. Ela teve nenê há seis dias e teve que voltar hoje com a médica, mas vimos mulheres chegarem aqui e terem que procurar outro lugar para serem atendidas”, disse a dona de casa Maria José dos Santos.

“A partir de quinta-feira não poderemos oferecer um atendimento completo. Vamos ter que encaminhar as pacientes para outras unidades de saúde”, explicou o obstetra Luiz Azevedo, do Hospital da Mulher.

O diretor administrativo da unidade, Nick de Araújo disse que está trabalhando com os 30% dos profissionais, como manda a lei. E que a recomendação para quem chega até a unidade e precisa de atendimento de alta complexidade é que procure ajuda em outros locais. "Não paramos de atender, mas houve uma redução. Isso porque eu, como administrador aqui, estou puxando os médicos que estão no fim da escala e trazendo eles para frente para suprir essa necessidade. Posso dizer que hoje [quarta-feira] minha escala está arrumada. Amanhã e depois eu não sei".

Incluindo as maternidades e unidades pediátricas, no total, a suspensão dos atendimentos atinge 12 unidades de saúde municipais. São unidades que vão desde a clínica médica, à média e alta complexidade.

Prefeitura

A secretária de saúde do município, Maria do Perpétuo Socorro Lima, informou que a prefeitura realizou na terça-feira (11) o pagamento de R$ 1,4 milhão à Coopmed, referente aos débitos do mês de maio.

Segundo ela, até a próxima sexta-feira (14) será efetuado o pagamento de mais R$ 3 milhões. “Nossa proposta é pagar até o dia 21 deste mês o equivalente a 80% da dívida com as cooperativas. Sabemos que é difícil trabalhar sem receber, mas apelamos para o bom senso dos profissionais de saúde para que trabalhem e nos deem mais este prazo, para que possamos impedir o caos”.